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Opinião

Hora de dizer não às propagandas de bets

A influência de artistas nas comunidades expõe uma dura realidade: a normalização das apostas precisa ser desafiada por celebridades e veículos de mídia


17 de outubro de 2024 - 14h14

A participação de celebridades em campanhas publicitárias de casas de apostas online vem ganhando força no Brasil, mas a um custo muito alto para as comunidades mais vulneráveis. De acordo com a pesquisa “Casas de Apostas BETS nas Favelas do Brasil”, do Instituto de Pesquisas Favela Diz, 55,4% dos moradores de favelas afirmam que a presença de artistas e influenciadores digitais influencia diretamente a escolha da plataforma de apostas; 58,4% se sentem mais inclinados a usar uma plataforma promovida por uma celebridade admirada; 84,4% foram influenciados por propaganda a modificar o valor das apostas; 63,7% já tomaram decisão de apostar com base em propaganda.

Esse vínculo entre a imagem de celebridades e a confiança do consumidor está promovendo uma prática que tem gerado sérios problemas econômicos e sociais nas favelas do Brasil. Em uma população de mais de 18 milhões de brasileiros, 7 em cada 10 moradores são apostadores, e quase metade deles jogam todos os dias (45,2%) – a outra quase metade joga semanalmente (47,6%).

Dados financeiros revelam que as casas de apostas investem bilhões em publicidade, patrocinando desde influenciadores digitais até grandes eventos esportivos. No Brasil, estima-se que mais de R$1,5 bilhão por ano seja destinado a contratos publicitários com times de futebol. Em 2024, 95% dos clubes da Série A do Campeonato Brasileiro são patrocinados por empresas de apostas, ou seja, apenas 1 time (Palmeiras) não tem. Isso sem contar os volumosos contratos com influenciadores digitais, que, na maioria das vezes, promovem essas plataformas sem a devida conscientização dos impactos negativos.

O problema se agrava nas favelas, onde 70% dos moradores jogam regularmente, e os mais jovens são os mais expostos a esse tipo de propaganda. O estudo revela que 44% dos jogadores têm entre 18 e 24 anos, e 58,4% dos entrevistados disseram que se sentem mais inclinados a utilizar uma plataforma promovida por uma celebridade que admiram.

Além da influência nociva dessas figuras públicas, o impacto econômico nas comunidades é devastador. Com mais de R$37 bilhões sendo gastos anualmente em apostas, o dinheiro que antes circulava no comércio local agora está sendo desviado para plataformas de apostas, muitas delas com operações nebulosas e fora do controle do governo brasileiro. Esses recursos, que poderiam ser investidos em necessidades básicas, estão alimentando o vício em jogos e o fechamento de pequenos negócios.

A responsabilidade de artistas e veículos de mídia é clara: é hora de dizer “não” às propagandas de casas de apostas. Ao promover essas plataformas, celebridades estão normalizando um comportamento que traz prejuízos para a saúde financeira e mental de seus seguidores. A coragem para recusar esses contratos bilionários pode ser o primeiro passo para proteger as comunidades brasileiras de um ciclo destrutivo.

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