Você e os robôs no mercado de trabalho do futuro

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Opinião

Você e os robôs no mercado de trabalho do futuro

Um manual para entender melhor seu próximo colega de trabalho


4 de maio de 2017 - 11h39

Robôs: se você não pode vencê-los, junte-se a eles… Crédito: Devrimb-iStock

Pesquisas apontam que nos próximos anos os robôs estarão cada vez mais presentes em nossas vidas. Será que os robôs vão realmente roubar nossos empregos? Estudos afirmam que sim, mas muitos novos empregos surgirão. Já imaginou você tendo um chefe robô? E qual é a saída? Qual é a sua responsabilidade nisso? Existem realmente transformações radicais já acontecendo que estão impactando o nosso cotidiano. Vamos analisar aqui vários conceitos e fatos a respeito da entrada dos robôs no mercado de trabalho. Você vai descobrir que o seu futuro está em suas mãos.

AS EVIDÊNCIAS DE QUE ELES ESTÃO CHEGANDO
A C&S (C&C Wholesale Grocers Inc.) é a maior distribuidora por atacado para supermercado nos Estados Unidos. No seu centro de distribuição em Newburgh, New York, mais de 100 robôs transitam livremente pelos corredores. Com 71 cm de largura, as máquinas podem trafegar por corredores muito mais estreitos que os de armazéns convencionais, permitindo a estocagem de um número maior de produtos. Os robôs, que parecem karts sem motoristas e se comunicam por sensores e redes sem fio, alcançam velocidades de 40km/h no escuro e utilizam braços mecânicos portáteis para colocar ou retirar caixas de prateleiras a um ritmo de 1 caixa por minuto, quase 5 vezes mais rápido do que os humanos costumam fazer.

Dois hospitais na Bélgica já utilizam o robô humanóide Pepper para auxiliar seus pacientes. No hospital CHR Citadelle, na cidade de Liege, ele está na recepção cadastrando novos pacientes, mas no AZ Damiaan em Ostend, ele também guia os pacientes até os departamentos corretos. Os dois hospitais utilizam um outro robô em suas alas pediátricas e geriátricas, é o Nao. O robô auxilia as crianças e idosos em sessões de exercício e fisioterapia, e também ajuda as crianças a superar o medo de cirurgias. Em alguns casos, as crianças podem levar o Nao até a sala de operações com elas.

A área hospitalar é um grande potencial para robôs. O hospital Mount Elizabeth Novena adotou uma enfermeira automatizada para monitorar os sistemas vitais dos pacientes em sua unidade de terapia intensiva. Usando a tecnologia Watson de inteligência artificial, a enfermeira-robô combina informações de indicadores como pressão sanguínea e o batimento cardíaco e usa um algoritmo para calcular o risco de que as condições dos pacientes piorem. Até então, esse trabalho requeria integração e total interpretação humana, agora os dados analíticos ajudam a conduzir isso.

Na abertura da Olimpíada de 2016, no Rio, a atleta paralímpica Amy Purdy nos brindou com um momento emblemático ao dançar com um robô em pleno Maracanã. O que as pessoas não sabiam é que esse robô é um exemplo do que existe de mais moderno em termos de robôs articulados. Por exemplo, tais máquinas podem autonomamente lidar com uma ampla variedade de tarefas nas linhas de produção das fábricas, atividades complexas e de alto risco, incluindo soldagem, pintura e montagem. Longe de ser um nome familiar, o robô que dançou nas olimpíadas é da empresa alemã Kuka, líder global na fabricação de robôs articulados.

No estado norte-americano de Virgínia, o Hotel Hilton McLean Tyson Corner tem uma surpresa para os visitantes. Na recepção, os hóspedes podem interagir com o Connie, um concierge robótico com altura de 60 centímetros, batizado em homenagem a Conrad Hilton, o fundador da rede de hotéis. Connie usa o raciocínio cognitivo do sistema Watson para responder questões básicas, pelo menos por enquanto, sobre os serviços do hotel. Ele pode informar, por exemplo, onde fica a academia e a que horas fecha o bar.

No hotel Aloft, em Cupertino, Califórnia, os hóspedes que pedem uma escova de dentes ou um barbeador na recepção vão se deparar com o Botlr quando abrirem a porta do quarto para receber a entrega. Botlr é um atendente baixo e desprovido de expressões faciais. Nem Botlr, nem Connie, se importam se não receberem gorjeta.

