A importância do humor
Em um mundo dividido, as verdades mais profundas podem e devem ser ditas com leveza e inteligência.
Em um mundo dividido, as verdades mais profundas podem e devem ser ditas com leveza e inteligência.
Sempre presente em nossas vidas, o humor nos proporciona alívio em tempos difíceis e oferece uma lente crítica através da qual podemos observar a sociedade. Atualmente, em um mundo excessivamente polarizado, onde o pensamento binário – “a favor ou contra”, “aplauso ou ódio” – domina o discurso público, o humor se esconde, se torna cada vez mais escasso, justamente quando é uma ferramenta essencial. Até mesmo na publicidade, onde esteve sempre presente, não é mais usado para criar conexões emocionais que envolvem e promovem produtos de forma criativa e cativante.
Vamos nos lembrar e dar boas gargalhadas com o comercial da Head & Shoulders com Joel Santana – https://tv.uol/zEij, o comercial da Havainas – https://tv.uol/13G4Y, o da Semp Toshiba – https://tv.uol/13G46, o do tio Sukita – https://tv.uol/13G4u, entre tantos outros.
Mesmo nos momentos mais difíceis, como durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985), o humor foi uma forma de resistência. Humoristas e cartunistas usaram suas plataformas para criticar o regime, muitas vezes contornando a censura com ironia e sarcasmo.
O Pasquim, fundado em 1969, tornou-se um símbolo dessa resistência. O jornal satírico reunia uma série de colaboradores brilhantes, entre eles Jaguar, Ziraldo, Henfil, Paulo Francis, Sérgio Cabral, Ivan Lessa e Millor Fernandes. Seu conteúdo desafiador e irreverente logo chamou a atenção da censura e do regime militar, resultando na prisão de vários de seus membros em 1970. Apesar das repressões, o Pasquim continuou a publicar, utilizando o humor para criticar o regime e defender a liberdade de expressão. Vamos citar dois deles:
Ivan Lessa, sempre lembrado por suas frases mordazes que capturavam a essência da resistência através do riso, pela sua capacidade de transformar o medo e a repressão em humor, permitiu que muitos encontrassem uma forma de lidar com a opressão.
Frases Icônicas de Ivan Lessa: “Em terra de cegos, quem tem um olho emigra”, “A cada quinze anos, o Brasil esquece os últimos quinze anos”, “O último a sair, apague a luz do aeroporto”, “Se você juntar miséria e catolicismo, só pode dar besteira”, “Três entre quatro políticos não sabem que país é esse, o quarto acha que é a Suíça”.
Millôr Fernandes, utilizou sua habilidade literária e artística para criticar o autoritarismo, seu estilo único e crítico, ajudou a manter viva a chama do pensamento livre e da resistência através do humor.
Frases Icônicas de Millôr Fernandes: “Livre pensar é só pensar”, “Errar é humano, botar a culpa nos outros é estratégico”, “Ame-o ou deixe-o”, “A corrupção não é uma invenção brasileira, mas a impunidade é uma coisa muito nossa”, “Quando um político encontra uma solução, não há mais nada a fazer: ele descobre um problema novo”.
No cenário atual, o humor político continua relevante. Zé Simão, colunista da Folha de S.Paulo, é conhecido por suas piadas ácidas e irreverentes sobre a política brasileira. Sua abordagem humorística é uma continuação da tradição de usar o riso como arma contra a opressão e a corrupção.
Além de Zé Simão, Gregório Duvivier e Marcelo Adnet têm usado suas plataformas para promover um debate mais crítico e menos polarizado que vai muito além da simples descarga de serotonina proporcionada por um “like” nas redes sociais; estimulam o pensamento crítico e o engajamento mais significativo com as questões contemporâneas.
Em um mundo dividido, as verdades mais profundas podem e devem ser ditas com leveza e inteligência.
Concluímos com as palavras do grande intelectual Darcy Ribeiro, ditas quando recebeu o título de doutor honoris causa na Universidade de Sorbonne em 1978, enquanto estava exilado no Chile durante a ditadura: “Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.
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