31 de março de 2017 - 11h00
Uma recente pesquisa do Peterson Institute for International Economics apontou que ter mulheres em altos cargos de liderança pode aumentar os lucros de uma companhia. Empresas que incrementaram a presença de mulheres em até 30% em cargos de alta hierarquia viram, em média, um crescimento de 15% em sua rentabilidade, segundo o estudo, que ouviu 22 mil companhias em 91 países.
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Já o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) aponta que, no Brasil, 18,4% mais mulheres concluem a universidade do que homens e 59,2% dos formandos em faculdades brasileiras são mulheres. Se algum habitante de outro planeta desse de cara com esses dados concluiria que aqui no país – e em boa parte do mundo – as mulheres dominam o mercado de trabalho e estão em pé de igualdade com os homens. Isso, sem contar o fato que de as mulheres são as principais influenciadoras do consumo familiar. Mas, ao conhecer de perto a nossa realidade, o pobrezinho ficaria totalmente decepcionado.
Vamos apresentar a ele o nosso cenário: ainda, cerca de 60% das empresas não possuem mulheres em seus conselhos e mais de 50% não têm executivas mulheres no C-level (topo da hierarquia). Menos de 5% delas têm uma CEO mulher. Ao olhar somente para o Brasil, das 867 companhias de capital aberto no Brasil, analisadas em pesquisa da FGV, 66,5% não têm uma única mulher na diretoria executiva e quase metade (48%) não têm a presença de executivas em seus conselhos de administração. Já, nas diretorias executivas, há uma tímida evolução de 4,2% para 7,7% (dados do Grupo de Pesquisas em Direito e Gênero da FGV).
Engana-se quem pensa que esse quadro atinge apenas alguns mercados tradicionalmente masculinos como TI, por exemplo. O universo publicitário também padece de executivas no topo da pirâmide. Um levantamento do Meio & Mensagem apontou que em 30 das maiores agências do país a presença feminina na criação é, em média, inferior a 20% do total de funcionários da área – em funções de liderança ou na cadeira de diretoras de criação, as mulheres criativas são menos de 6% (dados de dezembro de 2015). Para alguns especialistas, o desequilíbrio de gênero reflete uma visão menos aberta e diversa na área. Já é comprovado que a proporção mais equânime entre homens e mulheres em cargos de liderança traz importantes benefícios para atingir as metas estratégicas das empresas.
Cerca de 60% das empresas não possuem mulheres em seus conselhos e mais de 50% não têm executivas mulheres no C-level (topo da hierarquia). Menos de 5% delas têm uma CEO mulher
No segmento de comunicação e publicidade todos já perceberam que o público é cada vez mais exigente, crítico e segmentado. E essa característica exige um olhar apurado e diversificado para as campanhas e peças criativas. Vale destacar aqui que, se nas agências mais homens mandam, nos domicílios é a mulher que manda. Segundo a Kantar Ibope Media elas correspondem a 53% da audiência da TV aberta e 51% na TV paga.
Por isso, o mercado, embora predominantemente masculino nos maiores patamares hierárquicos, vem buscando debater e promover a equidade de gênero. De outro lado, marcas importantes nacionais e internacionais têm buscado olhares diferentes para a questão da mulher em suas campanhas, especialmente, pelo empoderamento feminino. Avon, Boticário e Neutrogena são algumas delas.
O caminho ainda é longo, sobretudo, no que diz respeito às mudanças de comportamento, basta ver a reprodução de estereótipos em reality shows nacionais que colocam a mulher num papel em que nada há de equânime. No entanto, não é uma estrada intransponível. Uma porta está, aos poucos, se abrindo. O segmento de comunicação também, aos poucos, está percebendo a necessidade e os efeitos positivos de trazer as mulheres para o debate. De trazê-las para as salas das decisões estratégicas.
Como disse Bill Gates, certa vez, nenhum país pode atingir seu pleno potencial ignorando metade de sua população.