Privacidade existe?

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Opinião

Privacidade existe?

Redes sociais nos proporcionam várias bolhas, com mensagens diversas e antagônicas, talvez mais manipulativas, talvez menos


16 de março de 2021 - 13h10

(Crédito: Pressureua/ iStock)

O bombardeio contra as redes sociais em relação à privacidade das pessoas e sua consequente manipulação é imensa. Nos últimos anos, foram diversas as iniciativas ao redor do mundo que criaram leis e normas visando endurecer as regras para proteger a privacidade de seus cidadãos, como a GDPR (União Europeia) e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), no Brasil. O debate sobre o assunto tem ganhado força diante dos alertas sobre vazamento de dados, mas, também, se discute fortemente como essas empresas utilizam os dados de seus usuários para fazê-los comprar determinado produto e, ainda, sobre a omissão das plataformas digitais para coibir supostas manipulações para que eleitores escolham um candidato em detrimento de outros a partir de desinformação ou fake news.

O cenário descrito acima coloca as principais empresas do setor como se fossem as vilãs dessa história. Como se a culpa por todo o mal atual fosse do Facebook, Instagram, WhatsApp, YouTube, Twitter etc. Como se no passado a manipulação não existisse. Como se somente as redes sociais invadissem a nossa privacidade. Devemos nos questionarmos: e a Receita Federal, o que sabe de nós? E os bancos e cartões de crédito, o que sabem sobre nós? O que fazem com os nossos dados? O que têm feito para impedir que essas informações caiam na rede?

Não temos privacidade alguma hoje em dia. Os bancos sabem todos os nossos passos e muito mais. Eles sabem quanto ganhamos (nosso suado salário), quantos gastamos e com o quê. Sabem onde almoçamos, onde jantamos e até para onde e quando viajamos para algum lugar, no Brasil ou exterior. Sabem até mesmo o horário de nossos gastos quando pagamos com cartão de crédito. Sabem onde moramos, nosso telefone, RG, CPF, dependentes. Nossos investimentos e nossas dívidas.

Diante disso, como podemos questionar sobre a nossa privacidade nas redes sociais? “Elas podem nos manipular!”, dirão algumas pessoas. Outras dirão que têm o poder de fazer com que compremos o que não desejamos ou nos induzir a um determinado comportamento. Em tese, os bancos não fazem isso. Mas a mídia, chamada de tradicional, se ocupa dessa parte. Quando o jornal foi criado, serviu para manipular as pessoas. O termo “propaganda” foi cunhado. Veio o rádio e, posteriormente, a TV. Surgiu o termo “publicidade”. A propaganda não declarada. A matéria espontânea. Aquela que não aparece a marca de quem está patrocinando a mensagem. Será que a propaganda daquela época era menos manipulativa ou nociva, só por que não fazia uso de algoritmos? Não criava bolhas?

Qual rede social utilizada pelos brasileiros é capaz de parar o Brasil em torno dela? Acredito que nenhuma. Mas a novela das nove horas ou o famoso BBB têm essa capacidade. Capaz de fazer com que milhões de brasileiros, de uma forma muita mais democrática, pois mais acessível, tenham o comportamento direcionado para aquele programa e, consequentemente, para aqueles anunciantes. Manipulação? Menos nocivo?

A digitalização da sociedade permite que usuário passe da posição de espectador passivo, de quem consumia aquilo que estava disponível na TV, no rádio ou nos jornais, para uma posição de protagonista, seja para escolher que conteúdo irá consumir (o usuário escolhe em que site irá ler as notícias, qual rede social irá interagir com seus amigos etc.), ou até mesmo para produzir seu próprio conteúdo. Antes, vivíamos bolhas maiores, talvez por falta de opção, com um ou outro veículo, dito de massa, com apenas uma única mensagem definida estrategicamente por um único interesse. O conceito de direcionamento ou manipulação não era tão latente, pois todos tinham acesso aos mesmos programas, às mesmas informações, exibidas a partir de um ponto de vista único. Hoje, as redes sociais nos proporcionam várias bolhas, com mensagens diversas e antagônicas. Talvez mais manipulativas. Talvez menos!

*Crédito da foto no topo: Reprodução

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