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Opinião

Leia: vai ser bem rápido!

A tecnologia disponível, se usada com inteligência e alternativa em vez de substituição, pode melhorar a vida de muita gente


16 de março de 2020 - 11h32

(Crédito: Nikada/ iStock)

Três coisas impressionam e acabam conversando entre si: o Hyperloop, o trabalho remoto e, mais recentemente, a crise do coronavírus. Vou tentar ser rápida na explicação, mas nada chegará perto do que vem por aí quando falamos em velocidade. Comecemos pelo Hyperloop: um transporte que só vimos parecido em filmes de ficção. Entraremos em um tubo que será enviado ao seu destino a 1.080 km/h — mais rápido que um avião. Isso quer dizer que, em menos de 30 minutos, você sairá de Las Vegas e chegará a Los Angeles. A história toda está no livro O Futuro É Mais Rápido do que Você Pensa, de Peter H. Diamandis e Steven Kotler. Tudo pensado pela equipe do Elon Musk, que teria ficado indignado com o projeto de um trem- bala superlento e supercaro. Muita gente gostou, investiu e, juntos, criaram a Hyperloop One, que já tem uma dezena de megaprojetos em diversos estágios de desenvolvimento.

O prometido é que, até 2025, haja testes iniciais com passageiros. E não vamos viajar só em tubos, mas em foguetes também. Aqui, Musk quer usar o megafoguete Starship da SpaceX, com velocidade mais rápida que o jato supersônico. Concorde, para levar humanos até Marte e “a qualquer lugar na Terra em menos de uma hora”. Musk prometeu que, pelo preço de uma passagem aérea econômica, seus foguetes nos levarão de Nova York a Xangai em 39 minutos, de Londres para Dubai em 29 minutos, de Hong Kong para Cingapura em 22 minutos. E, para quem quiser acompanhar, testes já estão marcados para abril deste ano.

Mas, se pensar em entrar em um tubo ou foguete não é a melhor conversa em tempos de coronavírus, o livro também fala que, com o 5G, será possível ter “avatares robóticos” com uma realidade virtual hiper-realista, o que praticamente anula o conceito de distância, substituindo as viagens humanas por telepresença imediata. A diferença é que os robôs serão nossos avatares e vão nos dar a sensação perfeita de que fomos teletransportados. Interessante, mas não estranho, é que uma empresa aérea que, supostamente, seria afetada pela nova tecnologia é, justamente, quem está desenvolvendo um robô avatar chamado Newme: a All Nippon Airways (ANA), a maior companhia aérea do Japão, que não é boba nem nada e já vê seus robôs como uma opção de viagem ilimitada.

O que, de fato, parece que será. Mas, enquanto não é, o trabalho remoto com o que já temos de tecnologia disponível só cresce. Já ouvi várias vezes que as empresas que adotaram a tecnologia há 20 anos substituíram todas as empresas que não o fizeram. E que as empresas que adotam o trabalho remoto substituirão todas as empresas que não o fizerem em 20 anos. Além de prometer os melhores talentos e, consequentemente, mais eficiência, esse modelo traz algumas vantagens que, se bem usadas, podem ser muito positivas.

A possibilidade de experimentar mais e de poder errar e aprender mais rápido é uma delas. Acessibilidade é a palavra para ter talentos. O Brasil vem perdendo grandes talentos para o sonho de morar no exterior e no interior. A cidade grande ficou opressiva demais. As imensas distâncias e os escritórios excluem gente interessante demais que, em países mais avançados, colocam a opção de trabalho remoto como condição para trabalhar. No Brasil, a exclusão de talentos muitas vezes se dá pelas condições sociais, a internet pouco acessível, o desconhecimento de talentos geniais que não têm a visibilidade que deveriam. Tudo isso tem que mudar na velocidade do Hyperloop ou a eficiência tão desejada vai fechar empresas que ainda teimam em não incluir esse modelo. Agora, a última parte: o coronavírus levantou essa questão urgente de forma urgentíssima.

Quem não estava preparado está tendo que ficar. Até a data em que escrevo esse artigo, duas grandes empresas já tinham mandado parte de seus funcionários trabalhar remotamente por terem tido casos de pessoas infectadas na equipe. Duas escolas de elite querem fechar por tempo indeterminado e se dizem aptas a seguir com as aulas de forma remota. A ANA ainda não tem seu robô avatar disponível para nós, mas a crise da aviação já chegou.

Com o pânico generalizado, gente lotando supermercados pelo mundo para estocar comida, grandes eventos sendo cancelados, talvez mais empresas descubram o que a IBM, a Microsoft, a Apple e tantas outras já sabem: que trabalho remoto é sobre a qualidade do trabalho. E, como somos humanos, o tempo usado para garantir isso depende da qualidade de vida. E de repente não é pelo Covid-19. A vida ficou mais importante, mais urgente, mais frágil!. Importante dizer que nada nunca vai substituir o contato, a vivência ou o toque humano, mas a tecnologia remota, se usada com inteligência, sem exageros e como uma alternativa em vez de uma substituição, pode melhorar bem rápido a vida de muita gente.

*Crédito da foto no topo: DKosig/ iStock

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