A Toyota anunciou que vai lançar em 2017 um robô falante, de 10 centímetros, chamado de Kirobo Mini e que será vendido no Japão por pouco menos de 400 dólares. A empresa divulgou que esse robô terá uma inteligência equivalente à de uma criança de 5 anos e pode aprender frases e reconhecer expressões faciais graças a sensores e uma câmera integrados. Essa é a primeira incursão da Toyota no mercado de robôs para uso doméstico, sinalizando que muitas empresas enxergam o mercado doméstico para robôs como um grande potencial. Vale dizer que o Japão é o país que mais investe em robôs acompanhantes, como o Pepper, do Softbank e o Palro, da Fujisoft, um robô compacto humanóide que canta e dança. No entanto, a procura por robôs ainda está concentrada em entusiastas de robótica e nas casas de assistência a idosos, este sim é um mercado crescente.

Todos os casos citados mostram que os robôs e as tecnologias cognitivas estão invadindo o nosso cotidiano. Mas não é só isso, acrescente tecnologias como realidade virtual, impressão 3D, engenharia genética, drones, novas fontes de energia, internet das coisas, big data, nanotecnologia, e aí as transformações serão ainda mais radicais e profundas. Evitar o inevitável é perda de tempo. Na próxima década viveremos a maior transformação que a sociedade humana já passou.

A PERGUNTA FUNDAMENTAL
Quanto à pergunta: as máquinas estão eliminando atividades humanas, incluindo empregos? A resposta é simples: sim! Nem dá para responder diferente, mas a afirmação simplista de que os robôs destroem empregos e aniquilam o mercado de trabalho é questionável. O que dizer dos ATMs automáticos que substituem agências completas? E a reserva de voos que você faz no celular sem precisar de agências de viagem? E as vacinas de prevenção de doenças que diminuem a demanda por médicos? E os robôs super especializados que ajudam médicos nas cirurgias de precisão eliminando auxiliares? E o carro autônomo que vem por aí que dispensará motoristas? Podemos listar uma penca de perguntas que justificam a tecnologia “destruindo” trabalhos de seres humanos. Lembra do automóvel que destruiu toda indústria de carruagens no início do século passado? Pois é.

Mas, por incrível que isso possa aparecer, a discussão da tecnologia roubando empregos ainda é recorrente, até interminável, ocupando espaço constante na mídia. A verdade é que todas as tecnologias afetam a sociedade e o mercado de trabalho, mas por que hoje a discussão está tão concentrada nos robôs e na inteligência artificial

CRIANDO BARREIRAS
Recentemente, li um artigo surpreendente informando que Bill Gates sugere um ação preventiva a respeito da chegada dos robôs no mercado de trabalho. Sua recomendação é a incidência de impostos sobre os robôs e a inteligência artificial para compensar perdas de empregos dos humanos. Chega a ser inacreditável ler uma afirmação como essa, ainda mais tendo origem num dos mais representativos ícones de inovação das últimas décadas. Aumentar a tributação sobre esse campo da inovação não apenas inibiria o progresso, mas desestimularia o desenvolvimento de tecnologias e sistemas capazes de melhorar a vida cotidiana. Sobre essa questão, ainda teríamos uma pergunta sem resposta: que tipo de robô seria taxado? Somente aqueles com braços e pernas mecânicas ou um aplicativo cognitivo já entraria na lista?

Como afirma David Kenny em seu excelente artigo na Wired, imagine onde estaríamos hoje se os políticos, temendo o desconhecido, tivessem taxado febrilmente o software de computadores pessoais para proteger a indústria da máquina de escrever, ou aplicassem impostos sobre as câmeras digitais para preservar os empregos dos técnicos das salas escuras. Simplesmente não há provas de que a cobrança de impostos sobre a tecnologia proteja os trabalhadores. É apenas uma forma de procrastinar as mudanças.

Essa proposta do Bill Gates me fez lembrar uma situação curiosa que acontece na minha cidade. No Rio de Janeiro, existe uma lei municipal que protege determinados empregos, como frentistas e ascensoristas, que são evidentemente profissões pressionadas pelas novas tecnologias e que não existirão mais em algum momento. Será que isso faz realmente sentido? A curto prazo talvez, mas a médio e longo prazo os impostos e as leis restritivas são recursos inadequados.

