Marketing

Riachuelo quer explorar conexão entre caatinga e Amazônia

Taciana Abreu, diretora de sustentabilidade da Riachuelo, acredita que os biomas podem render matérias-primas e ideias para a renovação da indústria têxtil

i 19 de novembro de 2025 - 11h41

Taciana Abreu

Taciana Abreu, diretora de sustentabilidade da Riachuelo (Crédito: Pedro Henrique Cardoso/Divulgação)

Os biomas da caatinga e da Amazônia possuem características próprias e diversidade específica de animais e vegetais. Exatamente por isso, na concepção da Riachuelo, a junção dessas duas riquezas naturais representa uma fonte fértil para o desenvolvimento de ideias e iniciativas que podem ajudar a tornar a indústria da moda mais ‘limpa’ e sustentável.

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Com essa visão, a empresa, originária do Rio Grande do Norte, participa da COP30 com a proposta de fazer uma imersão em projetos de negócios que já estão, através da biodiversidade Amazônica, gerando novos tecidos, cores e estrutura de produção para as indústrias de moda e beleza.

Para a marca de vestuário, participar da Conferência é importante para coletar informações que, posteriormente, devem ser interpretadas e compartilhadas com toda a cadeia de varejo de moda – e também com os consumidores – a respeito de como ter uma produção mais sustentável e consciente.

Taciana Abreu, diretora da sustentabilidade da Riachuelo, pontua que, para a moda, todos os temas relacionados à agenda ambiental são de grande importância, desde a renovação de energia, passando pela redução das emissões de carbono até a busca por processos de reciclagem de tecidos.

Na COP30, a marca também apresenta dois projetos ambientais que já vêm desenvolvendo, junto a sua cadeia de fornecedores: a produção agroecológica de algodão e o tingimento de tecidos a partir de sementes. Nesta entrevista, Taciana fala sobre como a cadeia do varejo pode se integrar à agenda sustentável. Veja:

Meio & Mensagem: Como a participação na COP30 impacta e fortalece a Riachuelo como marca?

Taciana Abreu: Participar da COP30 envolve uma primeira camada, mais invisível, mas ao mesmo tempo muito importante, que é sentir a mudança e a transformação de comportamento das pessoas. Aqui, por mais que estejamos em uma bolha de quem já está batalhando pela sustentabilidade, há um grande engajamento da cidade e da sociedade civil, além das empresas, para traduzir esse tema, de muitas formas. Realmente aprendemos muito e conseguimos formar uma legião de comunicadores que estão trazendo o tema, em diferentes linguagens, para alcançar diferentes públicos e furar a bolha, ainda mais no Brasil, que é o País das redes sociais e que “bomba” em tudo o que faz. Temos uma força do bem, em nossas mãos, de transformar todo esse conteúdo que circula aqui em algo acessível, para chegar às pessoas e atingir diversas audiências. Essa também vem sendo a COP da implementação, de sair do discurso e mostrar as coisas na prática. No âmbito da moda, temos a missão de pensar em como traduzir tudo isso para o nosso negócio, o que passa por diferentes esferas, desde o combate ao negacionismo climático, ao incentivo à energia renovável, investimento em biocombustíveis, pois tudo isso é capaz de gerar produtos mais limpos, com pegada de carbono menor e, também, mais competitivos.

M&M: De que forma estratégias de ESG bem estruturadas e alinhadas aos objetivos de negócios podem auxiliar o trabalho do marketing? Como a marca procura comunicar essas diretrizes?

Taciana: Temos algumas ações, de universos diferentes, que se complementam. Aqui, durante a COP30, estamos falando sobre dois cases. Um deles é sobre a produção agroecológica de algodão, que é uma iniciativa que beneficia pequenos agricultores. Já são mais de 100 produtores que trabalham conosco, hoje, na região da caatinga, no Rio Grande do Norte. Isso, claro, ainda é uma parcela pequena, não chega a 1% do total do algodão utilizado, mas já é uma iniciativa relevante. Temos também um projeto de tingimento natural de tecidos a partir de plantas da caatinga. Esse projeto começou com a anileira, que é uma semente que dá o tom do azul índigo e, agora, planejamos fazer o mesmo com a pitaya. Além de apresentar esse projeto, também procuramos fazer um intercâmbio na COP30 para saber o que podemos aprender com a bioeconomia da Amazônia, que é uma região rica em bioativos, certamente bem diferente dos da caatinga, e que também podem ser muito uteis para a indústria da moda. Fizemos parceria com a Associação dos Negócios da Sociobioeconomia da Amazônia (Assobio), que tem empreendedores que já trabalham com matérias primas para diferentes áreas, sendo que alguns já trabalham com a indústria da moda.

