Como as escolas de idiomas usam – e enfrentam – a IA
Redes incorporam a tecnologia ao mesmo tempo em que reforçam a ideia de que aprendizado ainda demanda acompanhamento humano

Campanha de celebração dos 30 anos da Wise Up foi produzida com IA; redes tentam mostrar que apenas a tecnologia não garante um aprendizado eficaz (Crédito: Reprodução)
Assim como em praticamente todos os setores da economia, o ramo da educação não está blindando às mudanças provocadas pela inteligência artificial. Instituições de ensino já vêm debatendo e planejando como utilizar a tecnologia a favor dos negócios e do aprendizado.
No caso das escolas de idiomas, a inteligência artificial apresenta-se como uma dicotomia: ao mesmo tempo em que pode aprimorar a conexão com os alunos, permitindo um método de ensino mais personalizado e eficiente, pode, por outro, ajudar a difundir a ideia de que é possível aprender outra língua sem o apoio de escolas ou professores especializadas.
Em uma rápida navegação por plataformas como Instagram ou TikTok é fácil encontrar anúncios ou vídeos que promovam o aprendizado de inglês, espanhol ou outro idioma com o uso de inteligência artificial.
A proposta de boa parte desses aplicativos ou plataformas é utilizar um bot conversacional para que os usuários conversem e, durante a interação, a IA faz correções sobre a pronúncia ou os termos utilizados.
Para as redes de idiomas, dosar a utilização de IA como aliada do aprendizado, ao mesmo tempo em que reforçam a importância de uma metodologia de ensino apoiada por professores tornou-se a estratégia mais importante para o momento atual.
“A IA não substitui o papel do professor e nem da experiência presencial, mas pode ser uma boa ferramenta para auxiliar os professores a ser organizar e personalizar algumas atividades para atender cada aluno. Não encaramos a IA como ameaça, mas como aliada”, define Eduardo Guedes, chief marketing officer (CMO) do Grupo CNA+.
O executivo frisa que o grupo vê a adesão à inteligência artificial com respeito e atenção e reconhece que o segmento de ensino de idiomas passa por constante transformação. Por outro lado, a rede, que tem com quase 50 anos de atuação no mercado, procura reforçar, como diferencial, competitivo, a combinação entre o uso da tecnologia com a presença e o cuidado humano qualificado.
Quem também vem procurando absorver e incorporar as vantagens da IA, sem deixar de lado a importância do acompanhamento educacional é a Wise Up.
Questionada sobre a proliferação das plataformas e aplicativos de IA que oferecem ensino de idiomas sem o auxílio de professores, a rede define que tais recursos são complementares e não substitutos de sua função.
“Elas podem ajudar no contato cotidiano com o idioma, mas acreditamos que o aprendizado real exige uma abordagem estruturada, com acompanhamento humano e contexto prático”, define Juliana Alencar, diretora de marketing da Wise Up. “Aprender inglês não é só acumular vocabulário: envolve interação, feedback personalizado e conexão cultural, pontos que ferramentas de IA ainda não conseguem entregar sozinhas”, complementa.
Tecnologia a favor do aprendizado
Apesar de ponderaram que apps e ferramentas de IA que prometem um aprendizado rápido e eficiente não contam com os mesmos recursos das redes mais tradicionais de ensino, os grupos educacionais já vêm incorporando a tecnologia em diferentes áreas.
O grupo CNA+, por exemplo, conta com o Otto, um assistente de IA que faz parte da plataforma “Criar by Árvore”, um projeto de oficinas literárias, criado em parceria com a Árvore, que estimula a criação e produção de textos, com auxílio da tecnologia. Nesse caso, é o Otto que dá o feedback e faz os apontamentos aos alunos – porém, com auxílio e curadoria de um professor humano.
Outro ponto em que o grupo já vem utilizando IA é no marketing. Guedes conta que as ferramentas já vêm conseguindo reduzir os custos de produções ao criar mensagens mais personalizadas e customizadas. “Também utilizamos ferramentas de IA para a produção de landpages, de forma a endereçar toda a jornada digital do cliente. Já do ponto de vista acadêmico, estamos em teste de uma plataforma de Tutor AI para completar as atividades fora da sala de aula através de flash cards que promovem uma memorização do conceito aprendido”, explica o CMO.
Já a Wise Up recorreu à inteligência artificial para celebrar, junto ao público, os 30 anos de atuação da rede no mercado. Há algumas semanas, a rede apresentou sua campanha publicitária de aniversário, cuja criação foi toda construída por IA. Segundo a marca, a ideia de usar a tecnologia veio para traduzir a visão de futuro, aproximando a empresa dos recursos que já fazem parte do dia a dia dos alunos.
“Usamos a IA como um formato de simulação, fazendo um convite para que eles possam viver o futuro, olhar para o que podem ser e a IA foi a ferramenta para essa visualização, ao estilo de máquina do tempo”, conta Juliana.
Na visão da diretora de marketing, a chave para uma rede de idiomas construir uma comunicação eficiente em um cenário com tantas outras opções tecnológicas de aprendizado está na evidência do valor da experiência humana, da interação em tempo real e construção da confiança perante os alunos.
“IA é uma ferramenta útil, mas não substitui vivência e prática guiada. Quando mostramos nossos alunos usando o inglês em situações reais em viagens, reuniões, oportunidades de carreira, a gente deixa claro que nosso papel vai além de ensinar palavras: nos preparamos para viver o idioma e colocar a voz dele no mundo”, sintetiza.
Para o Grupo CNA+, a questão do reforço dos diferenciais humanos e pedagógicos são estratégicos na hora de se comunicar com o público e apresentar os valores da marca.
Guedes reforça que ensinar envolve diversas camadas, entre empatia, atenção e cuidado, valores humanos que apenas um educador tem e pontua que um professor qualificado é capaz de identificar nuances emocionais, adaptar o conteúdo de forma contextual e oferecer suporte motivacional.
“Não deixamos de utilizar a tecnologia, mas através de conteúdos assíncronos, de inteligência artificial, como forma de complementar o ensino e reforçar atividades”, destaca.