Opinião
A importância do roteiro em uma produção
Praticamente em todos os casos em que um vídeo não atendeu a expectativa do cliente, quando puxamos o fio da insatisfação, vamos parar na etapa do roteiro no trabalho
Praticamente em todos os casos em que um vídeo não atendeu a expectativa do cliente, quando puxamos o fio da insatisfação, vamos parar na etapa do roteiro no trabalho
Quando assistimos a algum conteúdo audiovisual, de qualidade ou não, seja na televisão, nos streamings da vida ou aquele vídeo de vendas e treinamento que sua empresa precisa divulgar para padronizar sua comunicação, quase sempre, ou na maioria das vezes, um bom roteiro criado e aprovado é uma das peças fundamentais para o sucesso ou não do vídeo.
Gosto de quando me deparo com clientes que por alguma razão, seja verba disponível ou time enxuto, já viveu a experiência de produzir vídeos internamente sem uma estrutura técnica ou o apoio de uma produtora. Parece fácil, ainda mais com tanta tecnologia e recurso disponível para entusiastas do “faça você mesmo”, mas não é.
Produzir um vídeo é uma arte subjetiva, é o desafio de captar o que está na sua cabeça, na minha e na de todas as pessoas que estão envolvidas em tal produção para traduzir em algo tangível: o vídeo. A principal ferramenta que temos que nos indica se estamos no caminho certo ou não é o roteiro.
O roteiro é a planta baixa de um arquiteto, o google maps de um motorista, a semente de uma árvore, o passo a passo de uma receita e outras tantas analogias que poderíamos incluir aqui. O que todas essas coisas têm em comum? Um resultado final claro e previsível.
Não adianta reclamar para o pedreiro que o cômodo da casa ficou pequeno se as medidas já estavam previstas na planta do arquiteto. Não adianta o motorista ficar com o aplicativo de rotas aberto se não colocar um destino a seguir. Não adianta uma semente começar a desenvolver raízes na terra sem ainda ter decidido se vai ser uma figueira ou um pinheiro. Não adianta querer fazer um bolo se te falta o fermento.
O roteiro, dentro do processo de produção de vídeos, é o nosso mapa, o guia que vai conduzir o quê vai ser dito e como esse conteúdo vai ser representado visualmente. Ele sempre anda em dupla: uma coluna de conteúdo e uma coluna de imagem. É um “de > para” que vai ser respeitado pelas etapas seguintes do processo em andamento.
É fato que, em certa medida, há correções, adaptações e evoluções do vídeo possíveis de serem feitas nas etapas seguintes de design e animação, por exemplo. Há inclusive uma expressão irônica entre os profissionais de vídeo que diz “resolve na pós”, fazendo uma alusão à etapa de pós-produção. Embora em tom irônico, não deixa de ser um indicativo claro de consciência de que as etapas anteriores como briefing, roteiro e produção não estão sendo feitas ou aprovadas no caminho que deveriam, e assim como tudo na vida, uma hora a conta chega, quase sempre nesta etapa de pós-produção.
Ao longo dos mais de 15 anos de experiência em produções de vídeo corporativo, posso afirmar que praticamente em todos os casos em que o vídeo não atendeu a expectativa do cliente, quando puxamos o fio dessa insatisfação, vamos parar na etapa do roteiro.
Aprofundando mais esses desencontros de insatisfação, conseguimos chegar em alguns fatores fundamentais que devem ser olhados com atenção para um processo fluido entre quem pede tal coisa e quem executa para garantir resultados mais eficientes.
1º – O roteiro é o output de uma entrada, no caso o briefing:
Um roteiro completo e bem desenvolvido é resultado de um briefing feito de igual maneira: completo e bem desenvolvido. Os insumos, materiais e informações que o cliente envia, juntamente com uma estratégia definida e alinhamento entre os interessados de saber o que se quer com aquele vídeo, são justamente a pedra bruta que o time de conteúdo lapida até se transformar em um roteiro de qualidade. E aqui, toda informação conta.
Dá trabalho e demanda tempo de qualidade do cliente levantar, organizar, priorizar e validar essas informações para passar de maneira consolidada para a produtora, mas, que se negligenciada, certamente aumenta a quantidade de refações e ajustes feitos posteriormente, implicando em muitos casos em custos extras e cronograma prorrogado.
