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Contaminação de bebidas alcoólicas ameaça saúde pública e resultados do setor

Crise atual desencadeada por casos de adulteração por metanol em período de sazonalidade forte mobiliza indústria, que sofre com falsificação há décadas

e Giovana Oréfice i 3 de outubro de 2025 - 10h33

Drinks

Recomendações das autoridades de saúde e o próprio receio da população fream consumo (Crédito: Shutterstock)

As marcas de bebidas alcoólicas enfrentam nova crise no Brasil após o registro de mortes e outros casos associados à intoxicação por metanol, em decorrência da ingestão de destilados adulterados.

O metanol é um álcool tóxico, distinto do etanol utilizado em bebidas alcoólicas, pois quando ingerido, é metabolizado no organismo em substâncias como formaldeído e ácido fórmico, que podem causar cegueira, danos graves e até a morte, mesmo em doses relativamente pequenas.

Desde agosto de 2025, foram registrados no Brasil dezenas de casos suspeitos de intoxicação por metanol pela ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas. O estado de São Paulo concentra a maioria dos casos: em balanço recente, foram cerca de 39 ocorrências, com dez confirmadas e 29 em investigação. E casos em Pernambuco também estão sendo investigados, o que acendeu o alerta nacionalmente. Na manhã desta sexta-feira, 3, por exemplo, órgãos de fiscalização no Rio de Janeiro, percorreram estabelecimentos comerciais.

Reações à crise

O Ministério da Justiça e Segurança Pública emitiu recomendação urgente a estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas no estado de São Paulo e em regiões próximas, reforçando “a compra segura, a conferência de produtos e o fortalecimento da rastreabilidade dos produtos.” O aviso vale para restaurantes, casas noturnas, mercados, atacarejos e plataformas de e-commerce, por exemplo.

Dados de estudo da Euromonitor Internacional encomendado pela Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD) indicam que o mercado ilegal de bebidas alcoólicas gerou um prejuízo fiscal de R$ 28 bilhões ao País no último ano.

Ainda que o risco da adulteração esteja associado aos destilados, especialistas vêm recomendando a suspensão do consumo de bebidas alcoólicas de maneira geral, o que pode frear a categoria como um todo.

Enquanto algumas empresas e entidades ainda não se manifestaram sobre o caso, outras já se posicionaram, como a Pernod Ricard, uma das maiores fabricantes globais de bebidas e dona de marcas como Absolut Vodka, Beefeater e Chivas Regal, que emitiu o seguinte comunicado:

“A Pernod Ricard expressa sua profunda solidariedade às vítimas e familiares dos recentes casos de falsificação de bebidas reportados. A segurança e a saúde dos consumidores são prioridades absolutas para a empresa, que opera no Brasil e em todo o mundo seguindo os mais rigorosos padrões internacionais de qualidade e segurança alimentar.

Estamos ativamente engajados no combate ao mercado ilegal de bebidas, trabalhando em estreita colaboração com as associações do setor e as autoridades competentes. Reafirmamos nosso compromisso inabalável com um mercado seguro e responsável.

Permanecemos à inteira disposição das autoridades públicas para colaborar com o que for necessário nas investigações e em quaisquer iniciativas que visem coibir práticas criminosas. Seguiremos atentos e apoiando todas as instituições e entidades envolvidas na proteção dos consumidores e na garantia da integridade do mercado de bebidas.”

Já o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) afirmou:
“O Idec lamenta profundamente os casos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas destiladas e se solidariza com as vítimas e suas famílias. Reforçamos que a legislação brasileira protege consumidores em situações como esta e impõe responsabilidades claras tanto ao Estado quanto ao mercado.” E acrescenta: “A responsabilidade recai sobre toda a cadeia: órgãos fiscalizadores, fabricantes, distribuidores, supermercados, bares e restaurantes.”

Ao elencar responsabilidades de cada elo da cadeia, o Idec afirma, no caso da indústria, que “os fabricantes de produtos que identificarem a periculosidade têm o dever de comunicar às autoridades competentes e aos consumidores quais medidas estão sendo adotadas para mitigá-los.”

Recorrência

O problema não é inédito. Em 1992, houve um surto em São Paulo (na região da cidade de Diadema e no Grande ABC) com bebidas adulteradas com metanol, resultando em quatro mortes e aproximadamente 160 pessoas intoxicadas.

Outros episódios similares ocorreram na Bahia e em Minas Gerais, ainda que nem sempre exatamente com metanol — contaminações por substâncias tóxicas similares em bebidas artesanais ou falsificadas, o que faz a indústria se queixar de dois fatores: a alta tributação à categoria, que estimularia a falsificação, e a falta de fiscalização e coibição às práticas de falsificação e adulteração de produtos em si.

A crise atual ocorre em momento estratégico para o setor, uma vez que as vendas tenderiam a subir, pela aproximação das festividades de final de ano.