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A síndrome da irrelevância

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Opinião

A síndrome da irrelevância

Ou a pobreza do pensamento de visibilidade a qualquer preço


12 de novembro de 2024 - 6h00

“Nada agrava mais a pobreza do que a mania de querer parecer rico ou bem-sucedido.” Essa adaptação de uma máxima financeira para a nossa era captura perfeitamente o cenário atual das redes sociais e do mundo corporativo: uma corrida frenética por visibilidade, custe o que custar. Essa sede insaciável se alimenta de declarações vazias e polêmicas banais, sintomas claros da Síndrome da Irrelevância. Esse contexto me faz lembrar de outro ditado: “Tem gente que é tão pobre, que só tem dinheiro”.

A promessa das redes sociais era a democratização da comunicação: lugares nos quais todas as pessoas teriam voz. No entanto, essa promessa foi corrompida, e os espaços digitais se transformaram em palcos para exibicionismos e falas controversas, muitas vezes focadas mais em autopromoção do que em contribuições substanciais ao debate público.

Recentemente, declarações machistas de um executivo-coach sobre mulheres em cargos de CEO mostraram como a visibilidade pode se voltar contra o emissor. Figuras proeminentes, como Luiza Trajano, utilizaram suas plataformas para desafiar esses estereótipos, transformando comentários imprudentes em debates sobre gênero e competência.

A melhor resposta está em promover uma mudança cultural profunda, tanto nas plataformas digitais quanto nos ambientes corporativos. É essencial que pessoas sensatas, empresas e líderes adotem uma postura rigorosa. Devemos cultivar um ambiente no qual a transparência, a responsabilidade e a autenticidade sejam mais valorizadas do que a simples notoriedade. O “cancelamento” deve ser uma resposta séria a profissionais que escolhem a mediocridade como estratégia para se fazerem visíveis.

Esta não é apenas uma questão de optar por não apoiar indivíduos que se promovem irresponsavelmente. É, também, sobre incentivar conteúdo que enriquece, educa e eleva, e participar ativamente na criação desse conteúdo. Precisamos de mais vozes que falem com seriedade sobre os temas da nossa sociedade – tenho a sorte de conhecer algumas. Devemos incentivar o pensamento crítico e a reflexão nas pessoas que consomem conteúdo, ajudando a discernir o que é meramente sensacionalista e o que é valioso.

A questão central, portanto, é reverter a lógica que privilegia o barulho em detrimento da substância. As redes sociais, ao mesmo tempo que democratizam a fala, criam um ambiente em que a superficialidade pode facilmente ser confundida com relevância. Isso resulta em uma sociedade em que os algoritmos favorecem conteúdos polêmicos e pouco construtivos, promovendo uma espiral de discussões medíocres. Para escapar dessa armadilha, é preciso que tanto quem consome quanto quem cria conteúdo cultive uma visão crítica, resistindo à tentação do sucesso instantâneo e fugaz. A verdadeira transformação só será possível quando passarmos a valorizar o mérito e o conhecimento, em vez de nos contentarmos com o espetáculo vazio.

Encerro com um convite: vamos rejeitar o apoio a profissionais e palestrantes que buscam atenção por meio da mediocridade. Vamos valorizar a integridade e a qualidade, priorizando aquelas pessoas que realmente contribuem para o avanço social. A verdadeira riqueza, hoje, deve ser medida pelo impacto positivo das contribuições, restabelecendo a dignidade de nosso diálogo nas redes sociais e no mundo corporativo.

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