2º – Não dar atenção às descrições de cenas:
Descrição de cena, como o próprio nome diz, é descrever, ou seja, representar por meio de palavras uma cena, que pode ser entendido aqui por representação, ou ainda, por minha própria definição, a tradução visual do conteúdo que se deseja transmitir, mas ainda em palavras.
No caso de produções de vídeo animação, uma das etapas da nossa entrega é o concept art, que nada mais é do que todas as cenas ilustradas do vídeo, mas ainda estáticas. Essas cenas não são criadas “do nada”, são criadas e desenvolvidas justamente a partir das descrições de cena do roteiro aprovado.
Não é incomum chegarmos nessa etapa e o cliente não se sentir representado, mas que ao colocarmos as duas entregas – roteiro aprovado e primeira versão do concept art – lado a lado, ele finalmente consegue tangibilizar o que aprovou em texto.
Essa é, de fato, uma etapa que exige bastante dos clientes que estão responsáveis por aprovar o vídeo. Se faz necessário uma habilidade criativa e de visualização, que, ao ler o roteiro de conteúdo e descrição de cena, de alguma forma, precisa conseguir traduzir em estética visual no seu imaginário. É um exercício que exige esforço e prática, e que transparece nas inseguranças e diferentes dúvidas que surgem de clientes que já possuem experiência e tempo de tela no desafio de produzir vídeos dos clientes que ainda estão nas suas primeiras produções.
Soma-se a isso também, o desafio que normalmente temos de mais de uma pessoa solicitando e aprovando o vídeo, ou seja, a validação e entendimento das descrições de cenas precisa estar alinhada entre todos os envolvidos.
Entender e aprender a validar as descrições de cenas certamente é caminho seguro para avançar na produção de maneira mais assertiva e eficiente.
3º – Repertório – amplo ou escasso – do time de conteúdo:
Como disse acima, com todos os insumos de qualidade enviados pelo cliente, é papel do time de conteúdo lapidar esse material bruto até chegar no roteiro ideal. Parece fácil e rápido. “É só escrever” diriam uns, mas na prática, para um bom time, não é bem assim.
Há quem pense que para escrever um bom roteiro de vídeo basta ser bom com palavras, ortografia e português fluente. Mas as habilidades e repertório que se exige para um resultado excelente vão muito além.
No caso das produções de vídeos corporativos, mais do que ser bom com palavras é preciso entender de negócios. As demandas, sejam de vídeos internos ou externos, são normalmente para complementar alguma estratégia maior: vender mais, treinar melhor, engajar público, explicar um produto ou serviço e por aí vai. Se o time de roteiristas não conseguir entender as motivações e estratégias envolvidas com aquele vídeo, dificilmente irá conseguir traduzir para um roteiro pertinente.
Um amplo repertório de referências de vídeos também faz toda a diferença. Temos muitos gigas de vídeos disponíveis na internet, de todos os tipos, idiomas e temas. Quanto mais diversa forem essas pesquisas e estudo de como representar visualmente mensagens específicas, melhores criações teremos.
E, por fim, ao traduzir a estratégia em um texto resumido que vai ser representado visualmente da maneira tal, é preciso lembrar que tudo isso estará em movimento. Então além de ser bom com traduções e representações em palavras, precisa pensar em como será o comportamento animado de tudo isso junto. Eis aqui um bom roteiro.
Certamente, se seguirmos nessa conversa, vamos conseguir levantar outros pontos igualmente importantes para que o processo de criação e produção que envolve cliente e produtora esteja cada vez mais alinhado e fluído para o único objetivo em comum entre as partes: a entrega final de um vídeo de qualidade e que cumpra sua função.
Precisamos ainda deixar de lado as iniciativas atropeladas que, na tentativa de cumprir prazos inadequados, não permitem dedicar o tempo de qualidade necessário a essa importante etapa ou que ainda subjugam sua necessidade e insistem em pular a etapa do roteiro, mas que não entendem que no fim, estão fazendo o roteiro direto na ilha de edição.
O que não podemos deixar de lado é a compreensão da importância do roteiro, uma das etapas iniciais de uma produção, e que está diretamente ligado ao resultado final do vídeo.
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