Como entender as “destendências”

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Opinião

Como entender as “destendências”

Quantas apostas precisam ficar pelo caminho para chegarmos de fato à inovação?


18 de julho de 2019 - 17h30

Premiado com um Emmy, em 2009, o jogo Second Life teve suas operações encerradas no Brasil (Crédito: Reprodução/ Facebook)

Desde os primórdios, o homem tenta desvendar o futuro. Como muito visto em livros e filmes, vislumbrar para onde caminha a humanidade parece uma peça-chave para dar sentido à nossa existência e, claro, por conseguir alguma vantagem (e louros) em ter sido o primeiro a prever comportamentos. Com a tecnologia, o futuro parece ainda mais próximo e nunca tivemos tantos festivais, eventos e especialistas discutindo este tema. As inúmeras previsões que surgem dessas trocas aquecem o termo “tendência”, que parece a palavra da vez, mas os avanços tecnológicos derrubam previsões e obrigam marcas e empresas a repensarem suas estratégias de comunicação. No início da construção das comunidades sociais, o Second Life surgiu fazendo muito barulho. Parecia óbvio que os usuários imersos no universo digital quisessem reproduzir a vida real por meio de avatares e cidades e ganhar dinheiro on-line para ser convertido em moeda real. Copiar a vida real digitalmente surgiu como uma grande tendência, atraindo os mais diversos segmentos.

No site do Sebrae, uma reportagem de 2008 descreve o sucesso da iniciativa: “A chamada Ilha do Empreendedor só existe virtualmente, no Second Life, característica que permite visitas de qualquer lugar e a qualquer hora”. A grande promessa de inovação morreu pouco tempo depois. Se em 2008 o jogo chegou a ser premiado com um Emmy, em 2009 as operações foram encerradas no Brasil e esfriaram em todo mundo. Em um contexto mais recente, os chatbots ganharam mercado a partir de 2016, com um aumento significativo das buscas sobre seus recursos. Atualmente, a tendência vem esfriando enquanto a procura por inteligência artificial e machine learning ganha território. Há três anos parecia bastante ambicioso automatizar o contato entre usuários e máquinas, mas hoje já é possível perceber que os usuários precisam de uma interação mais pessoal e falar apenas com robôs, que podem não estar preparados para todas as perguntas, não parece ser suficiente.

A inteligência artificial promete ser um passo a mais nesta comunicação, pois é capaz de reabastecer o banco de dados a partir dos aprendizados adquiridos. Tendências nascem para dar um norte, ou pelo menos uma pista, sobre avanços tecnológicos. E, junto com elas, algumas regras parecem obrigatórias para manter o business vivo. O crescimento do mobile, por exemplo, obrigou a indústria audiovisual a adaptar as filmagens tradicionais para o formato vertical. A necessidade de adequar o conteúdo às telas torna esta mudança importante, mas se a evolução das telas é a projeção, o formato de gravação deixa de ser o mais importante. Até um filme gravado em formato triangular poderia ser transmitido sem grandes percalços. Uma tendência que nasce para suprir uma necessidade momentânea, e com tempo passa a ser superada, deveria ser chamada de tendência? Quantas apostas precisam ficar pelo caminho para chegarmos de fato à inovação?

Tendência é o nome que damos às apostas promissoras que surgem para resolver as necessidades humanas. Inovação é o nome que damos a como suprimos as necessidades de maneira diferenciada. O que une essas duas palavras e todas as previsões é a necessidade de entender o que é humano e gerar soluções que simplifiquem o dia a dia. As necessidades humanas não mudam. Precisamos comer, dormir, nos relacionar, trabalhar, nos locomover nos comunicar. A eficiência em prever o futuro não está conectada a compreender o aumento da capacidade de exibir pixels em uma tela e, sim, no entendimento da essência original do ser humano. Se em 2008 o Second Life falhou em prever que habitaríamos mundos virtuais, não seria a realidade virtual uma forma evoluída desse universo, mas dessa vez ainda mais imersos? A tecnologia foi desenvolvida por humanos e para humanos. Por isso, aposto que prever o futuro pode estar mais próximo da Antropologia do que dos grandes livros de robótica.

*Crédito da foto no topo: Tookapic/Pexels

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