Os passos do Sleeping Giants Brasil em 2021

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Os passos do Sleeping Giants Brasil em 2021

Em entrevista, autores do perfil falam sobre a intenção de ampliar os trabalhos para auxiliar na conscientização dos anunciantes sobre questão de brand safety


15 de dezembro de 2020 - 12h08

Leonardo de Carvalho e Mayara Stelle são os criadores do perfil Sleeping Giants Brasil, que conta com mais de 417 mil seguidores (Crédito: : Diego K. Ribeiro)

Após mais de sete meses trabalhando sob anonimato, Leonardo de Carvalho e Mayara Stelle decidiram mostrar que são os rostos (e a ideia) por trás do Sleeping Giants Brasil, perfil criado no Twitter no início de maio deste ano que, assim como a versão internacional, buscava alertar marcas e anunciantes quando seus anúncios publicitários eram distribuídos em sites de baixa credibilidade ou em páginas propagadoras de conteúdos ofensivos.

A revelação da identidade dos jovens (ambos de 22 anos, da cidade de Ponta Grossa, no Paraná) foi realizada em entrevista concedida à Folha neste domingo, 13, na coluna da jornalista Monica Bergamo. Estudantes de Direito, o casal de namorados contou que a ideia de criar o perfil surgiu após pesquisas sobre o trabalho do perfil internacional do Sleeping Giants e o mecanismo de financiamento de fake news.

Até então pouco entendidos do universo de mídia programática, publicidade e distribuição de anúncios online, Mayara e Leonardo passaram a se aproximar do tema e, agora, pretendem expandir a atuação da versão brasileira do Sleeping Giants, com a função de continuar alertando os anunciantes a respeito da importância de acompanhar todos os ambientes em que seus anúncios e ações publicitárias podem ser distribuídos.

A respeito desse assunto e de todo o trabalho realizado pelo perfil ao longo deste ano, o casal conversou com a reportagem de Meio & Mensagem nesta segunda-feira, 14. Leonardo e Mayara adiantaram que lançarão uma campanha de crowdfunding para conseguir ampliar a equipe e os trabalhos do perfil em 2021.

Meio & Mensagem — Como vocês se aproximaram dos temas de mídia programática e publicidade digital e, a partir daí, tiveram a ideia de criar a versão brasileira do Sleeping Giants?
Leonardo — Durante a pandemia, começamos a pesquisar sobre os temas para nosso TCC (ambos estão no sétimo período do curso de Direito). Eu já havia decidido fazer um trabalho sobre fake news e apresentei a ideia à Mayara. Como já fazemos tudo juntos – faculdade, curso, tudo – decidimos também fazer o TCC juntos. Foi quando encontrei uma reportagem do El Pais sobre o trabalho do Sleeping Giants. Lembro que era uma segunda-feira e já conversei com ela e pesquisamos que era algo fácil de ser reproduzido. Assim, imediatamente criamos o perfil.

M&M — Vocês tiveram contato com os criadores da página internacional do Sleeping Giants?
Mayara — O Sleeping Giants atua de forma independente nos demais países. Não é necessária uma autorização do perfil dos Estados Unidos para a criação de um local. Mas, por conta da repercussão, o Matt Rivitz (criador do perfil nos EUA) entrou em contato com nosso perfil logo no primeiro dia e, assustado, perguntou: “Meu Deus, o que vocês estão fazendo?”. Explicamos a ele qual era a intenção, que queríamos fazer uma provocação a respeito do financiamento indevido de fake news no Brasil e ele nos apoiou e nos deu algumas dicas. De vez em quando, ainda conversamos com ele e com a equipe. Hoje, o perfil do Sleeping Giants Brasil já conta com mais seguidores do que o internacional (o brasileiro passou dos 417 mil seguidores, enquanto o estadunidense alcançou 308,9 mil seguidores).

M&M — Assim que o perfil foi criado e começou a alertar marcas a respeito da localização de seus anúncios, muitas empresas responderam de forma rápida, até agradecendo ao alerta e prometendo remover os anúncios. Vocês esperavam essas respostas rápidas? 
Mayara — Não esperávamos tantas respostas positivas por parte das marcas logo no início, mas quando começamos a ver tantas – e de forma frequente – foi demonstrado que as empresas se preocupam com essa questão e, talvez, nem soubessem que estavam, indiretamente, contribuindo para a indústria desinformativa até o Sleeping Giants jogar luz nisso. Essa questão de como funciona a publicidade no ambiente digital é difícil de explicar e foi até difícil para compreendermos, no início. As pessoas ainda imaginam que as marcas controlam todos os ambientes em que elas estão anunciando e, hoje em dia, não é mais assim. As empresas confiam em gigantes da internet para distribuir a publicidade e, se isso não for bem orientado e segmentado, não adianta. É um debate muito novo e, no Sleeping, partimos sempre da ideia de que a empresa não sabe que seus anúncios estão em sites inadequados e chegamos sempre com a proposta de dialogar com elas e não de acusá-las. Tivemos, nesse período, uma taxa de 86% de respostas positivas das marcas com quem o perfil interagiu, que nos responderam e prometeram tirar os anúncios dos sites apontados.

