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Opinião

O que aprender (ou não) com os headhunters

Você pode até tentar seguir uma cartilha para uma conversa, mas o mais importante é ser você mesmo


20 de julho de 2018 - 11h04

Mesmo quando aparentemente frustrantes, as conversas com esses profissionais trazem ensinamentos (Crédito: Ivan Balvan-iStock)

Recebi uma mensagem com um link para um post chamado “8 dicas de linguagem corporal que o ajudarão em entrevistas com headhunter”. Acho que meu amigo avaliou que estou precisando… porém, isso me fez recordar de alguns momentos que vivi com headhunters.

Muito tempo atrás, fui chamado por um headhunter para uma conversa. Era o ano de 1999, o mundo vivia o crescimento alucinado da internet e o país se transformava com a onda de privatização das operadoras de telecomunicações. O mercado de tecnologia estava fervendo. Eu já tinha 12 anos de trabalho na mesma empresa, a IBM, e estava recebendo várias ofertas de trabalho do mercado. O headhunter queria me conhecer. Ele tinha em mãos uma posição executiva de uma grande empresa e me considerava como um possível candidato. O papo foi longo, mas guardei na memória algo que me marcou profundamente. Ele disse: “O fato de você estar há 12 anos na mesma empresa pode significar que você é uma pessoa acomodada, que não gosta de desafios e não assume riscos”.

Aquela frase, dita por ele de forma despretensiosa, solta no meio de outras, me incomodou dentro da alma. O interessante é que naqueles meus 12 anos de IBM até então, eu já havia mudado de cargo 10 vezes, trabalhado em oito áreas diferentes, em quatro cidades distintas, como Manaus e Nova York. Além disso, eu havia me casado e tido dois filhos. O encontro com aquele headhunter não foi além daquela reunião. Ele já tinha o meu currículo, se já me avaliava como “acomodado” pelo tempo de trabalho na mesma empresa por que então teria me chamado para uma conversa?

No ano seguinte, ano 2000, eu recebi uma proposta de trabalho sensacional e pedi demissão da IBM. Tive a coragem de mudar a direção da minha vida. Nos seis anos seguintes eu trabalhei em três empresas diferentes.

No ano de 2006, como vice-presidente de uma empresa, eu recebi a ligação de uma headhunter dizendo que gostaria de falar pessoalmente comigo. Ela tinha uma oportunidade em mãos e estava considerando o meu nome para a posição. Lembro que comentei com ela que eu estava prestes a deixar a empresa onde trabalhava. Ela sorriu com essa minha informação e falou mais ou menos assim para mim: “Nos últimos seis anos, você mudou de emprego três vezes, e agora está dizendo que vai mudar de novo. Isso não é um bom sinal pois passa a imagem de uma pessoa inquieta, que não consegue se fixar ou levar o desafio até o final. O meu cliente procura um executivo que não pule fora na primeira dificuldade”. Olhei para aquela headhunter sem saber o que responder, apenas sentindo uma enorme vontade de rir. Se ela já sabia do meu histórico de mudança de emprego nos últimos anos, por que havia me chamado? Obviamente, aquela conversa não avançou. Curiosamente essa executiva manteve contato comigo nos anos seguintes, mostrando empatia e admiração por mim. Foi interessante isso.

De forma geral, confesso, as minhas experiências com headhunters não foram boas. Raramente tomei iniciativa de procurar headhunters ao longo de minha vida, acho que dá para contar o número de vezes numa única mão. Por outro lado, já fui procurado e avaliado por muitos headhunters, especialmente até por volta de 2012. Depois disso, acho que aconteceram apenas duas ou três oportunidades de headhunters me procurarem. Conversei com headhunters de níveis bem diversos de senioridade e experiência, o que me dá um bom retrato de como funcionam esses processos. Na maioria dos casos, fazem perguntas sobre as vidas pessoal e profissional, colocam umas casquinhas de banana no caminho, escutam muito, falam pouco, e, às vezes, pegam um fato ou experiência de minha vida para explorar um pouco mais. Em geral, foram conversas pouco empáticas, apesar de meus interlocutores, em sua maioria, se apresentarem simpáticos. O fato é que sempre saí desses encontros com pouco aprendizado, mas tenho uma exceção para contar.

Em 1999, tive a mais incrível experiência com um headhunter. Tal fato foi tão impactante que já até escrevi um post inteiro narrando aquele momento com Sergio Averbach, atualmente CEO da Korn Ferry para América do Sul. Naquela época, ele era um dos diretores da Egon Zehnder. Em determinado momento da reunião, Averbach esqueceu o papo sobre a posição executiva em aberto e mudou a direção da conversa. Ele começou a explorar as minhas aspirações, competências e habilidades, desvinculando-se completamente do propósito inicial daquele encontro. Ele já tinha claro em mente que eu não era o candidato daquela vaga. Nos 60 minutos o Averbach praticamente só fez perguntas. Ele me instigava a respondê-las. Ele ajudou a organizar a minha cabeça, me desafiando e estruturando as minhas incertezas. Pela primeira vez, alguém havia feito as perguntas corretas, e me dei conta de descobrir que a maioria das respostas estavam dentro de mim. A conversa foi profundamente transformadora, um novo horizonte havia surgido para mim, cheio de possibilidades, com mais clareza e confiança sobre o que perseguir. Nenhuma outra situação até hoje superou aqueles 60 minutos.

Voltando ao artigo citado no início do post, eu acho que as dicas sobre linguagem corporal e expressões faciais são legais para a vida toda, em diversas circunstâncias, e não somente para entrevistas com headhunters. No entanto, se depender de minha própria experiência, acho que isso não faz muita diferença no final de tudo. O problema numa conversa com o headhunter é o jogo que ele joga. Ele vai levar o papo para onde ele desejar, indo por caminhos que talvez você não consiga mapear. Tudo isso num curto espaço de tempo, com pouca ingerência de sua parte. Apesar das minhas experiências contraditórias com headhunters, nem sempre agradáveis, eu avalio que aprendi muito e todas ajudaram no meu desenvolvimento profissional. Curiosamente, demorei para chegar a essa conclusão, pois quase sempre saí frustrado das minhas conversas com esses caçadores de gente. Mas o tempo permitiu que eu juntasse tais experiências para criar uma malha de aprendizado e lições que acabei carregando para minha vida pessoal e profissional, especialmente como gerente de pessoas.

Enfim, a dica mais importante está no final do artigo. Você pode até tentar seguir uma cartilha para uma conversa com um headhunter, mas o mais importante é ser você mesmo, sem máscaras ou teatro. Tem que ser transparente, espontâneo e autêntico, por completo. Permita-se acreditar no seu instinto. Seja honesto com as suas capacidades e aspirações. Nada dá mais tranquilidade do que isso. Afinal, ninguém sabe mais das suas capacidades e potencial do que você mesmo.

 

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