Assinar

Passado, presente e futuro dos games

Buscar
Publicidade
Opinião

Passado, presente e futuro dos games

Não é surpresa que o mercado de games continue antecipando tendências e demarcando as revoluções que logo chegarão a outros mercados. Quem domina o game, está vários passos à frente.


28 de março de 2023 - 16h00

Crédito: Shutterstock

Momentos de grandes revoluções são icônicos e a GDC 23, o maior evento de desenvolvimento de games do mundo, reforçou o que é passado, presente e futuro para a indústria.
Se você, assim como muitos investidores, está mais interessado em resultados financeiros do que em uma análise profunda, eu resumo para você antes de entrar em detalhes: o hardware é passado, o Web3 é presente e a inteligência artificial é o futuro.

O PRESENTE

Blockchain é uma das tecnologias mais discutidas dos últimos anos e suas aplicações mais populares, como NFT e jogos de Web3, estão sendo testadas e avaliadas. A quantidade de empresas criadas em torno dessas soluções é impressionante, com muitas oferecendo soluções de Web3 tanto para outras empresas quanto para si próprias.

No entanto, esse ecossistema parece um pouco artificial em certos momentos, com empresas adotando o selo de Web3 para não ficarem para trás, e muitos investidores sedentos por algo novo e não necessariamente válido. A corrida pelo ouro flerta com o potencial do blockchain, mas a especulação pode obscurecer as linhas no mercado de entretenimento.

Jogos devem ser desenvolvidos com o propósito de entreter ou expressar um sentimento, como qualquer arte. Quando o design gira em torno do ganho financeiro, temos um produto muito menos interessante que o mercado revolucionário de jogos: uma mera gamificação de investimentos de risco disfarçada de entretenimento interativo.

Conversando com um expositor da GDC que vai lançar um jogo de tiro protagonizado por criaturas antropomórficas, ficou claro a dualidade. O interesse e empolgação ao falar sobre as mecânicas de jogo deram lugar a quase constrangimento ao explicar que as opções de compra de NFT eram opcionais e não influenciavam na experiência. Outro desenvolvedor, que está produzindo jogos de habilidade para todas as idades, admitiu que seria fácil implementar pagamentos com cripto em seu jogo, mas impossível explicar para um usuário comum as instáveis e imprevisíveis oscilações do mercado de criptomoedas.

Não duvido do poder de inovação de aplicações empoderadas por blockchain, e a quantidade de empresas e investimentos nessa área nos últimos dois anos combate facilmente meu ceticismo. No entanto, ainda há muito o que se provar – e até mesmo descobrir – sobre a utilização dessa tecnologia para games e entretenimento.

PASSADO

Uma pista de skate montada no meio do pavilhão da GDC chamou a atenção de quem passava. Dentro dela, skatistas vestindo sensores eram acompanhados em tempo real por diversas câmeras que traduziam seus movimentos para um ambiente digital. Era como se os esportistas estivessem sendo transformados em personagens de um jogo ao vivo.

Incrível, certo? A tecnologia de Motion capture (mocap, no jargão), no entanto, não é mais novidade para a indústria dos jogos e do cinema. Em 2012, inclusive, visitei estúdios de mocap de uma empresa canadense que trabalha em capturas para filmes e jogos, e a surpresa foi a mesma. Hoje, já é possível fazer o mesmo tipo de captura usando uma estrutura muito menos complexa ( e infinitamente mais barata) usando celulares, por exemplo. Tentar vender uma solução de mocap tradicional que exige investimento de milhares de dólares é um sinal de algo que já ficou no passado, cruelmente evidenciado pelo momento de revolução apresentado na GDC.

Da mesma forma, óculos de realidade virtual e aumentada parecem artefatos de retrofuturismo. As experiências continuam impressionantes, mas a tecnologia imersiva ainda briga com seu principal desafio: a naturalidade. Usar um Meta Quest Pro por mais de 5 minutos ainda é algo impensável para alguém que não é entusiasta. E isso não é necessariamente um problema para um mercado nicho, mas é extremamente relevante para a empresa que mudou seu nome para aquilo que acreditava ser o próximo passo imediato da indústria.

Eu acredito que experiências imersivas vão revolucionar todos os mercados, e o comportamento das pessoas nesses ambientes exigirá mudanças profundas na forma como nos relacionamos e consumimos. No entanto, essa revolução não acontecerá enquanto o hardware for uma casualidade e não o foco principal.

FUTURO

Em uma indústria de especialistas, a inteligência artificial abre uma oportunidade única: qualquer pessoa se torna capaz de fazer aquilo que antes exigia centenas de horas de estudo e milhares de experiência.

Não existe revolução mais importante do que a de inteligências artificiais generativas. Soluções de texto para imagem, texto para vídeos e até mesmo voz para vídeo estão surgindo rapidamente, permitindo que seja possível criar sem necessariamente dominar a técnica da tecnologia. Criar um filme sem nunca ter encostado em uma câmera, uma obra de arte sem nunca ter se sujado com tinta, fazer um jogo sem nunca ter escrito uma linha de código.

A Epic Games, uma das empresas mais importantes do mercado de games e responsável pelo motor gráfico Unreal Engine, anunciou e lançou durante a GDC um editor de jogos inspirado no jogo Fortnite. Qualquer pessoa pode baixar o Unreal Editor For Fortnite e criar seus jogos usando uma interface simplificada, e o mais incrível: publicar essas experiências em todas as plataformas, como PlayStation, Xbox e até Nintendo Switch. Embora o editor não seja uma solução de texto para jogo, já demonstra a tendência de dar aos usuários o poder de criar e lançar jogos sem as principais preocupações tecnológicas.

A Ubisoft, produtora de jogos francesa, anunciou uma inteligência artificial para construir narrativas para jogos. Por meio dela, escritores poderão terceirizar tarefas de diálogos de personagens não controláveis e encontrar formas de diversificar falas de personagens. Você joga a emoção e o contexto e a IA devolve dezenas de opções. Nesse caso, a revolução é na economia de tempo e, assim, otimização de recursos.

Esse é um caminho sem volta. Nos próximos anos, com o avanço das interfaces dessas inteligências artificiais, a especialização dará lugar à generalização; conhecer um pouco de cada tema e dominar os prompts será essencial e suficiente para realizar qualquer serviço.

Não é surpresa que o mercado de games continue antecipando tendências e demarcando as revoluções que logo chegarão a outros mercados. Quem domina o game, está vários passos à frente.

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Impactos do retail data

    Como usar os dados do varejo para guiar a estratégia de marca

  • O grande momento

    Ao mesmo tempo em que abre espaços para o reconhecimento a novas lideranças, o Caboré se mantém como principal palco para honrar pessoas e marcas consagradas por suas contribuições à evolução da indústria