Revolução da longevidade: como envelhecer em meio a tantos desafios?
Terceira edição do Blue Connections aponta os desafios e as oportunidades que vêm junto ao envelhecimento da população brasileira
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Bárbara Sacchitiello
11 de setembro de 2024 - 8h25
O que você quer ser quando envelhecer?” Essa pergunta ganha cada vez mais pertinência quando se considera que o Brasil já está em contagem regressiva para a inversão da pirâmide etária – ou seja, quando a população madura for maior do que a jovem. Por isso, o questionamento, bem como as possíveis e complexas respostas, foram o fio condutor da terceira edição do Blue Connections, evento realizado para os membros do Círculo Liderança de Meio & Mensagem.
Realizado na manhã dessa terça-feira, 10, no Blue Note, em São Paulo, o encontro debateu como o envelhecimento da população é uma questão importante – e urgente – a ser debatida tanto do ponto de vista de saúde, como também de estrutura social e negócios.
As discussões sobre o tema foram apresentadas em duas partes. Primeiro, o CEO do Grupo Croma, Edmar Bulla, revelou dados recentes de pesquisas de sua consultoria a respeito da opinião dos baby boomers em relação ao consumo e relação e com as marcas. Depois, Alexandre Kalache, médico presidente do Centro Internacional de Longevidade (International Longevity Center), apresentou um panorama mais amplo dos inúmeros desafios que se apresentam para um País que se vê diante do envelhecimento.
Em 2047, a pirâmide etária da população brasileira irá se inverter e, pela primeira vez na história, o País terá mais idosos do que crianças e jovens. E, em 2050, com a queda da natalidade, a previsão é de que a população brasileira comece a encolher.
Do ponto de vista de negócios, esse envelhecimento populacional significa a existência de um amplo e potente grupo de experientes consumidores, com mais de 60 anos, ávidos por todos os tipos de produtos e serviços.
Se por um lado os avanços tecnológicos permitem avanços e vivências com mais conforto e possibilidades, por outro,a realidade de boa parte da população brasileira não é a mais tranquila. “Falamos do aumento de tecnologia, mas também precisamos falar sobre os problemas do meio-ambiente, a ansiedade e a depressão, que tornam o envelhecer bem mais complexo”, explanou Edmar Bulla, ao apresentar dados mais recentes da pesquisa que sua consultoria realizou com pessoas com mais de 59 anos.
Segundo o levantamento, 43% dos brasileiros dessa faixa etária acreditam que a diversidade ainda é um assunro tabu para as marcas e sete entre dez pessoas afirmaram que a atuação das empresas e do setor privado ajudam a criar uma sociedade mais tolerante.
Na visão de Bulla, isso demonstra como as pessoas depositam nas marcas, mutas vezes, a expectativa em relação a serviços, produtos e experiências de que sentem falta.
Por conta dessa alta expectativa, 89% da população acima de 60 anos diz que admira as marcas que investem em longevidade. E esse investimento, segundo o especialista, não se trata de assistencialismo e sim de serviços e atendimento adequado à população dessa faixa etária.
Muitos tabus, contudo, ainda precisam ser quebrados. Bulla chamou a atenção para o fato de que 89% das pessoas com mais de 59 anos terem afirmado que pretendem ser produtivos durante a velhice. O mesmo percentual, inclusive, apontou preocupação a respeito de como se manterão financeiramente no futuro. Porém, 86% reconhecem que as empresas ainda têm preconceito para abrir vagas e contratar pessoas com mais de 60 anos.
Após a apresentação dos dados, Bulla convidou ao palco Lara Miranda, diretora de marketing da Nestlé Health & Science. A multinacional aparece, na pesquisa do Grupo Croma, como a marca mais associada, por parte do público, a questão da longevidade. Entre os respondentes que se lembram de terem visto alguma peça publicitária associada à questão do envelhecimento, 52% citaram a Nestlé. Na sequência, Natura, Boticário e Avon também foram citadas.
