Isobar contrata Elsinho Mouco, marqueteiro do presidente Temer

Alexandre Zaghi Lemos
23 de agosto de 2017 - 21h48

Elsinho Mouco, marqueteiro do presidente Michel Temer, foi contratado neste mês como diretor de conteúdo e atendimento pela Isobar, agência que atende parte da conta digital da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom).

Segundo comunicado oficial da Isobar, “Elsinho Mouco foi contratado pela agência por sua experiência e qualificação como profissional de marketing e comunicação pública”, “em substituição a outro profissional, também reconhecido por sua experiência em comunicação, Daniel Braga” – Braga também tem experiência na área do marketing político e eleitoral, ele foi o coordenador digital na campanha vitoriosa de João Doria a prefeitura de São Paulo, no ano passado.

Novo contratado da Isobar, Elsinho Mouco é o principal conselheiro de comunicação de Michel Temer, sendo responsável por cuidar dos pronunciamentos oficiais do presidente na mídia, embora não seja contratado do governo federal. Marqueteiro do presidente desde 2002, quando Temer foi eleito deputado federal, Elsinho é também o criador da marca da atual gestão, que destaca os dizeres da bandeira nacional: “ordem e progresso”.

A Isobar foi uma das vencedoras da concorrência pela conta digital da Secom, encerrada no início de 2015. Desde então, divide o atendimento com a TV1.com, que já prestava serviços ao governo federal desde 2009. No edital de 2015, a previsão de verba era de R$ 45 milhões anuais, com atualização possível até o limite de 25% e contratos renováveis por, no máximo, cinco anos. A Isobar atende outras contas digitais de anunciantes do governo federal, como Banco do Brasil e Embratur. A agência integra o grupo Dentsu Aegis Network, que também controla a NBS, que já atendia contas do governo federal, como Petrobras e BR Distribuidora, e acaba de ser uma das três vencedoras da licitação pela verba publicitária de R$ 208 milhões anuais da Secom, que dividirá com Artplan e Calia.

Elsinho Mouco é irmão de Gustavo Mouco, um dos sócios da agência Calia, que tem no Governo Federal seu maior cliente. Antes de vencer a licitação da Secom, a Calia já atendia as contas dos Ministérios da Saúde e do Esporte. Em sua página no Facebook, respondendo a uma reportagem da revista Veja, publicada em dezembro, Elsinho rebateu as “insinuações” de favorecimento à Calia: “O texto dá a entender, ou no mínimo levanta a suspeita, de que a Calia Propaganda e Marketing foi uma das 4 agências vencedoras da última licitação da conta do Ministério da Saúde, por ter como sócio o meu irmão, Gustavo Mouco, e, por ser eu, amigo de longa data do presidente Michel Temer. O fato é que, para ser bem preciso, a Calia já participou, nos últimos seis anos, de setenta e nove licitações públicas. Dessas concorrências, só foi uma das agências selecionadas em 3 ocasiões: em duas delas para atender ao Ministério da Saúde e outra para prestar serviços à Terracap, empresa do Distrito Federal. Ressalto que nesse período Temer já exercia cargo de comando e, portanto, fica claro de que não houve, em nenhum momento, qualquer tipo de vantagem advinda do meu relacionamento. As contas foram sempre conquistadas por mérito, por experiência acumulada nessa longa caminhada. Hoje, por acompanhar o trabalho da Calia, tenho a percepção de que a agência reúne staff e capacidade para atender a qualquer empresa, seja ela pública ou privada”

O blog da jornalista Andréia Sadi, no G1, que revelou a contratação de Elsinho Mouco pela Isobar, informa nesta quarta-feira, 23, que o presidente Michel Temer esteve pessoalmente na sede da Isobar, em Brasília, na noite de terça-feira, 22, para cuidar da estratégia digital do governo. O blog também publica declarações oficiais da Isobar, negando que a contratação de Elsinho represente conflito de interesses. A agência diz que “não há quaisquer impedimentos legais para que o profissional exerça a função para a qual foi contratado e nada tem de inconstitucional nessa contratação”.

Em maio, Elsinho Mouco foi citado na delação premiada de Joesley Batista. O empresário dono da JBS acusou o marqueteiro de receber propina de R$ 3,3 milhões nas eleições de 2010 e 2016. Na época, Elsinho se defendeu em nota à imprensa, em que diz que possui “relação com o grupo JBS desde 2010, quando fui procurado para desenvolver trabalho de marketing político para a pre-candidatura ao governo de Goiás de um de seus sócios, Júnior Batista, que vem a ser irmão de Joesley” e que “em 2014 fui novamente contratado com o mesmo objetivo, mas, pela segunda vez, Junior desistiu da candidatura”.