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Um Requiem para a Playboy em seu auge

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Mídia

Um Requiem para a Playboy em seu auge

Enquanto a revista icônica se prepara para mostrar menos, um tributo para o seu lugar na cultura


15 de outubro de 2015 - 8h02

Por Simon Dumenco, do AdAge

É difícil mensurar o quanto a Playboy mudou a cultura americana.

Não apenas a cultura sexual – como alguns dos que são jovens demais para lembrar tendem a saber implicitamente – mas a cultura de mídia, a cultura jornalística, a cultura pop.

Vale a pena ter isso em mente dado ao anúncio que a revista fez segunda de que, a partir da sua edição de março de 2016, vai eliminar as fotos de mulheres nuas, com as bençãos do fundador Hugh Hefner.

Então, sabe aquela velha desculpa dos homens, que dizem que leem a Playboy pelos artigos, para justificarem o porquê de ter comprado a revista? O plano é fazer que isso seja, bem obrigatório.

Honestamente, porém, muitos homens (e mulheres) realmente liam a revista pelos artigos. Como um dos principais mercados para a literatura de ficção por décadas, a Playboy publicou a Who’s Who of letters, incluindo John Updike, Joyce Carol Oates, John Cheever, Nadine Gordminer, Vladimir Nabokov, Kurt Vonnegut e Saul Bellow. As “Playboy Interview”, entrevistas em profundidade da revista, foram lugares para conversas inteligentes com todo mundo, de Allen Ginsberg e Bob Dylan a Fidel Castro e Jimmy Carter – sendo que o último teve uma fala famosa para a revista durante a sua campanha para presidente em 1976, que dizia “eu cometi adultério muitas vezes na minha mente.” (Até mesmo o meu pai, um católico conservador, comprou essa edição, como eu descobri anos depois; ela acabou enterrada em uma caixa com várias de suas coisas depois de sua morte.)

Como uma das grandes revistas americanas durante o seu apogeu brilhante, a Playboy não era apenas um must-read para o homem moderno (no seu auge, a circulação atingiu mais de cinco milhões de cópias), ela transcendeu completamente as suas páginas. A Playboy não era apenas uma revista, era um movimento.

Com o seu misto de diversão inteligente e irreverente, a Playboy teve uma aura que permitiu a Hefner ser um pioneiro em brand marketing (o icônico logo de coelhinho), event marketing (pensa de todas aquelas festas lotadas de celebridades na Mansão Playboy) e lifestyle marketing (se você fosse um leitor Playboy, você estava comprando uma certa mentalidade livre e mundana).

A Playboy, mesmo que tenha perdido a sua posição central no Zeitgeist ao longo dos anos, permaneceu uma revista muito boa. Eu tenho amigos e colegas que trabalharam lá e escreveram para ela (eu mesmo contribui com uma reportagem especial uma vez – sobre as grandes brigas da literatura, como a entre Norman Mailer vs Tom Wolfe).

Dito isso, é muito difícil apreciar as ótimas coisas na Playboy basicamente porque, bem, o gosto de Hugh Hefner em mulheres ficou esquisito pra caramba. Considerando que uma vez ele defendeu um certo tipo de beleza selvagem (lembre-se que a Marilyn Monroe foi capa da primeira edição da revista, em dezembro de 1953), com o tempo ela se tornou uma revista que é, basicamente, um livro de curso para fetichistas do photoshop. Olhar a pinup básica da Playboy – um simulacro cirurgicamente e digitalmente alterado da feminilidade – era como entrar no Uncannt Valley.

Todo mundo na Playboy percebia isso – exceto Hef.

Em dezembro de 2013, a Playboy patrocinou uma conferência de um dia da Ad Age, “marketing para Homens”, na qual Cooper, filho de Hef, então com 22 anos, disse como “entrar no negócio da família era um caminho interessante, para dizer o mínimo”. Um artigo patrocinado pela Playboy do evento observou que: “ao decidir se iria seguir os passos do pai quando entrava na faculdade, Hefner disse que ele se debruçou sobre os scrapbooks meticulosamente mantidos pelo seu pai – cerca de 2.500 volumes de correspondência, fotografias e outros materiais históricos dos arquivos da Playboy. ‘Eu fiquei deslumbrado com o que encontrei’, disse. Ele encontrou fotos de John Lennon, Frank Sinatra e Mick Jagger na Mansão da Playboy, e leu cartas para o pai de Martin Luther King Jr. e do presidente Ronald Reagan, abrindo seus olhos para a extensão da intersecção que a Playboy teve com a história cultural e política moderna. Revisitar o passado da Playboy, Hefner disse, determinou a sua decisão de ajudar a levar a marca da Playboy para o futuro ‘Re-introduzindo o coelhinho que representava aquele algo a mais – algo importante – se tornou meu objetivo.’”

Então, o que o coelho da Playboy representa hoje, sem as mulheres nuas? Nós estamos prestes a descobrir.

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