Marcas invadem espaço alternativo de Inhotim
Festival Meca Inhotim aconteceu em Brumadinho (MG), no último final de semana, onde marcas participaram na curadoria de shows e no diálogo com movimentos culturais
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Karina Balan Julio
2 de julho de 2018 - 13h37
Por Karina Balan Julio, de Brumadinho (MG)*
Instalações a céu aberto, galerias de arte com arquitetura deslumbrante, jardins com paisagismo cuidadoso. O cenário faz parte do Instituto Inhotim, centro botânico e artístico que fica na pequena cidade de Brumadinho, em Minas Gerais. Foi lá, muito distante dos grandes centros onde marcas costumam fazer suas ativações, que aconteceu a quarta edição do festival Meca Inhotim, evento que recebeu mais de 9 mil pessoas no último final de semana.
Organizado pela plataforma multicultural Meca, o festival atraiu mais de 9 mil pessoas e trouxe uma proposta diversificada, com programação de palestras, exibições de arte, workshops e shows de artistas como Elza Soares, Pabllo Vittar, Baco Exu do Blues e Cordel do Fogo Encantado. Este ano, também trouxe pela primeira vez uma mostra de cinema com apoio do Canal Brasil.
Em um universo saturado de grandes eventos culturais, trabalhar com um público menor, mais alternativo e ligado às artes pode parecer limitante. Para as marcas patrocinadoras do Meca Inhotim – Heineken, Absolut, Ray Ban e TNT -, que participaram tanto na curadoria de artistas, como na execução dos workshops, o festival representou uma oportunidade de entrar em contato com movimentos culturais emergentes.
Rodrigo Santanna, arquiteto idealizador do Meca, conta que a ideia de “projetar”, assim como uma nova noção de apropriação artística, têm contribuído para este diálogo das marcas com o consumidor ligado ao universo artístico.
“Entendemos que não controlamos a narrativa e que o nosso papel, e também das marcas, é o de projetar as experiências e conteúdo através da curadoria. A arquitetura tem muito disso: você projeta algo e depois o público dá forma ao projeto, você não pode controlar o que as pessoas vão fazer com o espaço. A ideia é a mesma para este projeto”, conta Rodrigo.
O conceito por trás do Meca é a expressão “Biggest Smallest” – “o maior dos menores”, em tradução livre. “Pequenas experiências podem ser relevantes e gerar alcance, mesmo que tenham pouca escala. A ideia é manter a pessoalidade. Também estamos em processo de entender como ser mais acessíveis, no sentido de atender a uma geração que vem fazendo escolhas diferentes e não necessariamente baseadas no poder econômico”, acrescenta Rodrigo.
Renovação de público
Para o Instituto Inhotim, criado em 2005 e considerado o maior acervo de arte ao ar livre da América Latina, o diálogo com as marcas é uma questão de sobrevivência.
“Nossa história está pautada em parcerias, é algo que faz parte da nossa manutenção e sustentação como instituição”, diz Antônio Grassi, diretor executivo do Inhotim, que conta com apoio financeiro perene de marcas como Vale, Vivo e Itaú. De forma indireta, através do Meca Inhotim, as marcas também ajudam a atrair o interesse dos consumidores pelo espaço. “O festival traz um público mais jovem e que às vezes fica um pouco distante dos museus”, explica.
A cantora Elza Soares, uma das principais atrações da programação musical, fez um show politizado, com mensagens contra a homofobia e racismo, e também mostrou que sabe renovar sua audiência e escolher conteúdo para a geração mais jovem: ela foi a responsável pela curadoria de novos talentos do cenário musical brasileiro que se apresentaram no palco da Heineken, entre eles a cantora Zabalê e o cantor Pedro Morais.
No camarim, antes do show, Elza contou que as causas que defende, como o feminismo negro e a luta LGBTQ, fizeram com que atraísse uma geração muito mais nova que a sua. “A juventude hoje é muito inteligente e não perde tempo. Sempre falo o que é necessário falar e tenho um diálogo muito aberto com os jovens, aprendo muito com eles. Quero ter esse eco”, disse ao M&M.
A Heineken, que há alguns anos trabalha com o posicionamento #LiveYourMusic, por meio do patrocínio de festivais como Rock in Rio e Popload, vê no Meca Inhotim uma chance de se aproximar de um público exigente.
“É uma das plataformas que encontramos para nos conectar com este público aqui no Brasil. A curadoria de Elza, por exemplo, foi uma forma de apoiar artistas que ainda não despontaram por completo e apresentá-los a um público formador de opinião”, avalia Vanessa Brandão, diretora de marca da Heineken.
Produção de conteúdo ao vivo
Para as marcas envolvidas no Meca, o desafio não é só oferecer um bom evento para os visitantes, mas fazer com que o conteúdo chegue aos consumidores que não estiveram lá. Na sala de imprensa, as produtoras e equipes de conteúdo das patrocinadoras trabalhavam à todo vapor para disponibilizar pílulas de conteúdo nas redes sociais.
“A produção é live, mas a criação não é ao vivo. Existe um esforço muito grande de preparar o que vamos rodar, quase como uma pré-produção de um filme, a diferença é que é uma pré-produção para redes sociais. Já chegamos com uma narrativa construída, desde o que vamos capturar, o discurso e os letterings, e aí deixamos uma margem pequena para improviso e para construir conteúdo junto com artistas e influenciadores”, explica Paulo Aguiar, diretor criativo da Publicis, agência que planejou o conteúdo da Heineken para o evento.
* A repórter viajou a convite da Heineken
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