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Marcas mal começaram a explorar o verdadeiro potencial da revolução tecnológica


2 de julho de 2018 - 14h51

Crédito: Chepko/iStock

A reportagem de capa da mais recente edição da Foreign Affairs, para o bimestre julho e agosto, é uma coleção de artigos sobre temas em ebulição no mundo de hoje, com imenso impacto sobre o modo como viveremos nas próximas décadas. Dentre assuntos como liberalismo, geopolítica e aquecimento global, o texto do jornalista Kevin Drum sobre o universo da tecnologia ressalta a amplitude da transformação a ser impulsionada pela revolução digital.

Para estabelecer uma referência que contemplasse a compreensão real do potencial dessa revolução, o autor invocou a grandiosidade da Revolução Industrial, a qual classifica como o acontecimento geopolítico mais importante do século 19, pois condição sine qua non para adventos como a democracia, o capitalismo e os pleitos por igualdade social. Na esteira do que já projetaram grandes pensadores contemporâneos, ele afirma que o impacto da Revolução Industrial no mundo nos últimos 200 e tantos anos será fichinha perto da disrupção a ser causada pela revolução digital na organização de nossas vidas e na geopolítica global.

“A Revolução Industrial mudou o mundo, e tudo o que fez foi substituir os músculos humanos. Cérebros humanos continuaram necessários para construir, operar e manter as máquinas — e isso gerou bastante emprego com bons salários para todos. Mas a revolução digital substituirá o cérebro humano”, escreve Drum. Ele pondera que essa revolução, na verdade, nem começou. Uma revolução digital, quando acontecer para valer, aumentará a produtividade da economia global, como aconteceu na Revolução Industrial e não acontece neste momento. E que apesar de as maravilhas da tecnologia moderna estarem por toda parte, na prática tudo o que foi inventado até aqui são apenas “brinquedos melhores”.

Guardadas as diferentes proporções dos temas, a mesma comparação pode ser aplicada para o nosso mercado, no sentido de desconhecermos o potencial tecnológico para a transformação do nosso trabalho — especialmente para aumentar a oferta de tempo para os cérebros humanos serem essencialmente criativos, principal ativo a diferenciar as empresas de comunicação e algo que as máquinas ainda levarão, nas hipóteses mais breves, mais 30 anos para alcançar. Convidado por Meio & Mensagem para analisar a categoria Innovation durante o Festival Internacional de Criatividade de Cannes, Fred Saldanha demonstrou decepção com a natureza dos trabalhos destacados para o shortlist, que praticamente só apresentou um case envolvendo produtos e grandes marcas, entre os 21 selecionados, sendo a grande maioria feita para ongs e o Terceiro Setor.

“Adoraria ver ideias para marcas que fazem parte das nossas vidas e que têm o poder de chegar nas casas de todo mundo. Acredito que esse seria o papel do Innovation Lions, de inspirar os grandes clientes a dar um salto para o desconhecido, seja investindo em novos produtos ou em frágeis protótipos”, avaliou o diretor executivo de criação da Arnold Worldwide Boston, que também esperava ver mais ideias usando inteligência artificial.

Meses atrás, durante apresentação no SXSW, a Coca­Cola deu uma ideia de como o bom uso da capacidade das máquinas de gerar dados para insights transformadores pode ter impacto relevante nos negócios de forma holística, envolvendo marca, produto e logística, e acelerando os processos de pesquisa, desenvolvimento e lançamento da companhia. A máquina de autoatendimento Freestyle permite ao usuário misturar aproximadamente 170 diferentes produtos Coca­Cola para compor uma bebida customizada. As informações de milhares dessas máquinas conectadas detectaram que a mistura dos sabores Sprite e Cherry era um sucesso absoluto em determinadas regiões dos Estados Unidos. Ao colocar o novo refrigerante Sprite Cherry nos pontos de venda, a projeção de que havia um público ansioso por essa oferta vinha da fonte mais precisa e confiável — as próprias pessoas!

Sob o ponto de vista do consumidor, conseguir misturar diferentes sabores de refrigerantes para criar uma versão personalizada ao bel prazer também pode ser categorizado como um brinquedo mais divertido. Mas o processo propiciado pela Freestyle para a criação de um novo produto para a Coca­Cola estabelece uma dinâmica muito mais ágil do que a tradicional lógica industrial, eliminando custos, reduzindo tempo e minimizando riscos no processo. Não é brincadeira.

 

*Crédito da imagem no topo: farakos/iStock

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