North Shore Paulista

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Opinião

North Shore Paulista

Que tal construir esta marca?


22 de junho de 2020 - 21h13

Gabriel Medina (Crédito: divulgação)

Estamos em outubro de 2020. Com otimismo, podemos afirmar que a Covid-19 impactou o Brasil e o mundo no primeiro semestre e que vivemos agora a visão da vida voltando ao normal, ou o tão falado novo normal, período de colocar em prática todos os aprendizados do tempo de reclusão e reflexão, sobretudo adotar ritmo de corrida na nossa maratona do ano, pois, economicamente falando, digamos que nesse ano “largamos dos boxes”!

O turismo foi um dos setores mais afetados pela crise e começa a mostrar sinais de reação. Um dos meus grandes prazeres na vida é viajar, investir em conhecer lugares, culturas, sabores, ares e pessoas, o que engrandece a mente, derruba preconceitos, nos torna pessoas mais interessantes e, no meu caso, me motiva ao recomeço todas as vezes que volto para casa. Sou daqueles que conversa com motoristas de Uber, concierges, garçons e quem mais encontrar pela frente, para entender os hábitos locais. Sempre reflito sobre o que me levou a querer conhecer determinado lugar, ou seja, porque aquela “marca” me conquistou!

No ano passado, estive no Havaí pela primeira vez, lugar que guarda com orgulho as origens do surfe e que tem em North Shore (região norte da ilha) as ondas mais famosas do mundo, objeto de desejo de milhões de praticantes da modalidade mundo afora. É impressionante como a cidade respira o esporte, do aloha do aeroporto aos restaurantes temáticos, tudo remete ao tema e nos faz imaginar como deve ser morar ali 365 dias do ano. O Havaí é composto por centenas de pequenas ilhas, tem vulcões, um histórico militar impressionante, é a terra dos abacaxis famosos, mas feche os olhos e pense na imagem que vem à sua cabeça quando você ouve a palavra Havaí? Aposto que a prancha de surfe faz parte da paisagem, certo?

Uma das perguntas que sempre me faço é: por que os atrativos incríveis do Brasil como destino turístico parecem “menos incríveis” ou desconhecidos, quando conversamos com estrangeiros e por que nós mesmos acabamos não fazendo a propaganda devida de nosso amado país com brilho nos olhos? O Governo Federal discute possíveis mudanças na Embratur, as secretarias de turismo dos estados evoluem, em especial a do Rio de Janeiro, que tem criado projetos ousados para a cidade que mais recebe turistas do Brasil. Gramado se tornou um case turístico impressionante; Foz do Iguaçu e suas cataratas conquistaram o interesse de muitos estrangeiros. Mas a minha reflexão aqui é com as praias do litoral paulista.

O litoral do estado de São Paulo tem mais de 600 quilômetros banhados pelo oceano Atlântico, divididos em 15 municípios. O que pouca gente sabe é que essas praias também revelaram até hoje 15 atletas para a elite do Surf Mundial, ou seja, pode ser considerada a nossa North Shore. A North Shore é a região do Havaí mais conhecida do mundo para a prática do surfe, além de outros esportes aquáticos. E a costa paulista, se formos observar atentamente, não é muito diferente. Tanto que o estado de São Paulo já produziu diversos campeões ou destaques do esporte.

Paulistas na elite do surfe mundial desde 1994

15 anos – Adriano de Souza, Guarujá (de 2006 até 2020)
10 anos – Gabriel Medina, São Sebastião (2011 a 2020)
9 anos – Renan Rocha, São Paulo (1994 a1996,1998 a 2002 e 2005)
8 anos – Filipe Toledo, Ubatuba (2013 a 2020)
8 anos – Miguel Pupo, São Sebastião (2011 a 2017 e 2020)
5 anos – Jojó de Olivença, Guarujá (1994 a 1998)
5 anos – Caio Ibelli, Guarujá (2016 a 2020)
4 anos – Wiggolly Dantas, Ubatuba (2015 a 2018)
2 anos – Deivid Silva, Guarujá (2019 e 2020)
2 anos – Alex Ribeiro, Praia Grande (2016 a 2020)
2 anos – Jessé Mendes, Guarujá (2018 e 2019)
1 ano – Renato Wanderley, Santos (1996)
1 ano – Piu Pereira, Santos (1995)
1 ano – Tinguinha Lima, Guarujá (1994)
1 ano – Tadeu Pereira, Ubatuba (1994)

Os paulistanos sabem que as perguntas com o tradicional “vai descer no fim de semana?” já começam às quartas-feiras, pois esse é o programa preferido de nove entre dez moradores da metrópole nervosa! A questão aqui é que, do ponto de vista turístico, essa sazonalidade aos finais de semana tem um custo de oportunidade relevante já que hotéis, pousadas e restaurantes têm grande ociosidade durante os outros cinco dias da semana. Praia Branca, São Pedro, Pitangueiras, Boracéia, Camburi, Juqueí, Juréia, Baleia, Barra do Una, Riviera de São Lourenço, Paúba, Itamambuca, Praia Grande, Vermelha do Centro, Vermelha do Norte e ufa, a famosíssima Maresias, com ondas que revelaram para o mundo nosso bicampeão mundial Gabriel Medina. No WSL Championship Tour Masculino de 2020, que compreende os melhores 36 atletas da atualidade, há 11 surfistas brasileiros, sendo seis deles revelados em alguma das praias citadas acima. Já imaginou?!

Alguns privilegiados da comunidade do surfe tem a chance de dar uma chegadinha rápida por lá durante a semana, quando entra um swell grande. Mas esse grupo é pequeno e costuma não se hospedar. Por outro lado, grande número de surfistas no mundo todo tem como hábito as Surf Trips e as Surfaris. Surf Trip é a viagem individual ou preferencialmente em grupo, em que o objetivo principal é surfar. Surfari, por sua vez, é a viagem ao longo da costa com itinerário definido em busca das melhores ondas, junção das palavras Surf e Safari.

Se a América do Sul e Central (Chile, Equador, Peru, Costa Rica, Nicarágua, El Salvador) tem tantos picos de Surfe reconhecidos e visitados por surfistas do mundo todo, quais são os atributos de marca que faltam ao litoral paulista, revelador de alguns dos principais nomes do esporte, para assumir uma posição competitiva para esse público tão fiel?

Não sei ao certo dizer se foram publicitários que criaram os apelidos das cidades que representam suas marcas, mas se Ribeirão Preto é a Califórnia Brasileira, Gramado é a Europa do Brasil, Saquarema o “Maracanã do Surf”, o Rio de Janeiro é a eterna Cidade Maravilhosa que ganhou os quatro cantos do mundo com suas belezas e músicas, então, que tal construirmos a marca North Shore Paulista? Não há dúvidas de que essas areias e ondas, berço de tantos craques, vão atrair o interesse de muito mais gente mundo afora.

**Crédito da imagem no topo: Reprodução

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