Cannes Lions

Young Lions celebra três décadas com Brasil como País mais premiado

Representantes brasileiros já conquistaram 20 medalhas no programa que tem a premissa de formar e projetar a carreira de jovens profissionais da indústria publicitária

i 15 de junho de 2025 - 15h30

Young Lions

Iniciativas como Student Academy e Creative Academy aproximaram o festival de estudantes e jovens talentos em início da carreira (Crédito: John Phillips/Getty Images)

Até meados da década de 1990, o caráter elitista do Festival Internacional de Criatividade de Cannes era mais sobressalente. Reservado a dirigentes das altas esferas da indústria publicitária, que compunham delegações bem menores do que as de edições passadas recentes, o festival era inacessível para determinados cargos, como redatores, e sobretudo os mais jovens, devido à falta de visibilidade e ao alto dispêndio financeiro que a participação ainda demanda. Mas o cenário de distanciamento assistiu a uma mudança em 1995, com o surgimento do Young Creatives, mais tarde rebatizado como Young Lions, designado a abraçar mais disciplinas dentro do conceito de criatividade.

Essa foi a primeira iniciativa do festival em direção à formação profissional dos jovens publicitários, lembra Emmanuel Publio Dias, coordenador do Young Lions Brazil e consultor associado da Balt Consultoria, à frente da organização da etapa nacional do concurso para jovens talentos da publicidade promovido pelo Cannes Lions junto a mais de 70 países. O projeto seleciona duplas vencedoras em sete categorias — Design, Digital, Film, Marketer, Media, PR, Print — em etapas nacionais e cobre as despesas de viagem, bem como a inscrição para Young Lions Competition, competição global realizada no Cannes Lions. Entre as demais iniciativas que tornam o Cannes Lions uma espécie de academia estão a Roger Hatchuel Student Academy e a Creative Academy, por exemplo, que recebem estudantes e jovens criativos no início da carreira, respectivamente.

“O festival percebeu que, ao nutrir esses jovens com uma formação ligada ao Cannes Lions, obviamente, estaria criando os participantes e competidores dos próximos anos”, justifica Dias. Além disso, a participação na premiação é algo que garantiria visibilidade perante o júri. “A partir desse momento, a carreira se abria, fosse pela presença ou pelo conhecimento que adquiriram ao participar do festival. Eles se acostumaram a ver nos inscritos do projeto, e principalmente no shortlist, quem eram aqueles que mereciam ser acompanhados”, complementa.

À época da estreia, o concurso recebeu mais de 50 inscrições, e um júri especial selecionou 14 jovens de até 28 anos para disputar medalhas de Bronze, Prata e Ouro presencialmente na França. Desde então, revelou quase 500 talentos que hoje ocupam posições importantes não apenas em empresas e agências brasileiras, mas representam a criatividade local em multinacionais fora do Brasil. Hoje, os profissionais são incentivadores do projeto.

O Brasil é o destaque desde a criação do Young Lions, tendo conquistado, até agora, 20 medalhas, sendo 8 Ouros, 2 Pratas e 10 Bronzes. As conquistas colocam a criatividade dos jovens brasileiros à frente do Reino Unido, Austrália e Alemanha, com 17 medalhas cada; Portugal e Canadá (16); Itália e Noruega (13); Colômbia (12) e Estados Unidos (10).

Essa é a primeira vez, contudo, que o Brasil garante participação nas sete categorias da disputa. Neste ano, a etapa nacional do Young Lions recebeu 276 campanhas e 363 duplas inscritas. Os trabalhos foram avaliados por 73 jurados. A edição de 2025 tem apoio da Globo. As categorias Digital, Marketer, Media, Film tiveram briefings do Grupo Heineken, Nubank, Channel Factory e Estadão. Já os briefings das demais — PR, Print e Design — foram desenvolvidos pela G10 Favelas, Instituto Alana e Fundação Dorina Nowill para Cegos, respectivamente. Todas essas são organizações parceiras do Estadão, que representa o Cannes Lions há mais de 20 anos e assumiu a organização do Young Lions em 2023.

Apesar do sucesso comercial e internacional do Young Lions Brazil, o País não recebeu medalhas nos últimos três anos, concorrendo em apenas duas categorias. Em 2023, concorreu em Digital e Marketer, enquanto, em 2024, foram avaliados trabalhos em Digital e Film. Dias atribui o cenário à dificuldade de manter o projeto desde o período da pandemia, especificamente.

Ainda na década de 1990 e início dos anos 2000, a competição não dispunha de uma regulamentação unificada e cada país tinha um critério para selecionar os participantes. Em muitos deles, a seleção dos jovens para a participação na etapa global era feita por indicação de jurados ou do representante local. O Brasil foi um dos primeiros países a estabelecer critérios, um regulamento e um padrão de escolha baseado, de fato, no julgamento dos trabalhos, lembra o coordenador.

Apesar disso, a maior formalização veio em 2023, quando o Estadão passou a organizar o evento no País de maneira definitiva. Isso significou maior adequação aos parâmetros internacionais, com regulamentos pré-determinados e mais explícitos, número de vagas e conformidade com as legislações locais, por exemplo. “Ainda que tenha restringido o acesso, deu muito mais segurança, tanto para quem participa, como para o patrocinador, como para quem julga. Temos agora um regulamento muito poderoso”, descreve Dias.

O Young Lions também foi motor para a propulsão de disciplinas específicas. Em 2004, o Grupo de Planejamento (GP) passou a patrocinar a vaga da categoria, parceria que evoluiu ao longo dos anos para incluir a revisão do regulamento, sessões de mentoria, apoio financeiro e na divulgação da competição, entre outros. O intuito era não apenas contribuir na formação dos futuros planejadores, mas também ampliar a relevância da comunidade de estrategistas no mercado — e que local melhor que o Cannes Lions para contribuir com a visibilidade necessária?

Em 2023, desmembrou-se do Young Lions Brazil para garantir que a disciplina seguisse como parte do principal evento de criatividade do mundo e passou a adotar a denominação Young Planners, não sendo mais filiada ao Young Lions. A competição é aberta a profissionais de até 30 anos que tenham pelo menos dois anos de experiência no mercado. Tradicionalmente, os trabalhos são julgados por ex-Young Planners e, neste ano, o desafio proposto foi pensar uma nova marca para o Grupo de Planejamento, que espelhe o atual momento da instituição com uma nova chapa.

“Cada vez mais, os cases trazem resultado, e sabemos que a criatividade é mais efetiva se ela também tem olhar estratégico. Acreditamos que é muito importante para nossa disciplina estar coladinha na criatividade, e o Festival é o grande momento, a celebração da criatividade no mundo”, diz Amanda Agostini, CSO da Ampfy e presidente do GP para a gestão 2025-2026.

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