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Opinião

Responsabilidade corporativa muito além do escritório

A pandemia da Covid-19 trouxe à tona não só questões sanitárias, mas também de proteção a mulheres em situação de violência


14 de junho de 2021 - 6h00

(crédito: Liza Summer/Pexels)

Não restam dúvidas: o impacto pandêmico da Covid-19 alterou significativamente todos os setores, em especial, o cotidiano do mundo do trabalho. À medida que a pandemia se estende, prolonga o sentimento de insegurança vivido por mulheres em situação de violência, muitas vezes colocadas em confinamento com seus próprios agressores. Diante dessa situação nos perguntamos: qual o papel das empresas no amparo às suas funcionárias, no que se refere ao desenvolvimento humano, ao bem-estar e à melhora da qualidade de vida das pessoas?

Esses princípios são parte dos pilares do Pacto Global (ONU, 2002) , assumido pelas empresas e têm reforço no Guiding Principles on Business and Human Rights, transformando-os em estratégias a serem desenvolvidas pela área de Recursos Humanos e que representam um grande desafio em meio à pandemia.

Segundo o relatório “Violência Doméstica durante a Pandemia de Covid-19”, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), entre os meses de abril e maio de 2020, os casos de feminicídio cresceram 22,2%, comparado ao ano de 2019, em 12 estados do País. Por outro lado, o número de boletins de ocorrências por lesão corporal dolosa reduziu 27,2%, entre março e maio do mesmo ano. Isso porque as mulheres estão distantes de suas redes de apoio e suas alternativas para pedidos de socorro são reduzidas a ligações telefônicas ou a procura presencial pelas delegacias, o que nem sempre é possível.

É neste ponto que existe um desafio ainda maior para o mundo corporativo, a promoção de projetos que avancem para práticas de equidade de gênero e que ofereçam apoio para casos de violência contra as mulheres.

Papel do RH

Diante deste cenário, o setor de Recursos Humanos pode contribuir para a desconstrução da rota de risco que as mulheres estão enfrentando em suas próprias casas. A capacidade de escuta e o compartilhamento de informações são duas delas. Abaixo, três ações que demonstram uma atuação positiva do RH:

– Dentro do ambiente corporativo é necessário treinar as equipes estratégicas como marketing, comunicação e os mais diversos representantes sobre como agir e amparar as mulheres em situação de violência — fazendo-os conhecer os principais canais de acesso à justiça e saúde que estão disponíveis pelo poder público local.

– Promover diálogos permanente sobre qualidade de vida e bem-estar pelo fim da violência de gênero, discriminação étnico-racial e econômico.

– Além disso, as empresas precisam conhecer as políticas públicas de enfrentamento à violência contra a mulher, promovendo mais interação com os agentes públicos que atuam cotidianamente, implantando um serviço de ouvidoria humanizada, destacando as principais contribuições da Lei Maria da Penha (11.340/06) no ambiente corporativo.

A Coalizão Empresarial Pelo Fim da Violência Contra Mulheres e Meninas, por exemplo, conta atualmente com 133 empresas engajadas em mudar a realidade de meninas e mulheres em situação de violência dentro e fora das organizações. Em cinco campanhas de comunicação, mais de 13 milhões de pessoas foram alcançadas por meio de ações orgânicas, principalmente com a ajuda das empresas parceiras da Coalizão e alguns parceiros estratégicos, e mais de 77 milhões de pessoas impactadas por meio de ações de mídia. Além disso, mais de 2 milhões de funcionários foram alcançados pelas ações da Coalizão e mais de 490 líderes capacitados.

O enfrentamento expressivo da violência contra a mulher, cujo impacto é altamente perverso para elas, encontra na união entre as empresas um importante canal de desenvolvimento de ações. Mudar a realidade das mulheres também é uma responsabilidade corporativa e as instituições devem ser agentes transformadoras da sociedade.

**Crédito da imagem no topo: Frimages/iStock

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