M&M — Vocês chegaram a ser procurados, de forma privada, por marcas nesse período? Chegaram a travar algum diálogo com as empresas?
Mayara — O anonimato tem prós e contras e um dos contras era não poder entrar em contato com as empresas e não poder ajudá-las com esse trabalho. Não tínhamos esse contato, até para preservar nossas identidades. Há empresas que não responderam ao perfil publicamente, mas que retiraram os anúncios dos sites indicados pelo Sleeping Giants. Talvez, elas não tenham respondido por medo de represálias ou até mesmo por medo de quem estava por trás do perfil.

Leonardo — Claro que o anonimato atrapalha um pouco nesse sentido, mas acredito que se tivéssemos criado um perfil chamado “Leo e Mayara” não teríamos esse alcance e nem teríamos criado um movimento que já engajou mais de 700 empresas e desmonetizou mais de R$ 1,5 milhão. E, embora sejamos os administradores da página, o Sleeping Giants acaba sendo todos os consumidores e todo mundo que compartilha, que dá RT e que cobra respostas. E as próprias empresas que participam do movimento acabam sendo Sleeping Giants também. É bom sair do anonimato para mostrar até que o projeto só acontece pela força do coletivo.

M&M — Em junho deste ano tivemos o #StopHateForProfit, um movimento criado por entidades de direitos civis dos Estados Unidos que propunham a grandes anunciantes que interrompessem a veiculação de publicidade no Facebook para pressionar uma reavaliação do combate aos discursos de ódio. Como veem esse aumento das discussões em torno de brand safety?
Leonardo — O #StopHateForProfit foi um marco no ativismo digital. Não imaginávamos que teria tanta força (o movimento ganhou a adesão de milhares de marcas, em todo o mundo). Não houve um boicote, mas sim uma forma de dizer às redes sociais que as empresas não concordam com suas políticas em combate ao discurso de ódio. Antes, com a mídia tradicional, na TV, no rádio, a marca sabia o que ela estava monetizando, hoje, já não é mais assim. Ficamos felizes com esse debate sobre a responsabilidade das plataformas em relação aos conteúdos e esperamos que ele cresça cada vez mais porque todos estamos em busca de um ambiente digital mais saudável.

M&M — Nesse período, vocês tentaram algum contato com as plataformas (redes sociais) e empresas de mídia programática para também ampliar o diálogo sobre segurança no ambiente digital?
Mayara — Por enquanto ainda não por essa pequena estrutura de duas pessoas (risos). Chegamos há pouco tempo, fizemos muito barulho e tivemos muita força. Mas isso é algo, sim, a se pensar para o futuro do Sleeping Giants. Mas admiramos quem está atuando nesse debate e esperamos que as plataformas que essas empresas tomem mais cuidado com os conteúdos que elas admitem ali dentro.

M&M — Há projetos de ampliar a estrutura do Sleeping giants? Vocês pensam em fazer parcerias com empresas?
Mayara — Agora, saindo do anonimato, podemos falar quais são os planos futuros do Sleeping Giants. Sim, queremos fazer a estrutura crescer, contratando uma equipe para nos ajudar nesse projeto. Chegamos até aqui sem nenhum recurso, além do poder coletivo das pessoas que se dispuseram a nos ajudar. Mas sabemos que precisamos de dinheiro para poder financiar os projetos que queremos e ter uma estrutura maior. Pensamos em lançar uma campanha de crowdfunding nos próximos dias para, a partir dai, começar a pensar em como estruturar o Sleeping Giants daqui para a frente. Sobre as parcerias: ainda não tem nada estruturado, mas estamos pensando em tornar uma das recompensas do crowdfunding uma parceria com uma empresa, em que ela nos doe algo e, em seguida, receba algum tipo de conteúdo da nossa parte.

M&M — Quais medidas as marcas podem tomar para tentar ter um controle maior sobre o alcance de seus anúncios?
Mayara — É importante cuidar de todas as pontas da publicidade e, principalmente, cobrar das plataformas para que fiscalizem melhor os sites que integram o ad sense. Também acho importante lembrar sobre os termos de uso. Muitas plataformas aceitam usuários que estão descumprindo termos de uso e não os fiscalizam.

Leonardo — O cuidado que uma marca deve ter ao anunciar na internet deve ser o mesmo que ela tem ao anunciar na TV, no rádio, em outdoor. Essa é a principal mensagem. Infelizmente, não dá para deixar apenas nas mãos das plataformas e da mídia programática. O objetivo do Sleeping Giants, a longo prazo, é que não seja mais necessária a existência de um movimento que alerte as empresas sobre a presença de seus anúncios em sites de fake news. Esperamos que, um dia, não seja mais necessário perder tempo combatendo isso.

M&M — E o que planejam para o perfil em 2021?
Mayara — Queremos crescer, continuar o trabalho de fiscalização para as marcas e, quem sabe, abrir um diálogo com as plataformas e com as próprias empresas em torno da importância desse cuidado no ambiente digital.

Leonardo — A ideia é que estruturemos o projeto para conseguir alertar mais empresas e ampliar essa conscientização para que, juntos, empresas, consumidores e Sleeping Giants, consigamos fazer com que a democracia seja mais estável. O Sleeping tem apenas sete meses e não pararemos até que não tenhamos mais necessidade de existir.

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