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A nova falsificação das artes visuais

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Opinião

A nova falsificação das artes visuais

Produção musical moderna, onde tudo é possível, remete às técnicas dos falsificadores de quadros


16 de março de 2021 - 14h22

A produção musical moderna tem muito a ver com o que nas outras artes é chamado de falsificação. E não quero dizer isso de um jeito negativo. Os recursos de um bom falsificador nas artes plásticas, por exemplo, são a noção geral da obra de quem quer falsificar, o uso dos materiais corretos e a simulação da idade da obra. Na produção musical em 2021, onde tudo é possível, com conhecimento suficiente, pode-se simular gravações de todas as eras e tecnologias anteriores. Os meios estão aí.

Falsificação de obra do artista Mark Rothko, um dos casos comentados no documentário Fake Art, em exibição na Netflix

A publicidade é um caminho fantástico para se desenvolver como produtor musical. Produtores de discos, com raras exceções – especialmente no Brasil – se especializam em um estilo apenas. A publicidade traz aquela imprevisibilidade sobre qual será o próximo briefing, qual será a próxima aventura musical que teremos que embarcar. Será a recriação de um clássico da MPB, um James Brown, uma boy band coreana, uma ópera, um ska? Qualquer que seja a ideia, haverá um objetivo muito claro e muita gente para dar opinião, inclusive, e talvez de modo ainda mais relevante, o público final da peça. Todos terão que ser convencidos.

E é aí que entram as técnicas que eu brinco de comparar com a dos falsificadores de quadros. Tudo com o intuito de trazer o ouvinte ao contexto desejado, com todos os argumentos sonoros para corroborar a autenticidade da experiência que queremos proporcionar. Existem plugins simuladores de tape, vinil, rádio, microfones antigos, salas e halls específicos, afinação, multiplicação de vozes. Recentemente, usamos uma locução em inglês de um menino de oito anos que foi gravada por um adulto, mas com a modificação do “formant”, ficou parecendo uma voz de criança perfeita.

Isso explica também o fascínio por equipamentos antigos no meio musical. Guitarras que são feitas para parecer antigas, microfones, mesas de som, teclados, tudo que é antigo vale mais e é disputado no tapa. Isso porque para se atingir um resultado convincente de produção, nada melhor do que ter à mão a mesma tecnologia utilizada nas gravações originais.

Mas de nada basta a nave sem o piloto e sem o curso de voo, é sempre bom lembrar. Recentemente fiz a produção de uma música Enka, estilo japonês equivalente ao nosso brega dos anos 70. Busquei uma cantora japonesa em Tóquio e fiz uma instrumentação com elementos que pinçados de várias músicas desse mesmo estilo, depois de passar dias ouvindo só isso. Criei uma melodia com os mesmos maneirismos até chegar num resultado que impressionou até a nossa cantora e seus colegas músicos japoneses — uma verdadeira falsificação musical.

Parte importante disso foram as técnicas antigas de gravação e mixagem, não apenas a composição e a pesquisa de estilo. Uma boa “falsificação” depende do profundo conhecimento do que se está falsificando. E em música isso significa que se você não tem uma cultura orquestral, capaz de discernir os diferentes períodos e escolas, por exemplo, nem os melhores equipamentos e recursos farão da sua cópia de uma sinfonia algo convincente.

**Crédito da imagem no topo: Audioundwerbung/iStock

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