Opinião

Sua empresa ainda trata treinamento como checklist?

Nesse aspecto, o marketing tem muito a ensinar às áreas de RH

Elaine Resende

diretora de Gestão & Engajamento do Grupo Take 5 25 de julho de 2025 - 6h00

Enquanto o mundo corporativo se preocupar em dar check em cursos e treinamentos para entregar indicadores e justificar investimentos, perdemos a oportunidade de transformar empresas em espaços reais de desenvolvimento humano. É hora de reconhecer: educação corporativa, quando bem feita, vai além dos negócios. Quando ela toca as pessoas, muda as suas vidas. E, neste quesito, o Marketing tem muito a colaborar com o RH.

Um programa de capacitação eficaz não é aquele que “cumpre a grade”. Um bom projeto muda comportamentos, desenvolve competências úteis para todos e fortalece a cultura organizacional. O problema é que, em muitas empresas, o foco continua sendo o processo — não as pessoas.

É comum que o RH busque justificar o budget da área (muitas vezes minguado) cobrando que os colaboradores consumam horas e horas de conteúdo para alcançar pelo menos a nota mínima exigida nas atividades avaliativas. Ora, é preciso atingir resultados, cumprir a checklist dos objetivos do quarter e apresentar números que enchem os olhos do chefe, não é mesmo? Mas será que, no final, esses resultados estão realmente favorecendo a cultura corporativa? Será que as pessoas envolvidas no processo estão, de fato, se envolvendo com o que estão fazendo? Elas estão aprendendo alguma coisa, afinal?

Minha trajetória profissional une marketing, comunicação e educação. E foi dessa convergência que surgiu uma convicção: só aprendemos de verdade quando sentimos que há sentido. E isso vale tanto para uma criança na escola quanto para um adulto em um workshop corporativo.

A neurociência já demonstrou que o propósito ativa áreas do cérebro ligadas à motivação. A psicologia positiva ensina que o florescimento humano depende do engajamento, das relações, da realização. Então, por que continuamos ensinando apenas para entregar conteúdo e cumprir metas?
Os programas de capacitação de stakeholders (sejam colaboradores, parceiros, força de vendas estendida, etc.) podem se inspirar em estratégias que cativam corações e mentes, como fazem os melhores programas de fidelização, por exemplo. Se os gestores se utilizarem dos conhecimentos e técnicas de marketing de relacionamento e tratarem o público como pessoas que precisam ser conquistadas, reconhecidas e continuamente motivadas, assim como os marqueteiros e comunicadores fazem com consumidores de produtos e serviços quando buscam que eles se tornem fiéis às suas marcas, as chances de entregar valor real aumentam exponencialmente.

Minha proposta é que façamos isso de um jeito honesto, isto é, respeitando as necessidades das pessoas e buscando entregar aquilo que verdadeiramente faz sentido para elas.

Conhecimento real a respeito de quem irá participar do programa. Personalização do aprendizado. Qualidade da narrativa. Sentimento de pertencimento. Reconhecimento contínuo. Comunicação que ressoa com o propósito dos aprendizes. Esses elementos importam.

Ao aplicarmos fundamentos de loyalty em programas de educação corporativa, podemos tornar o aprendizado contínuo uma experiência viva, desejada e alinhada com o que move cada indivíduo. E isso, no fim das contas, impacta diretamente nos resultados da organização e nos benefícios que as pessoas colherão em suas carreiras. Quando colocamos as pessoas no centro, tratamos seu aprendizado como uma jornada de transformação e as envolvemos com verdade, criando experiências que ecoam para além do CNPJ.

Num mundo de incertezas geradas pelo rápido avanço da inteligência artificial, aprender e se reciclar é essencial para as empresas e também para os trabalhadores. Mas é preciso fazer bem feito. Porque, no fundo, educar é um ato de confiança. E é isso que as empresas precisam oferecer se quiserem crescer com ética. Do contrário, seguiremos enxugando gelo e enchendo a paciência de quem não aguenta mais “fazer curso sobre como fazer curso”.