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China: a nova fronteira do varejo

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Opinião

China: a nova fronteira do varejo

As vendas chinesas devem atingir US$ 5,636 trilhões este ano, um aumento de 7,5%, contra os US$ 5,529 trilhões dos Estados Unidos, que avançaria 3,3%


29 de maio de 2019 - 19h03

Rede chinesa de supermercados Hema (crédito: reprodução)

O varejo na China tem ultrapassado barreiras e atraído a atenção do mundo todo. A combinação de sua enorme população com sua forte economia é responsável pelo crescimento de um mercado consumidor gigantesco. Com uma classe média de 400 milhões de pessoas, a China é um mercado obrigatório para aqueles que estudam o avanço do varejo em vários países. Segundo pesquisa do eMarketer, o país vai superar os Estados Unidos no comércio a varejo em 2019. Estudos apontam que as vendas chinesas devem atingir US$ 5,636 trilhões, um aumento de 7,5% em um ano, contra os US$ 5,529 trilhões dos Estados Unidos, que avançaria 3,3%.

Certamente, esses dados explicam parte do fenômeno de vendas no “Dia do Solteiro”, quando somente o Alibaba – gigante do varejo online chinês – vendeu US$ 30,8 bilhões neste único dia em 2018 – cinco vezes mais que todo o varejo americano na Black Friday e mais do que todo o varejo online brasileiro durante o ano de 2018.

Em viagem à Ásia no final de 2018, foi possível entender um pouco do varejo chinês e o que os especialistas vêm chamando de “New Retail”. Um exemplo é a Luckin-Coffee, empresa fundada em Beijing, em 2017, e que hoje conta com mais de duas mil unidades na China. Sem atendimento ao público na maioria das suas lojas, somente delivery e pick-up (comprar online e escolher onde pegar os produtos), as transações da Luckin-Coffee são feitas por meio de celular. Hoje, seu valuation ultrapassa US$ 2 bilhões, com plano de expansão que deve ultrapassar a Starbucks até o final deste ano em número de lojas – mais de 4,5 mil.

Outra operação que impressiona é a do Hema, rede de supermercados pertencente ao Alibaba. No Hema, todos os caixas são self-checkouts, com pagamentos via reconhecimento facial. Na loja de Hangzhou, havia mais funcionários do que clientes fazendo compras em cada uma das seções. Eles faziam o picking para atender os pedidos online, com entrega em menos de 30 minutos para os clientes em um raio de três quilômetros da loja. O supermercado conta com um sistema de esteiras aéreas que agiliza o processo, envia os produtos para a área de expedição, onde os entregadores carregam as suas motos elétricas, e saem para as entregas. O Hema possui cerca de 50 lojas, com plano de expansão de mais de duas mil unidades até 2022.

Na China, tudo é muito dinâmico. O negócio é tão acelerado que é possível ver saltos enormes em termos de tecnologia. Os chineses passaram do uso do dinheiro vivo para o pagamento via mobile. No comércio eletrônico, eles foram direto para o “mobile commerce”, sem praticamente ter passado pelo e-commerce.
Entender o tripé consumidor-governo-empresas é fundamental para ter a correta perspectiva sobre o mercado do país asiático. Cada vez mais, os consumidores possuem renda disponível e estão dispostos a fazer upgrades nos seus hábitos de consumo. Mais do que adotar, o consumidor chinês abraça, rapidamente, as novas tecnologias e tem pouca preocupação com temas relacionados à privacidade de dados.

O governo tem um papel essencial, definindo as políticas macro, as prioridades e os investimentos. Hoje, a China é o país mais avançado em inteligência artificial, pois o governo elencou o tema no plano de cinco anos, estabeleceu cronograma, alocou recursos, definiu as áreas prioritárias e passou a responsabilidade para as empresas desenvolverem a tecnologia.

As empresas chinesas têm um ambiente muito propício para inovação. De um lado, uma disponibilidade de mão de obra altamente qualificada. Do outro, um mercado com renda e ávido por consumir novidades.

Mais do que tecnologia, as empresas do país têm criado modelos de negócios inovadores, onde os dados e informações dos clientes são capturados, analisados, segmentados e utilizados para gerar valor. Segundo Ming Zeng, CSO do Alibaba, as empresas precisam automatizar as suas decisões operacionais e seguir quatro passos: 1. transformar em dados cada interação com o consumidor; 2. transformar em software cada atividade; 3. manter a fluidez dos dados; e 4. aplicar algoritmos.

O varejo brasileiro parece estar longe desta realidade. Será mesmo? O caminho passa pela evolução do modelo de negócios, por configurações menos rígidas e mais colaborativas, em que grandes empresas possam se beneficiar da capacidade de inovação das startups e essas possam se beneficiar da escala das grandes empresas. É preciso estar atento às mudanças e inovações do varejo chinês, entendendo as diferenças entre as duas realidades de mercado, avaliando o que faz sentido para o Brasil. Afinal, a China é a nova fronteira do varejo.

*Crédito da imagem no topo: Reprodução

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