Receita para a sobrevivência de um meio de comunicação
Apostar em conteúdos diferentes, exclusivos, de interesse da audiência são pontos cruciais para esse tipo de negócio
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(Crédito: Shutterstock)
Um veículo de comunicação é um negócio. Tem custo e precisa de receita para pagar a conta. O mesmo que um restaurante, uma loja, um mercado, com a diferença que o conteúdo oferecido não se toca, não se guarda na bolsa, não se come: se absorve. Depois de absorvido pode ser compartilhado com amigos, familiares, vizinhos, colegas e até nas redes sociais.
Mas, outra vez, isso tem custo. O custo cresce em relação direta com a qualidade do que se pretende apresentar. Profissionais experientes custam mais do que jornalistas em início de carreira. Reportagens trabalhadas necessitam mais tempo e investimento do que textos frágeis e rasos. Análises profundas exigem mais trabalho do que opinião de amigos.
Da mesma forma que há restaurantes populares que oferecem refeições completas por pouco dinheiro e restaurantes gourmets para poucos e bem cuidados pratos por preços nada populares, veículos de comunicação precisam calibrar a régua a partir de algumas variáveis. O produto é montado para uma audiência específica. Terá um custo X e deverá arrecadar mais de X em publicidade e em receita de audiência se não quiser quebrar. Esse X é maior ou menor dependendo do perfil que quiser adotar, direcionado a uma audiência específica com potenciais anunciantes que aceitem suas características e pretendam chegar ao mesmo público. Nesse ajuste de sintonia fina errar é muito fácil.
Soma-se a tudo isso o domínio das plataformas de distribuição – impresso, áudio, vídeo, digital e outros. Também a explosão de competidores pela mesma audiência, o controle do mercado por gigantes de tecnologia como Google e Facebook (ou Meta) e a demora em se entender as novas regras a partir da chegada do Digital. Tudo isso, aliado à pouca capacidade de gestores em tomar decisões rápidas, cavou a sepultura de um bocado de empresas no mundo todo.
A nova vítima dessa realidade incompreendida é o jornal Agora São Paulo, que deixou de circular segunda-feira, dia 29 de novembro. Seguiu os passos nada invejáveis de empresas como Gazeta do Povo (Curitiba), Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), A Gazeta (Vitória), Diário do Nordeste (Fortaleza) e Jornal do Commércio (Recife), para citar apenas os maiores. Fora das capitais a lista é bem maior. O Agora não mudou quando podia, apostou em um modelo esgotado de jornalismo popular e fechou. Curiosamente, seu preço de capa no fim da vida – desde meados de julho – era de R$ 4, valor nada popular em um país de quase 20 milhões de desempregados. Possivelmente fruto do desespero de um gestor tentando “pagar a conta”, sem entender a audiência.
O modelo de negócios de uma empresa de comunicação é tão importante quanto seu modelo editorial. Sem o produto não há chances de ganhar relevância. No mundo do jornalismo, importante é fazer o oposto do que recomenda o jornalista inglês Nick Pisa no seriado Amanda Knox (Netflix, 2016). Pisa, responsável por inúmeras capas no popular The Daily Mail (Londres) diz: “Recebia informações e publicava. Não podia esperar, perder tempo checando a veracidade. Precisava dar antes, ou perdia o furo. Isso é jornalismo”.
Não, Nick. Isso não é jornalismo. Isso é um dos fatores que mata o jornalismo, cria confusão entre qualidade e irresponsabilidade.
Empresas que quiserem entrar 2022 com alguma chance de prosperar devem entender em que negócio estão. E definitivamente apostar em conteúdos diferentes, exclusivos, de interesse da audiência. Ou vão fazer companhia ao Agora São Paulo no cemitério dos veículos esquecidos.
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