A RELAÇÃO HOMEM – MÁQUINA

 

Será que essa novas associações de humanos e máquinas criarão empregos suficientes para compensar aqueles perdidos devido à automação? (Crédito: Reprodução)

A introdução dos robôs está exigindo que as pessoas exerçam novos papeis na relação homem e máquina. Um antropólogo chamado Benjamim Shestakofsky conduziu uma pesquisa durante os 19 meses que passou dentro de uma empresa na Califórnia que usa tecnologias digitais. O objetivo de sua pesquisa era mostrar como as máquinas estavam substituindo os trabalhadores humanos. Porém, quando ele fez a análise de dados básicos, percebeu que a empresa estava crescendo tão rápido, adotando sistemas mais complexos, que estava contratando mais seres humanos, e não robôs, para monitorar, gerenciar e interpretar os dados. Novas necessidades e novas funções surgiram, exigindo profissionais humanos mais qualificados e com conhecimento específico. No final do estudo, o antropólogo foi surpreendido ao descobrir que a automação de software realmente pode substituir o trabalho, mas também cria novas complementaridades homem máquina. Ou seja, as empresas estão criando novos tipos de empregos em função da introdução de novas tecnologias.

Podemos então entrar em outra discussão: será que essa novas associações de humanos e máquinas criarão empregos suficientes para compensar aqueles perdidos devido à automação? Essa é ainda uma pergunta sem resposta, mas válida. Mas as perguntas que mais me incomodam são outras. Quais empregos? Que conhecimento e competências serão necessários para os novos empregos que estão surgindo e ainda surgirão? Estou preparado para lidar com isso ou estou fadado a ser substituído por um robô?

MEU COLEGA DE TRABALHO É UM ROBÔ
Uma pesquisa conduzida pela Expert Market revelou que 70% dos gestores considerariam a possibilidade de usar um robô em sua equipe e 47% não se sentiriam culpados em substituir um funcionário humano por um autômato. Isso é um sinal de que as coisas estão realmente mudando, de que a ideia de trabalhar ao lado de um robô já não assusta tanto, pelo menos não é mais uma barreira para adoção de tal tecnologia. Mas essa mesma pesquisa, bem como outras já publicadas no mercado, indicam que os líderes têm a percepção de que os robôs parecem inadequados para lidar com emoção e criatividade, características intimamente conectadas a algumas profissões, como marketing e design. Em geral, a inteligência emocional é fundamental na maioria das atividades. Não é por acaso que as pessoas com alta inteligência emocional se destacam na interação interpessoal e tem mais chance de alcançar o sucesso profissional. Pelo que conhecemos hoje, os robôs mais avançados de inteligência artificial não tem empatia.

OS ROBÔS QUE PENSAM
Tenho a percepção de que as pessoas ainda imaginam os robôs à moda antiga. As novas máquinas não são autômatos simples e não são mais exclusividade das linhas de montagem e ambientes fabris, habitualmente tomadas por atividades repetitivas e previsíveis. São capazes de tomar decisões e estão invadindo ambientes nunca antes pensados para um robô, como a redação de um jornal, no relacionamento com o público e no atendimento a pacientes em um hospital. Já existem softwares que escrevem poemas e criam músicas. Os novos robôs mais sofisticados são formados por algoritmos e mecanismos complexos, que entendem a linguagem natural, que olham, escutam e cheiram. São máquinas baseadas em computação cognitiva, que aprendem de forma supervisionada ou autônoma, gerando hipóteses e relações. Ou seja, num ponto extremo, as novas máquinas… pensam.

No livro “A Segunda Era das Máquinas”, de Erik Brynjofsson, o autor cita que a ideação, criatividade à moda antiga e inovação são frequentemente descritas como “pensar fora da caixa”, e esse característica é uma grande vantagem da mão de obra humana em relação à digital. Computadores e robôs continuam péssimos em fazer qualquer coisa fora do escopo de sua programação. Portanto, quando falamos que os robôs pensam e aprendem, na verdade devemos dizer que eles “pensam e aprendem” de forma limitada dentro do escopo em que foram programados.

ROBÔS E HUMANOS TRABALHANDO JUNTOS
Juntando todo esse cenário transformador e disruptivo, a conversa mais útil para a sociedade deveria mudar de foco. Todos nós deveríamos estimular o diálogo sobre como ajudar os seres humanos a lidar com os robôs no ambiente de trabalho. Essa é a grande questão. E essa questão pode passar por duas vertentes: esperarmos que a sociedade, o governo, a empresa onde trabalhamos ou algum ser divino cuide de abrir o Mar Vermelho para nós passarmos… ou tratarmos de cada um de nós, individualmente, criar o nosso caminho. É pegar o machado com as mãos e abrir a picada.

Do ponto de vida da sociedade, fica óbvio que o treinamento da força de trabalho precisa mudar, incutindo maior competência digital e acesso às novas tecnologias. Também fica evidente que existe uma transformação emergencial necessária dentro das escolas, desde a série fundamental até a universitária. Os jovens de hoje estão estudando para se tornarem profissionais cuja profissões vão mudar radicalmente nos próximos anos. Ou seja, aprendemos e nos desenvolvemos, na maioria das vezes, olhando para trás, e não para frente.

