Marketing

Como a PepsiCo vê sustentabilidade como motor de crescimento

Regina Teixeira, diretora sênior de assuntos corporativos da PepsiCo, fala sobre alinhamento entre estratégias de ESG globais e locais e sobre a função do marketing na agenda

i 18 de novembro de 2025 - 13h56

Uma das maiores empresas globais de alimentos e bebidas, a norte-americana PepsiCo ancora sua agenda ESG na estratégia PepsiCo Positive (pep+), que engloba ações de impacto positivo com foco em três pilares principais: sistemas alimentares resilientes, segurança hídrica e transição energética.

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Regina Teixeira, diretora sênior de assuntos corporativos na PepsiCo (Crédito: Marco Maximo/Divulgação)

E a operação do Brasil – em que o negócio de alimentos segue em crescimento vertiginoso – tem gerado frutos importantes para o avanço. A fábrica de Itu, em São Paulo, é a primeira da PepsiCo no mundo a utilizar energia renovável na produção de alimentos, por meio do uso de biometano. A planta possibilitou a redução de 85% do volume de emissões de gases de efeito estufa, por exemplo.

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Enquanto empresa global, também aproveita da escala para acelerar evoluções e incentivar boas práticas junto ao público. “Estratégias de ESG bem estruturadas não apenas fortalecem a reputação, mas também oferecem ao marketing credibilidade, diferenciação e propósito, elementos essenciais para construir narrativas modernas e relevantes”, conta Regina Teixeira, diretora sênior de assuntos corporativos na PepsiCo.

Na entrevista a seguir, a diretora comenta os impactos da participação na COP30 na promoção de impacto positivo e reputação de marca, ações da companhia em torno da agricultura para o combate às mudanças climáticas e planos para o longo prazo na agenda socioambiental.

Meio & Mensagem – Como a participação na COP30 impacta e fortalece a PepsiCo enquanto marca?
Regina Teixeira – A COP30 será um marco global para acelerar a implementação do Acordo de Paris, mobilizar financiamento climático em escala e promover soluções inclusivas e baseadas na natureza. Para a PepsiCo, estar presente nesse fórum é essencial para consolidar nosso papel como agente de transformação na transição para uma economia verde, inclusiva e regenerativa. Somos uma das maiores companhias de alimentos e bebidas do mundo, detentora de mais de 20 marcas icônicas como Lay’s, Ruffles, Doritos, Cheetos, Toddynho e Kero Coco, e, antes de tudo, uma empresa essencialmente agrícola, adquirindo cerca de 450 mil toneladas de insumos por ano. Essa dimensão nos coloca no centro dos debates sobre sistemas alimentares resilientes, segurança hídrica e transição energética, temas que são pilares da nossa estratégia global PepsiCo Positive (pep+). Nossa participação na COP30 reforça a reputação da PepsiCo como líder em práticas regenerativas e baixo carbono, alinhadas aos compromissos do Acordo de Paris, e nos permite influenciar políticas públicas e mecanismos de financiamento inovadores, como fundos voltados à preservação das florestas tropicais. Também cria oportunidades para fortalecer alianças estratégicas com governos, organismos multilaterais e organizações da sociedade civil, ampliando projetos de agricultura regenerativa, energia limpa e proteção da biodiversidade. Ao mesmo tempo, é uma plataforma para dar visibilidade às nossas iniciativas locais e globais, mostrando resultados concretos da jornada pep+, e para engajar múltiplos stakeholders — setor privado, juventude, povos indígenas e sociedade civil — em um verdadeiro “Mutirão Global” pelo clima. O Brasil, sede da COP30 e guardião da Amazônia, é um polo de inovação para a PepsiCo. Nossa presença na conferência reforça que sustentabilidade não é discurso sobre o futuro, mas motor de crescimento no presente. Ao ocupar esse espaço, mostramos que é possível unir performance e propósito, influenciando agendas críticas e colaborando para um futuro alimentar mais resiliente.

