Levante a bola para um jovem

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Opinião

Levante a bola para um jovem

Quem trabalha com desenvolvimento de pessoas almeja criar boas condições para profissionais em início de carreira


9 de dezembro de 2019 - 15h32

(Crédito: Feodora Chiosea/istock)

Quando eu e minha sócia decidimos patrocinar o time de base do São Bernardo Vôlei, que leva o nome da nossa aceleradora de aprendizagem corporativa e chama-se Insight Company Vôlei, comecei a conviver e a observar mais de perto a dinâmica desses meninos que, no auge dos seus 20 e poucos anos ou antes disso, vão buscar oportunidades no mundo esportivo. Logo comecei a traçar paralelos entre os jovens da mesma idade que já acompanho há tempos, que são os que ingressam no mundo corporativo.

Há muitas semelhanças entre eles na construção de uma trajetória de sucesso, a começar pela maneira como entram em quadra (ou no escritório), dispostos a suar a camisa que estão vestindo para conquistarem os melhores resultados. É um novo mundo a ser desbravado. As perspectivas são infinitas e as expectativas e ansiedade, altas.

Mas, passadas as primeiras impressões, o que garante o real desenvolvimento deles? O que mantém acesa a chama da motivação para que eles queiram ir além e trabalhar para ser aquele jogador ou aquele colaborador que realmente faz toda a diferença quando atua em um time ou em uma empresa? Afinal, estamos falando da super volátil geração Z.

Difícil falar de carreira para a vida inteira tratando dessa geração, mas a permanência desse jovem no time (ou na empresa), pelo tempo suficiente para que possa se desenvolver, produzir e alcançar o sucesso nos primeiros passos de uma jornada profissional promissora, depende de outros fatores que também são muito parecidos em um clube esportivo ou em uma corporação. Vou detalhá-los.

É uma emocionante partida ponto a ponto, daquelas que a gente não consegue nem piscar porque um simples passe ou uma atuação estupenda pode mudar os rumos do jogo. As evoluções desses jovens talentos acontecem na velocidade da luz e uma das coisas mais gratificantes para quem trabalha com desenvolvimento de pessoas é acompanhar os primeiros passos e ajudar a criar as condições adequadas para um profissional no início de carreira que deseja e tem todas as chances de brilhar.

Inteligência emocional
Noto que tanto os jovens do esporte quanto os do mundo corporativo precisam desenvolver as competências do futuro, entre elas, a inteligência emocional para lidar com a velocidade com que as informações circulam, com que as coisas se transformam. Capacidade de lidar com pressão (e elas serão inevitáveis em qualquer profissão) e resiliência são fundamentais.

No calor da partida, como os jogadores se concentram na performance e viram um jogo importante? Como elaboram as dores de uma temporada pouco vitoriosa e se fortalecem a partir dos erros para a próxima? Em uma empresa, os desafios e as pressões também são diários. A agilidade das coisas e da tomada de decisões também exigem que o jovem profissional tenha foco, atenção e capacidade de rápida superação.

Disciplina e repetição
No esporte e na vida, uma máxima é certa e nunca sai de moda: só a prática leva à perfeição. Os meninos do time de vôlei têm uma rotina rigorosa de treinos. Disciplina não é uma opção, mas, sim, condição imprescindível. Eles só ficam bons e preparados para o jogo depois de muito preparo físico e repetições infinitas de todos os fundamentos.

O desenvolvimento de um jovem profissional em uma empresa também passa por esses dois fatores. Por mais flexíveis que sejam o ambiente e as condições de trabalho, o comprometimento com prazos e a qualidade da entrega continuam sendo pontos inegociáveis no mundo dos negócios. Só vivendo repetidas vezes uma situação, o jovem consegue se aperfeiçoar, amadurecer e desenvolver repertório para viver os desafios constantes do dia a dia.

Time
O vôlei é um esporte que precisa muito da força do coletivo. Os jogadores devem estar individualmente preparados, mas se não estiverem em sintonia, se não ensaiarem jogadas e, juntos, estudarem o time adversário para entender como neutralizá-lo na partida, não tem milagres.

No geral, no vôlei, ganha o time que estiver melhor preparado. As empresas mais prósperas são aquelas que lapidam seus talentos individualmente, mas sabem também usar o conjunto com maestria. Quando um jovem chega a uma empresa, ele precisa se reconhecer como parte do todo para que comece a jogar como equipe.

Treinador
Integrar esse jovem à equipe é um grande desafio dos gestores, que vêm de outras gerações e precisam também compreender o mindset dos novos integrantes de suas equipes. A questão aqui também é trabalhar como o treinador de um time esportivo, que atua no preparo físico, mental, emocional. Um verdadeiro mentor que saber mover suas peças e extrair o melhor de cada um da equipe para, de partida em partida, ganhar um campeonato.

É preciso ter essas perspectivas ao lidar com um jovem dentro de uma empresa, ajudá-lo a superar o gargalo que existe entre a universidade e o mercado. Só alguém mais experiente é capaz de fazer isso.

Lembre-se: a figura do primeiro treinador ou do primeiro chefe é importante na carreira de alguém. Por que não trabalhar para ser uma experiência inspiradora?

Comece tocando bola
Recorrendo a um dos fundamentos do vôlei, esporte que tenho acompanhado com entusiasmo peculiar e cada vez com mais interesse, recomendo, sem hesitar, que as empresas levantem a bola para os jovens profissionais. Comece pelo básico. Toque essa bola com ele, prepare-o exaustivamente para os fundamentos e passes mais manjados e, com o passar do tempo, encoraje-o para umas jogadas mais ousadas, como um corte no meio da rede com o time adversário em cima da bola, de repente, por que não?

Quem sabe com a disposição da juventude, conhecimento e olhar fresco para as coisas, ele não consegue colocar a bola naquele pedacinho da quadra adversária que parece impossível? Ou, conforme ganha autoconfiança e amadurece profissionalmente, ele pega o jeito e, com o entusiasmo e vitalidade também característicos de sua geração, ele vira um jogador importante e começa a pontuar seguidamente por aces, ajudando a empresa subir umas posições no ranking do mercado em que atua? Meu conselho é: faça essa aposta. Os riscos são baixos e surpresas incrivelmente positivas podem vir dessa iniciativa.

**Crédito da imagem no topo: Rawpixel/Pixabay

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