CIRCUNSTÂNCIAS E ESCOLHAS
Essas são as circunstâncias em que vivemos: um ambiente que não está preparado para as transformações que estão acontecendo. Portanto, quando nos pegamos discutindo se as máquinas vão roubar nossos empregos, estamos conversando sobre as circunstancias. É um debate necessário, mas não essencial. A discussão não deve ser sobre as máquinas contra os humanos. O principal benefício da computação cognitiva e da inteligência artificial é a expansão do nosso poder cognitivo e não da substituição do ser humano. O importante é a auto reflexão do que cada de um de nós está fazendo para trabalhar com as máquinas.

O que eu estou fazendo para me diferenciar no mercado e aprender a trabalhar ao lado das máquinas, e não contra elas? O que estou fazendo para me reinventar? Eu estou tomando atitudes ou estou olhando as coisas acontecerem? O meu futuro profissional depende das minhas escolhas de hoje… de amanhã. Estou tendo a iniciativa de sair da minha zona de conforto e encarando novos desafios? Estou desenvolvendo novas competências? A minha agenda para minha transformação profissional é importante e levada a sério? As minhas escolhas diárias estão em linha com o futuro que almejo? Como me tornar indispensável?

O PROFISSIONAL DO FUTURO
Esteja certo de que a organização onde você trabalha espera que você tenha um conhecimento muito além do aquele que aprendeu na escola. No mundo super inovador atual, as empresas precisam de mais pessoas que saibam fazer novas e interessantes perguntas, e não somente daquelas que têm respostas. A capacidade de criar ideias sempre começa pelas perguntas. Um diploma na mão não transforma você em alguém essencial no trabalho. Aceite ou não, mas a maioria das pessoas são substituíveis em seus trabalhos, independentemente dos robôs. Mas existe algo que as pessoas podem fazer a esse respeito.

Quando você pensa sobre a sua carreira ou o trabalho da sua vida, você precisa considerar as suas habilidades e os seus traços de personalidade. Uma das necessidades fundamentais, para o sucesso pessoal e profissional, é a capacidade de se adaptar às mudanças tecnológicas e as novas tendências que emergem todos os dias. Não é por acaso que o meu pai, aos 83 anos de idade, é um usuário intensivo da internet. Portanto, seja flexível, seja um entusiasta das mudanças.

AS NOVAS COMPETÊNCIAS FUNDAMENTAIS
O artigo “How to Prepare Yourself for the Future of Work”, assinado por Thomas Oppong, faz uma excepcional análise das competências fundamentais para o futuro do trabalho repleto de novas tecnologias. Não vou copiar o artigo aqui, mas incentivo você a investir seu tempo lendo o artigo com calma. Vale muito a pena estudar cada parágrafo. O autor fala em pensamento crítico, olhar criativo, colaboração intensa, excelente capacidade de comunicação, engajamento, capacidade analítica, ter pontos de vista próprios, saber trabalhar com pessoas muito diferentes de você, excelente conhecimento em ferramentas digitais e adaptabilidade total. Aliás, no mundo em que vivemos, ser adaptável parece mais importante do que talento.

Enfim, ao pensar o quanto às novas tecnologias e máquinas afetarão a sua vida profissional, pare um pouco e olhe a sua carreira. Quando pensa no que você trabalha hoje, você vê uma estrada ou um abismo a frente? Você está sendo protagonista de sua transformação ou vendo as coisas passar? A melhor forma de seu trabalho se tornar irrelevante é você se imaginar nos próximos anos fazendo a mesma coisa que você está fazendo hoje. A sua transformação como profissional está muito mais conectada ao seu comportamento e atitude do que ao seu conhecimento técnico.

CONCLUSÃO
Esqueça a conversa que estimula a discussão se os robôs são aliados ou inimigos. Esqueça a Skynet.

Os robôs não são seres humanos, eles são máquinas, programadas por seres humanos.

O principal benefício da inteligência artificial é a expansão do nosso poder cognitivo e não da substituição do ser humano.

A conversa não é mais dos humanos contra os robôs, mas sim dos humanos com os robôs.

Em breve você poderá ter um colega de trabalho robô.

O que você está fazendo hoje para se tornar um profissional do futuro?

O seu futuro em saber lidar e trabalhar com os robôs depende das suas escolhas e não das circunstancias.

Quer saber? Mal posso esperar para trabalhar com um robô.

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