Opinião

Quando o mundo todo vira seu mercado

Com marketplaces e infraestrutura digital, PMEs brasileiras acessam consumidores em diversos países

Briza Bueno

Diretora do AliExpress para a América Latina 3 de dezembro de 2025 - 6h30

Me lembro como se fosse hoje. Durante a semana, meus pais faziam fantasias de heróis para crianças e vendiam na feirinha de artesanato em Curitiba, no domingo. Quando passeávamos no shopping, eles sempre contavam do sonho deles: vender os produtos que eles faziam numa grande rede de lojas, e, assim, não depender só de quem visitava a feirinha, mas passar a vender para o Brasil todo.

Mais tarde, tive a oportunidade de participar do lançamento de um modelo de negócio de marketplace no Brasil. Esse foi um grande salto da digitalização do varejo. Em vez de vender apenas os próprios produtos, grandes lojas passaram a abrir seus sites e oferecer itens de outros vendedores. Ou seja, qualquer empreendedor de qualquer tamanho e de qualquer lugar do país, poderia ter seus produtos exibidos nas vitrines de grandes redes de varejo no Brasil inteiro, 24h por dia, 7 dias por semana. No Brasil, segundo o Ministério do Desenvolvimento, as vendas online de micro e pequenas empresas cresceram 1.200% entre 2019 e 2024, saltando de R$ 5 bilhões para R$ 67 bilhões.

Mas não só isso. Hoje, o sonho de produtores, como o do meus pais, pode ser ainda maior. A digitalização deixou de ser um diferencial e se tornou parte estrutural da jornada de qualquer empreendedor. Com a internacionalização do e-commerce, é possível atingir não só o Brasil, mas também vender para diversos países. Por que se limitar a 220 milhões de pessoas, se você pode falar com 6 bilhões? É isso o que acontece quando barreiras tecnológicas diminuem e a infraestrutura deixa de ser privilégio para poucos.

A China viveu essa revolução mais cedo. E não foi por acaso. O país passou por um grande processo de digitalização do varejo, impulsionado por plataformas que unificaram pagamentos, logística, dados e vitrines de exposição. O que era um comércio fragmentado se tornou um ecossistema fluido, em que até pequenos empreendedores conseguiram acessar consumidores nacionais e até internacionais. Esse movimento, liderado pelo Alibaba, fez nascer um dos mercados mais competitivos e inovadores do mundo.

Quando o antigo limite geográfico do comércio de bairro virou a escala nacional com a expansão dos marketplaces e, depois expandiu-se ao alcance global, as empresas que tem produto, história e disposição para se organizar, passaram a conseguir acessar mercados no mundo todo. Algumas marcas brasileiras já vêm aproveitando esse movimento. Havaianas e Melissa já dialogam com o público asiático há anos, mostrando que a estética e a identidade dos produtos brasileiros encontram espaço em mercados distantes. Uma PME familiar de mel e própolis do interior de São Paulo ganhou destaque ao atender consumidores

chineses interessados em produtos naturais e sustentáveis. Integrada ao ecossistema do Alibaba, a empresa conseguiu organizar sua logística, entender melhor a demanda internacional e acessar um mercado que antes parecia inalcançável. Um relatório do Alibaba.com , marketplace de comércio eletrônico B2B, destacou que empresas de pequeno e médio porte (PMEs) ao redor do mundo estão cada vez mais otimistas em relação às suas perspectivas de negócio.

Essa mudança de vender para a rua, depois para o país e agora para o mundo, não é apenas tecnológica. Nesse contexto, a digitalização prova ser maior do que tecnologia, ela é a retirada das barreiras. É a possibilidade real de transformar negócios locais em marcas globais. Mas, quando seu consumidor pode ter acesso a itens do mundo todo e você pode oferecer seus produtos para o mundo inteiro, como ter um diferencial e se destacar?

Os desafios são grandes e exigem que as organizações pensem mais: seja em comunicação, regulamentação, estratégia de preços e narrativas que façam sentido nos diferentes mercados, mas a direção é clara. A era em que a existência de um negócio dependia apenas de um ponto de venda em uma rua movimentada acabou. Hoje, com os canais certos, um produto feito no interior do Brasil pode estar, em poucos dias, nas mãos de alguém do outro lado do mundo. E na sua empresa? Até onde seu produto está chegando?