Para esse reconhecimento, Lara comentou que é primordial que a marca tenha um profundo conhecimento de seu consumidor e que escute suas necessidades e demandas. Ela também pontuou como a Nestlé, ao longo dos últimos anos, começou a trabalhar a ideia de prevenção e bem-estar antes do tratamento e que essa nova consciência tem ganhado força entre a população.
“Hoje, vimos que uma parcela do público já com 35 anos começa a ter atitudes e se planejar para a maneira como querem envelhecer. Por meio de pesquisas e de muita escuta aos consumidores estamos procurando traduzir e informação e aplicá-la em forma de produtos e de comunicação para conseguir auxiliar as pessoas nesse processo”, comentou.
Os conhecidos versos do poeta Carlos Drummond de Andrade, que eternizou a ideia de que no meio do caminho havia uma pedra, foi utilizado pelo médico Alexandre Kalache logo no início de sua apresentação a respeito dos muitos desafios que acompanham o envelhecer. Segundo ele, quanto mais longo for o caminho (no caso, a vida), mais “pedras” ele apresentará.
De forma realista, o especialista em longevidade procurou apontar como a trajetória do envelhecimento torna-se mais complexa quando se consideram as desigualdades sociais e carências de boa parte da população brasileira.
“Quando nasci, a expectativa de vida no Brasil era de 47 anos. Hoje, ela é de 77 anos e, em muitas regiões, já ultrapassamos esse número. E poderíamos estar com bem mais. O que atrapalha a evolução da longevidade é a desigualdade. Boa parte dos idosos do País estão longe de alimentar a ‘silver economy’ de que falamos. No Brasil, temos mais o endividamento prateado do que a economia prateada”, destacou.
Esse problema tende a se tornar ainda mais agudo com o passar dos anos. Hoje, 16% da população brasileira tem mais de 60 anos. em 2050, serão 31%, o que é equivalente a 68 milhões de sexagenários.
“Envelhecer no Brasil é desafiador. Dos médicos formados no País, por exemplo, 11% escolhem a pediatria e apenas 0,5% querem ser geriatras. A taxa de natalidade está caindo, mas os médicos ainda querem cuidar de crianças. As melhores oportunidades que o Brasil terá nos próximos anos está na economia do cuidado. Mas quem cuidará de nós, com várias situações sociais ainda tão precárias?”, questionou.
Kalache ainda falou sobre a importância de adaptação de espaços – sejam eles cidades, ruas ou empresas – para as pessoas mais velhas. Tratar as pessoas com dignidade, em todas as faixas etárias, é a base para que, segundo ele, o Brasil possa combater o idadismo, como classificou o preconceito com as pessoas mais velhas.
“Esse preconceito é bem democrático, porque atinge desde o CEO de uma empresa, a pessoa mais rica, até a mais pobre. Basta envelhecer. E ele acontece também nas relações inter-pessoais, quando se deixa de ouvir a opinião da pessoa porque ela envelheceu, quando passa a não ser importante 0 que ela pensa, o que deseja. Até o momento em que essas pessoas internalizam e acreditam que, de fato, não merecem nada”, explicou.
Como caminhos para começar a resolver essa complexa questão, o médico sugeriu a valorização do que chama de três ‘P’s: população (com atenção e políticas voltadas e pensadas para um País que está a caminho do envelhecimento), participação (inclusão plena dos mais velhos em todas as atividades sociais) e produtividade (a visão desse grupo mais idoso como uma massa economicamente ativa, do ponto de vista de trabalho, e de geração de negócios e oportunidades). “Precisamos passar pela revolução da longevidade”, destacou.
O Blue Connections terá a quarta e última edição de 2024 ainda nesse semestre. Quer saber como se conectar com os decisores de marketing e comunicação participando da próxima edição? Agende uma reunião com Amanda Rocha pelo e-mail arocha@grupomm.com.br ou saiba mais acessando o site Assinatura Corporativa.
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