M&M: Como classifica a importância da articulação entre setores, sociedade civil e terceiro setor, para as empresas no cenário dos assuntos debatidos e negociados na COP30?

Taciana: A articulação é algo extremamente necessário. Quando falamos sobre descarbonização e redução de emissões, temos dois grandes temas: o da transição energética, que é muito forte e importante para todas as indústrias, e que é uma onda que já está um pouco mais consolida no Brasil. Temos uma matriz de energia limpa, com investimentos na energia solar, eólica, mas ainda, claro, vemos a importância de fazer uma transição energética com pequenos e médios fornecedores. Já a emissão de carbono está diretamente associada aos produtos das marcas e, por isso, têm de ser nossa responsabilidade, independente de ser algo feito em fábrica própria ou de terceiros. E, muitas vezes, utilizamos fornecedores compartilhados, que produzem para diferentes empresas. Por isso, essa articulação é fundamental. Estamos conversando e nos unindo, a partir da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e da Associação Brasileira do Varejo Têxtil, para ajudar a fomentar as agendas entre as indústrias, fazendo com que avancemos juntos e de forma mais rápida.

M&M: A Riachuelo planeja alguma nova ação ou movimento, em termos de ESG ou de marketing no pós-COP30?

Taciana: Dentro da frente dos tingimentos naturais, que já desenvolvemos na caatinga, abrimos conversas com comunidades de povos originários para desenvolver o tingimento de nossas roupas com urucum e jenipapo. O tingimento é uma forma da moda resgatar um conhecimento ancestral e milenar. Todos os povos, quando descobriram as fibras, também descobriram os tingimentos naturais. Conversamos também sobre a realização de um intercambio caatinga-Amazônia, para descobrirmos novas possibilidades de fibras e de matérias-primas. Como uma empresa de origem nordestina, sendo a maior empregadora do Rio Grande do Norte, queremos colocar essa brasilidade no protagonismo, identificando o Brasil na moda. Mas também queremos fazer isso de maneira conectada ao negócio. Não se trata de filantropia, e sim de conseguir introduzir os conceitos de sustentabilidade na cadeia produtiva, na maneira como fazemos roupas e como pensamos a moda. Não consigo ainda enxergar os muitos impactos que essa transformação pode ter. Além disso, teremos uma agenda mais racional e ativa a respeito da descarbonização na indústria. Estamos com grandes projetos de reciclagem de tecidos e de matérias-primas e realmente queremos fomentar o entendimento coletiva, com o uso de dados, para fazer com que a indústria brasileira da moda e vestuário se conectem e ajudem a promover essa agenda de transformação.

M&M: De que maneira o setor de vestuário, especificamente, pode colaborar para a redução dos impactos ambientais de sua cadeia de produção?

Taciana: Quando produzimos roupas, nossa maior parte de emissão está nos tecidos. Precisamos reinventar uma parte das matérias primas e fortalecer, ao mesmo tempo, o investimento em algodão sustentável. O Brasil é, hoje, o maior exportador de algodão do mundo e ficamos na terceira ou quarta posição em termos de produção, sendo que 80% de toda essa produção feita aqui é certificada. A produção de algodão que fazemos na região Nordeste já é limpa e demanda menos irrigação, por estar em um bioma menos chuvoso. Isso, consequentemente, demanda menos energia. Nossa missão é ajudar os fornecedores a reduzirem as emissões e a carga química do algodão. E, na ponta do varejo, consigo mostrar a importância disso ao cliente estimulando-o a olhar a etiqueta da composição, ressaltando a importância de fazer uma escolha de moda mais consciente. Além disso, acreditamos também que os produtos podem ter maior visibilidade e trafegar em diferentes locais do Brasil. Um produto da Amazônia, por exemplo, pode estar disponível e acessível em todos os locais do Brasil. Queremos estimular esse intercâmbio.