M&M – De que forma estratégias de ESG bem estruturadas e alinhadas aos objetivos de negócios podem auxiliar o trabalho do marketing? Como a marca procura comunicar essas diretrizes?
Regina – Nossa estratégia PepsiCo Positive (pep+) é transversal ao negócio e funciona como a espinha dorsal de toda a operação, conectando crescimento à responsabilidade. Estratégias de ESG bem estruturadas não apenas fortalecem a reputação, mas também oferecem ao marketing credibilidade, diferenciação e propósito, elementos essenciais para construir narrativas modernas e relevantes. Esse alinhamento se traduz em ações concretas nas marcas, por exemplo, e constrói uma narrativa autêntica ancorada na origem e na qualidade do seu ingrediente principal: a batata. Essa comunicação vai além do sabor, destacando como a matéria-prima é cultivada em campos regenerativos, prática que restaura a saúde do solo, aumenta a biodiversidade e contribui para a mitigação das mudanças climáticas. Ao comunicar isso, convidamos o consumidor a se conectar com uma cadeia produtiva mais consciente e ambientalmente responsável. Esse é o poder do ESG para o marketing: transformar propósito em vantagem competitiva, criando histórias que engajam, geram confiança e refletem um compromisso real com as pessoas e o planeta. É assim que a PepsiCo une performance e propósito, tornando a sustentabilidade um motor de crescimento presente em cada marca.

M&M – Como classifica a importância da articulação entre setores, governo, sociedade civil e terceiro setor, para as empresas no cenário dos assuntos debatidos e negociados na COP30?
Regina – A articulação entre setores, governos, sociedade civil e terceiro setor é absolutamente essencial para enfrentar os desafios debatidos na COP30. O sistema alimentar está em um ponto crítico: se não transformarmos radicalmente a forma como produzimos alimentos, eventos climáticos extremos continuarão a comprometer a segurança alimentar global — e a um custo que o mundo não pode suportar. O que antes eram eventos de 100 anos hoje ocorre com frequência muito maior, e cada grau Celsius adicional pode reduzir a produtividade de culturas essenciais em até 7,4%, segundo estudos publicados na PNAS. A ONU alerta que 3,2 bilhões de pessoas vivem em áreas agrícolas com alta escassez hídrica, sendo 1,2 bilhão em regiões severamente limitadas. Esses dados mostram que nenhum ator pode resolver essa crise sozinho. A integração e a colaboração entre os diversos setores da sociedade e da economia são, inegavelmente, a chave para impulsionar avanços significativos e sustentáveis na agenda climática. Reconhecemos que os desafios do sistema alimentar são sistêmicos e que somente a união de conhecimento, recursos e expertise permitirá desenvolver soluções escaláveis, resilientes e justas. Como companhia global, utilizamos nossa presença e escala para atuar como catalisadores de mudança, promovendo boas práticas, incentivando padrões mais elevados de sustentabilidade e fomentando inovações tecnológicas e modelos regenerativos junto à nossa rede de fornecedores, parceiros e stakeholders. Nossa abordagem vai além da operação interna. Buscamos criar plataformas de diálogo e ação conjunta que transcendam fronteiras setoriais e geográficas, fortalecendo alianças estratégicas com governos, organismos multilaterais e organizações da sociedade civil. A agricultura regenerativa é um exemplo concreto dessa colaboração, pois restaura a saúde do solo, aumenta a biodiversidade e fortalece comunidades rurais, mas sua adoção em escala exige investimentos robustos, capacitação e políticas públicas que criem condições favoráveis. A COP30 é uma oportunidade única para mobilizar financiamento climático, influenciar políticas e consolidar essas alianças. Somente a ação coletiva poderá transformar desafios em oportunidades e proteger o futuro da agricultura, garantindo segurança alimentar para bilhões de pessoas.

M&M – Quais são os caminhos para que o equilíbrio de mensuração e processos de longo prazo que a agenda ESG envolve sejam também associados ao lucro e ao crescimento sustentável?
Regina – Integrar a agenda ESG ao centro da operação não é mais uma opção, mas uma necessidade estratégica. O equilíbrio entre métricas de longo prazo e resultados financeiros acontece quando a sustentabilidade deixa de ser vista como custo e passa a ser motor de inovação e eficiência. Na PepsiCo, isso significa conectar práticas sustentáveis à geração de valor, seja por meio de agricultura regenerativa, redução de emissões, otimização do uso de recursos ou desenvolvimento de produtos alinhados às expectativas do consumidor. O maior desafio é transformar métricas ambientais e sociais em indicadores que dialoguem com performance, provando que práticas responsáveis caminham lado a lado com crescimento. Nossa abordagem não se limita a mitigar riscos, mas cria oportunidades. A prova está nos resultados. O negócio de alimentos no Brasil dobrou de tamanho nos últimos cinco anos e segue crescendo, impulsionado por um modelo operacional mais resiliente e voltado para o longo prazo. Nesse contexto, lucro torna-se consequência natural de uma estratégia que une propósito e performance.

