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Opinião

A página de trás do currículo de um CMO

Todos sabemos o quanto uma situação pessoal nos afeta e nos molda para o mundo profissional também


12 de março de 2021 - 13h52

(Crédito: Sorbetto/ iStock)

Cada vez mais conectados, acompanhamos a carreira de outros profissionais nas redes sociais e o que conseguimos ver são apenas as informações da página da frente do currículo: formação, cargos que ocupou, projetos que participou e muitas conquistas. Como profissional da área, sei bem da importância de um bom marketing pessoal, inclusive, todo esse passo-a-passo para se tornar CMO está detalhado em meu perfil do LinkedIn também. Porém, o que geralmente não fica claro é: o que está por trás das páginas de um currículo. Quais experiências formaram quem você é e o trouxeram até aqui hoje?

Existe um universo de acontecimentos que nos molda para chegar aonde queremos. Fatores externos também influenciam e nem sempre estão sob o nosso controle. Para se ter uma ideia, 80% da população brasileira se tornou mais ansiosa com a pandemia, segundo uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Na minha trajetória não foi diferente. Para me tornar um CMO, uma das posições mais altas da área, o mercado impõe inúmeras exigências e, assim como em outros cargos, sobretudo de liderança, essas cobranças – que também se tornam autocobranças – levam muitos profissionais a crises de ansiedade ou até mesmo ao esgotamento emocional.

Por isso, decidi compartilhar a página de trás do meu currículo e as experiências nela contidas que moldaram positivamente a minha trajetória, as minhas escolhas, o meu modo de olhar para o mundo, e que acabam dizendo tanto ou até mais do que os destaques e histórico profissional da página da frente do meu currículo.

Entre 2014 e 2015, ainda era um “estagiário na vida”, sem muita experiência, quando passei por um desafio de nível sênior. Fui surpreendido pelo diagnóstico de câncer e não fazia ideia do que era passar por isso. Neste período, tive que enfrentar duas cirurgias, radioterapia, fisioterapia, além dos intermináveis exames de rotina.

Esta vivência me trouxe uma percepção mais humana sobre a importância do alinhamento entre os objetivos profissionais e pessoais, e a energia dedicada a cada um deles. Repensei muita coisa: O que estou fazendo me satisfaz? O ambiente em que trabalho me faz bem? Quem estou me tornando me orgulha? Promover momentos de reflexão na empresa, assim como um olhar cuidadoso sobre a saúde de um time, é fundamental para que o engajamento de todos tenha sentido. É preciso elevar este tipo de reflexão como uma prioridade estratégica e humana, e não apenas porque isso vai impactar nos resultados da empresa. Por isso, a criação de um ambiente seguro e acolhedor, e campanhas de conscientização são essenciais dentro de toda organização, seja para dar apoio e suporte para os colegas que estão passando por uma situação difícil de saúde, ou para prevenção de doenças.

Depois disso, lá para 2018, passei por um processo difícil de divórcio, em um momento que já me considerava algo como um “analista pleno na vida”. No entanto, esta era uma experiência nova para mim, apesar de ter passado por outras experiências difíceis. E foi fundamental para eu aprender mais sobre o início e fim de ciclos e sobre confiança, paciência e burocracia.

Quando faço um paralelo com o ambiente de trabalho, vejo a importância de criar um elo de confiança junto a equipe e como a liderança tem um papel fundamental para ajudar nesse processo. Isso só é possível se existir uma comunicação transparente e um sentimento de empatia com cada pessoa, até porque passamos uma boa parte do nosso tempo trabalhando. Segundo dados do Instituto Akatu, os brasileiros trabalham 1737 horas por ano, o que corresponde a 20% do tempo total de uma pessoa em um ano. É uma parcela bem relevante do nosso tempo, certo? Por isso, a importância de criar relações saudáveis do início ao fim, ainda que haja desafios e burocracias envolvidas nesse processo.

Em 2019, acreditando que ocupava um cargo “sênior na vida”, veio mais uma crise. Essa crise que não estava nos meus planos e, até então, eu tinha pouco conhecimento: a síndrome de “burnout”. Algumas das experiências que foram vivenciadas neste período por mim: crises de pânico, insônia e apagões.

Caracterizado pelo estado de tensão emocional e estresse, que são provocados por esgotamento profissional e pessoal, muito se fala atualmente do termo “burnout”, mas nem sempre isso é trazido da forma mais clara e aberta possível, livre de tabus. Este, entre outros assuntos relacionados à saúde mental, são de extrema importância dentro e fora do ambiente de trabalho, pois ninguém está livre de passar por isso. Ainda mais quando consideramos contextos mais críticos como o que passamos atualmente no mundo, devido a pandemia e o isolamento social. Para se ter uma ideia, 44% dos brasileiros relataram mais “burnout” durante a pandemia, segundo pesquisa da Microsoft.

Entre as experiências citadas, o que trago como denominador comum é que todos temos nossos desafios diários, que são apenas nossos, e que só nós sabemos o quanto uma situação pessoal nos afeta e molda para o mundo profissional também. Aprendi que nenhuma situação vivida nos desqualifica como profissionais. Ao contrário, acredito que seja um desafio para nos qualificarmos mais e nos tornarmos mais dedicados e resilientes.

Com isso, chamo a atenção para a importância de fazer nossa parte para criarmos organizações verdadeiramente preocupadas com as pessoas e com a real vivência delas. E para os líderes, cabe o papel de abrir espaço para essas trocas que contribuem para um ambiente cada vez mais humano. Inclusive, gosto sempre de lembrar que as questões pessoais estão o tempo todo ligadas à nossa carreira, e é por isso que as empresas que te acolhem interessadas na sua página de trás são as melhores para se trabalhar.

*Crédito da foto no topo: Nick Collins/Pexels

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