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De subestimado a MVP da NBA

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Opinião

De subestimado a MVP da NBA

Como nós profissionais podemos nos inspirar no Stephen Curry


7 de fevereiro de 2024 - 6h00

Para começo de conversa, se você ainda não assistiu Stephen Curry: Subestimado, na Apple TV, vale a pena colocar na sua lista. O documentário conta a trajetória do jogador de basquete profissional, dos treinos com os pais na infância ao topo na NBA. Talvez esse artigo dê spoilers e já estou me desculpando por isso, mas preciso dividir as reflexões que algumas frases do armador do Golden State Warriors me trouxeram.

Mas antes, vamos voltar para 2009, no relatório do draft sobre o jogador: “Muito abaixo do padrão da NBA em força explosiva e porte atlético. Medindo 1,88m, ele é muito pequeno para a posição de ala-armador na NBA. Não dependa dele para liderar seu time. Pode exagerar na força e ser precipitado nos arremessos. Não gosta quando a defesa é muito violenta. Não é um bom finalizador perto da cesta, por seu tamanho e atributos físicos. Precisa ganhar músculos na parte superior do corpo dele, mas parece que ele sempre será magro”.

Você recrutaria alguém para o seu time a partir dessa descrição? Parece uma má ideia, certo? Mas ele foi recrutado e conquistou quatro campeonatos da NBA, ganhou três vezes o título de MVP (Most Valuable Player) sendo dois da NBA e uma das finais do campeonato da liga, e bateu o recorde histórico em cestas de três pontos. O que me encantou no nosso protagonista não foi seu status e sim a mentalidade de um profissional subestimado durante toda a sua carreira, que soube do seu valor desde o início. Nas palavras dele:

“Minha tentação na época era pensar no que eu não conseguia fazer, mas eu sabia que podia arremessar. Isso foi uma das coisas que eu trouxe pro time. Eu sou diferente, mas tenho algo a oferecer”. Em um contexto em que nos comparamos com os outros e somos comparados o tempo todo, precisamos saber o que nos diferencia. E, para além disso, precisamos da nossa própria validação antes de buscarmos validação externa. No viés dos gestores, o olhar para o que cada um soma ao time é fundamental. Dessa forma construímos times complementares que se tornam uma unidade completa.

Em uma passagem em que Stephen descreve a conversa entre o técnico da faculdade que estava buscando recrutá-lo e sua mãe, ele relembra: “Antes do técnico sair, minha mãe o agradeceu pela oportunidade. E no fim, ela disse: ‘Relaxe, vamos engordá-lo para você’. E o técnico virou, olhou pra ela e disse: ‘Não se preocupe com isso. Nós o queremos do jeito que ele é’. Isso me deu muita confiança em relação ao reconhecimento dele pelo que eu tenho a oferecer.”

Reforçando o ponto sobre o olhar da gestão, saber reconhecer o que cada pessoa tem de melhor e/ou potenciais a desenvolver pode definir o futuro de sua carreira. Comunicar isso a cada colaborador ajuda a desenvolver confiança e autoestima, como aconteceu com o jogador. E vale o complemento aqui com mais duas frases inspiradoras: “Sou abençoado por ter tantas pessoas na minha vida que tiraram um tempo pra prestar atenção em quem eu realmente era. Sempre lembrarei disso” e “Não fazemos nada sozinhos nessa vida. A confiança do grupo é o nosso superpoder”.

Stephen destaca a importância do trabalho em equipe para o sucesso do time em vários momentos do documentário. Não só olhando para os resultados positivos que a boa sinergia traz, mas também para a construção e reforço da confiança dos indivíduos. Ainda sobre esse tópico, ele também conta uma conversa importante que o técnico da universidade teve com os jogadores depois de uma fase ruim em um campeonato: “Sabemos que não somos os mais atléticos, nem os mais talentosos, mais altos ou rápidos. Mas se pudermos jogar como um time em harmonia, podemos competir com qualquer um.”

Pensando na frase “todas as pessoas com as quais joguei estão comigo toda vez que eu piso em quadra”, compartilho com Stephen o olhar para as pessoas que estão conosco todos os dias, que nos ensinam, nos incentivam, tiram o melhor de nós, enfim, fazem parte da nossa jornada profissional. Vamos nos construindo com base em modelos do que vivenciamos, somando ao nosso talento exemplos que queremos repetir e que não queremos ser de jeito nenhum. As pessoas que caminham com a gente nos ajudam a planejar nossos passos e impactam o nosso destino.

“Nada disso seria possível sem você”, ele fala para o técnico da faculdade, destacando a compaixão, generosidade, cuidado e amor do profissional por todos que trabalharam com ele. Nessa passagem temos dois pontos de vista, o do colaborador, que nutre gratidão e dá valor a quem deu valor a ele e foi tão importante na construção da sua carreira, e o ponto de vista do gestor, que tendo seu olhar humanizado tocou de forma tão profunda e longeva a vida do atleta.

Falando do técnico, no primeiro jogo que ele foi assistir do Stephen, ainda no colégio, o que impressionou foi a força emocional do jogador, que ele define como rara e que faz toda a diferença. Bob McKillop conta como foi interessante ver que Curry fazia jogadas ruins, errava arremessos, mas nunca parava de jogar. E na sequência vinha uma oportunidade e ele fazia uma jogada espetacular. Nunca pare de jogar.

Por fim, o tema que dá nome ao filme: “A sensação de ser subestimado sempre fará parte da motivação que me fez continuar. As críticas são incentivo”. Por diversas vezes são exibidas falas brutais sobre Stephen e o Warriors. Comparam eles a times com jogadores mais jovens e atléticos e como isso faz deles menos competitivos, criticam sua performance, desacreditam sua capacidade de chegar a mais uma final (a que eles acabam ganhando, para a tristeza dos inimigos), e por aí vai.

A humildade e a generosidade de Stephen são encantadoras, ainda mais quando vemos os documentários regados a ego de outros jogadores consagrados de basquete. O valor que ele dá para as pessoas que olharam de verdade para ele, que reconheceram seu valor apesar de todas as críticas e preconceitos, que ajudaram de alguma forma no sucesso que ele atingiu é lindo de testemunhar. Mais do que troféus, ele carrega gratidão. Ele sabe que venceu, mas que sozinho jamais venceria.

Trabalho em equipe, diferencial que soma, times plurais que se completam, validação interna silenciando o barulho externo, nunca parar de jogar, gestão humanizada e individualizada, humildade, generosidade e gratidão. Stephen, você ganhou uma fã.

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