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Comunicação

Preto Zezé: agenda de sentimentos positivos e potência

Presidente da Central Única das Favelas defende diálogo e mudança de percepção para combater desigualdades


12 de janeiro de 2022 - 10h24

Presidente da Central Única das Favelas (Cufa) – entidade fundada em 1999 e que atua em cinco mil favelas de todo o Brasil – Preto Zezé é o único morador negro de um prédio no Itaim, em São Paulo, e uma das principais vozes do movimento antirracista no Brasil.

 

Preto Zezé (Crédito: Eduardo Lopes/Imagem Paulista)

No seu dia-a-dia, recorre ao que chama de “constrangimento pedagógico” para corrigir situações como ser barrado na portaria do edifício onde reside. Mesmo empenhado em encarar o futuro com otimismo, se reconhece pessimista com a realidade atual, na qual a desigualdade social é agravada pelos efeitos da pandemia.

Em entrevista ao Meio & Mensagem, o presidente da Cufa aborda como as empresas podem lidar com o desafio de colocar em práticas os trabalhos sociais (o ‘S’ da sigla ESG) e aborda a necessidade de uma mudança de olhar, por parte do mercado, em relação às favelas e seus consumidores, sobretudo em uma situação de desigualdade ainda mais acirrada pela pandemia e suas consequências. A íntegra da entrevista está disponível na edição 1982 de Meio & Mensagem. Confirma, abaixo, alguns trechos:

Meio & Mensagem: A indústria de comunicação está, de fato, mais atenta às práticas ESG? Há mudanças reais, para além dos discursos?
Preto Zezé — Observo que tem o interesse real, embora ainda haja muito desconhecimento sobre a importância de dialogar com as organizações da sociedade. A Favela Holding, por exemplo, dirigida pelo Celso Athayde e parceira da Cufa, capitaneia uma rede de empresas que desenvolvem negócios somente dentro das favelas. Esses negócios acabam sendo mantenedores da Cufa. Quando conectamos ali uma empresa para construir uma política de ESG, o maior desafio, sem dúvida, é o do “S”, do social, diante das desigualdades que temos no Brasil. Então, nós estamos trabalhando junto às empresas para conectar mudanças de valores com ações práticas. Se não, mudam-se os valores, mas erra-se na implementação. As empresas precisam de um movimento para dentro, na questão da mudança de valores e de estruturas corporativas; depois, de fazerem investimentos em suas cadeias de fornecedores, para que incorporem os mesmos valores; e, externamente, de ações de empoderamento e fortalecimento na sociedade, que dialoguem com esses valores. Quando esse tripé está pronto, a empresa consegue fazer com que sua marca, produto ou serviço tenha mais aderência às práticas ESG.

(Crédito: Eduardo Lopes/Imagem Paulista)

M&M — Considerando que quem toma decisões no mercado de marketing e publicidade ainda é um grupo pouco diverso, por mais que os esforços recentes tenham gerado efeitos positivos, como você avalia a comunicação das marcas no Brasil?
Preto Zezé — Vejo uma disposição para a mudança, porque a sociedade agora está mais vigilante e tem mais conteúdo para avaliar. Há a percepção de que não dá mais para consumir uma marca sem questionar qual a responsabilidade dela com a vida do consumidor. Esse clima é favorável para estabelecer políticas que construam compliance nas empresas, com compromissos com a agenda ESG. O Brasil é um país de desafios enormes em todas as áreas do ESG. Por isso, as empresas também têm aqui um desafio maior: ou se preparam e fazem algo concreto, para valer, ou o discurso vai derreter na primeira tentativa.

M&M: Além das questões da pauta ESG, há uma massa de consumo nas favelas ainda ignorada pelas marcas? O que as empresas devem fazer para olhar a contribuição social e a abordagem aos consumidores?
Preto Zezé — A primeira coisa é mudar a premissa do olhar. Não olhar aquela pessoa e território só como carentes e lugar de tragédias. Assim, muda-se a perspectiva. A segunda é perceber esses lugares como locais de investimento, conjugando o econômico com o social. Muitas vezes, há uma briga nas empresas entre o marketing e a responsabilidade social, para ver de onde sai o dinheiro para alguma ação. Aí, fica todo mundo com medo de botar o interesse comercial na conta. Mas é interesse comercial quando uma empresa de barbeador patrocina uma Taça das Favelas. Ela quer dialogar com aquele público de 15 a 17 anos que vai começar a fazer barba. Viabilizou uma mobilização através do esporte, e, ao mesmo tempo, fez o seu marketing no processo. Fez com que as questões da economia, do desenvolvimento e da mobilização da sociedade tivessem conjugadas no mesmo momento.

M&M — Em 2022, claro que não será possível resolver todo o atraso em inclusão social e racial. No que é viável, quais as prioridades?
Preto Zezé — Durante a pandemia, todo mundo, dentro do seu ambiente, descobriu que é mais forte do que imaginava. Esse foi o principal ativo que acumulamos. Agora, o desafio é como conectar as inteligências e competências produzidas nesse período para resolver problemas agravados, devido a questões econômicas e sanitárias. Penso que vamos conseguir grandes soluções para momentos difíceis em 2022, que será um ano muito duro, em que vamos viver muitas coisas, pois está tudo represado. Teremos que criar ambiências em que essas inteligências dialoguem umas com as outras. E que a gente possa construir um consenso em torno de saberes e agendas comuns entre nós. Espero que, com a nossa diversidade, a gente consiga encontrar algo comum que possa produzir um País melhor. Vamos ter que tomar uma decisão: ficar acumulando receitas e achando que será possível construir um Brasil desigual e injusto como a gente tem ou vamos dividir riquezas e oportunidades? Do contrário, vamos, infelizmente, compartilhar grandes tragédias. Sou pessimista do que vejo, do ponto de vista concreto, mas muito otimista de que a gente está mais forte para enfrentar os desafios que estão vindo. Olhar positivamente não é negar a realidade. O Brasil é um país “xingacionista”. Mas chama para uma reunião de condomínio… não vai ninguém. Como a gente engaja e investe nas emoções positivas? Temos de introduzir uma agenda de sentimentos positivos, apostando na potência.

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