M&M – Qual é o papel do setor de alimentos e bebidas em transformar ações socioambientais que impactem diretamente na decisão do consumidor em mensagens compreensíveis?
Regina – O setor de alimentos e bebidas tem um papel fundamental em traduzir ações socioambientais complexas em mensagens claras e relevantes para o consumidor. Sustentabilidade está remodelando a demanda e influenciando atitudes em relação às marcas, e nosso desafio é transformar compromissos em experiências tangíveis. Como empresa com forte presença no dia a dia dos brasileiros e uma ampla cadeia de valor, usamos nossa escala para acelerar evoluções e incentivar boas práticas junto ao público. Nossa abordagem se apoia em três pilares. Primeiro, transparência e origem, garantindo que o consumidor tenha acesso à procedência dos produtos por meio de ferramentas digitais como QR Codes, que permitem rastreabilidade completa. Segundo, comunicação humanizada, aproximando o público da cadeia produtiva ao envolver produtores nas campanhas, como fazemos com Lay’s, para contar histórias reais sobre cultivo e sustentabilidade. Por fim, concretude do propósito, materializando compromissos em iniciativas mensuráveis, como o lançamento do Arroz de Aveia Quaker, primeiro produto social do portfólio global da PepsiCo, que destina 100% do lucro à instituição Amigos do Bem para combater a fome no sertão nordestino. Traduzir ESG em mensagens compreensíveis significa mostrar impacto real e convidar o consumidor a fazer parte dessa transformação. É assim que conectamos propósito à decisão de compra, tornando a sustentabilidade um valor compartilhado.

M&M – A empresa planeja alguma nova ação ou movimento, em termos de ESG ou de marketing no pós-COP30?
Regina – Sim. Estamos estruturando um conjunto robusto de ações e parcerias estratégicas que serão fundamentais para consolidar nossa agenda ESG e impulsionar nossa comunicação no pós-COP30. Recentemente anunciamos uma colaboração com a Yara, líder global em nutrição de plantas, para desenvolver tecnologias de fertilização de precisão e insumos com baixa pegada de carbono, aumentando a produtividade e a sustentabilidade das culturas no Brasil. Essa parceria reforça nosso compromisso com inovação e impacto ambiental positivo. Além disso, estamos avançando com o projeto Landscapes and Biodiversity (LAB), uma iniciativa pioneira de gestão de paisagem que promove agricultura regenerativa em larga escala no Cerrado brasileiro, restaurando biodiversidade, otimizando o uso da água e fortalecendo a resiliência climática das cadeias de fornecimento. Também estamos destacando marcos importantes na manufatura, como a fábrica de Itu, em São Paulo, onde atingimos um marco inédito mundial de sustentabilidade com a planta, tornando-se a primeira da PepsiCo no mundo a utilizar energia renovável na produção de alimentos, por meio do uso de biometano, o que já possibilitou a redução de 85% do volume de emissões de GEE na fábrica; potabilizar e reutilizar o total da água necessária para a fabricação de alimentos, sem captar água da rede pública para o processo produtivo; ser zero aterro, pois dá a destinação ambientalmente correta a 100% dos resíduos da produção. Essas iniciativas não são apenas práticas sustentáveis, serão a base das narrativas de origem das nossas marcas e da comunicação corporativa nos próximos anos. Seguimos em negociações avançadas com outros parceiros para ampliar nosso alcance e efetividade, garantindo que impacto real se traduza em reputação e engajamento. O pós-COP30 será um momento decisivo para mostrar que sustentabilidade é motor de crescimento e que a PepsiCo está liderando essa transformação.