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Toda empresa tem um Ricardson

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Opinião

Toda empresa tem um Ricardson

Vale corroer o engajamento da equipe para garantir resultados de curto prazo?


12 de dezembro de 2018 - 9h20

Crédito: maksime/iStock

Ricardson era um jogador aguerrido. Zagueirão tradicional com cara de mau. Daqueles que o juiz adverte antes de a partida começar. Não era craque, mas corria como poucos e batia como ninguém. Ricardson arrumava problemas em todas as partidas. Era o recordista de cartões em todos os campeonatos que participava. Certa vez recebeu um cartão vermelho em uma partida no Uruguai aos dois minutos de jogo. A falta tão violenta quanto desnecessária. O time perdeu a partida graças a sua expulsão e foi desclassificado.

Mesmo quando não jogava, Ricardson se metia em problemas falando besteiras nas mídias sociais. Provocava os adversários e criava um clima ruim antes mesmo de entrar em campo. Batia no peito e dizia que aqui quem mandava era ele. Que tinha que bater mesmo.

Tinha muitos seguidores, apesar da maioria segui-lo só para poder xingá-lo pelas barbaridades que fazia. Os torcedores, apesar de sempre quererem ganhar, se envergonhavam do comportamento de Ricardson. Mas ele não estava nem aí… Xingava os seguidores e dizia que ele era o dono do time. Se não estiver contente, torça para outro time!

Mas Ricardson não era folgado só com os adversários e seguidores. Frequentemente arrumava confusões com seus companheiros de equipe. Brigava nos treinos e criticava seus colegas em público mesmo. Sem dó. Com alguns, chegou a trocar socos e chutes em pleno treino.

O último treinador tentou dar um jeito em Ricardson, mas se deu mal. Depois de muito bate-boca e uma suspensão, o presidente do clube se envolveu e demitiu o treinador por não saber lidar com Ricardson.

O presidente morria de medo de perder Ricardson. Quando ele não jogava, o time não era o mesmo. Apesar das constantes suspensões por cartões, do desrespeito com o resto do time e a vergonha dos torcedores em ter alguém tão desonesto na equipe, todos faziam de conta que estava tudo bem.

Muitas brigas, cartões e conflitos depois, alguns bons jogadores começaram a deixar o clube. Iam para clubes da segunda divisão, para outros estados e aceitavam salários mais baixos. Saiam por não aguentar mais aquele abuso.

Apesar das baixas, o presidente se recusava a tomar uma atitude. Sempre que alguém perguntava, ele dizia: “O Ricardson é assim mesmo… só mais uma semana! Precisamos dele no curto prazo. Na temporada que vem tomaremos uma atitude”.

A culpa não é do Ricardson, mas sim do presidente. Ricardson não é o único funcionário descontrolado que intoxica o seu ambiente de trabalho e o futebol profissional não é a única profissão onde este comportamento é tolerado.

Este problema acontece em qualquer empresa pois todas têm os seus Ricardsons. A diferença entre um time ou empresa boa e uma ruim é a forma com que os chefes lidam com seus Ricardsons.

Você pode nunca ter jogado futebol, mas certamente já trabalhou com aquele gerente que, apesar de tratar suas equipes de forma desumana e desrespeitosa, entregam resultados de negócio como poucos. Por entregarem consistentemente, muitos chefes (assim como o presidente do Ricardson) fazem vista grossa e aceitam seus desvios de caráter.

Pouco a pouco eles corroem o engajamento de suas equipes para garantir os resultados de curto prazo.

Em empresas boas, Ricardsons aparecem, mas não crescem. Ao menor sinal, são repreendidos ou demitidos. Os resultados podem sofrer no mês seguinte, mas o impacto positivo no longo prazo é incontestável.

Assim como aquele gerente que aterroriza seus funcionários, mas continua sendo promovido não representa você, o Ricardson não representa os torcedores do seu time.

Nas empresas ou nos clubes de futebol sempre haverá Ricardsons. Se a sua empresa não se livrar deles rapidamente, melhor começar a procurar outro time para você jogar.

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