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Opinião

Sua marca já sabe narrar?

Se na publicidade o roteiro é uma corrida de cem metros, na ficção é uma maratona que demanda mais fôlego, paciência e persistência de quem narra; por Alexandre Peralta


25 de fevereiro de 2019 - 18h00

Quando se estudam as técnicas de dramaturgia, entende-se que, embora se usem palavras, narrar está mais no campo de exatas que no de humanas. Narrar é quase como construir um prédio. No processo de escrita de um roteiro de ficção, gasta- se praticamente 70% do tempo na escaleta, que nada mais é que a base estrutural desse prédio — é a escaleta que determina, em uma sequência predeterminada, o que acontecerá em cada cena.

 

(Crédito: Brooks Leibee/Unsplash)

Só com a base pronta, ou seja, com um desenho que mostra toda a ordem dos acontecimentos, do início até o final, é que você começa a escrever de fato os diálogos. A escaleta prevê os atos, o incidente incitante, os beats, o ponto de virada, o clímax e o desenlace final. Se a base estrutural não for sólida, a sua história desaba mais rápido que uma ponte da Marginal Tietê ou Pinheiro. Pois nem a ideia mais criativa do mundo sustenta, sozinha, uma história.

Aliás, antes mesmo de você partir para uma escaleta, será preciso que tenha um Storyline da sua ideia criativa. O Storyline é a sua ideia criativa, contada em apenas uma frase ou um parágrafo. Além de servir de guia para todo o processo de desenvolvimento da história – pois ele guiará todas as decisões que você terá que tomar sendo fiel a ele –, o Storyline é um grande teste de fogo para se ter certeza de que a sua ideia dá ou não dá uma história. Se você não puder contá-la em poucas linhas, não poderá contá-la em 20 minutos, 30 minutos, 40 minutos ou duas horas.

Um Storyline, ou Logline, como outros autores chamam, tem o que o protagonista faz, o lugar em que vive, a época, seu objetivo ou grande desejo e o que impede de consegui-lo. Vejamos o Storyline da série Scandal: “Especialista em blindagem, negra, administra escândalos de gente importante em Washington enquanto vive conflito de ser ex-caso e ainda apaixonada pelo presidente dos EUA, branco e casado”. O Storyline de Game of Thrones, primeira temporada: “Famílias nobres que governam os Sete Reinos fazem de tudo para manter o poder e preservar seus segredos, enquanto um herdeiro usurpado busca apoio para recuperar o que é seu”.

Tudo isso para dizer que há uma grande diferença entre narrar propaganda e narrar conteúdo e entretenimento com dramaturgia. Se na publicidade o roteiro é uma corrida de explosão de cem metros, na ficção é uma maratona que demanda mais fôlego, paciência e persistência de quem narra. Por trás das grandes séries, dos grandes longas-metragens, das histórias que verdadeiramente engajam, há muito mais ciência do que você possa imaginar. Que você não percebe, justamente, porque a arte de narrar dramaturgia é um jogo de marionetes onde os melhores não deixam aparecer a cordinha.

Pode ser uma língua que nem todas as marcas entendem nesse momento. Mas será o idioma oficial do futuro.

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