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Opinião

Todos os olhos em Paris

Em terceira passagem pela capital francesa, Jogos Olímpicos desafiam organizadores, patrocinadores e mídia nos quesitos segurança, sustentabilidade e tecnologia — com a onipresente inteligência artificial


30 de julho de 2024 - 14h00

Um dos destinos mais icônicos do mundo, reverenciado por sua beleza, história e cultura, Paris está recebendo, pela terceira vez, os Jogos Olímpicos — também foi sede em 1900 e 1924. Nesse hiato de cem anos, o mundo se transformou completamente. Um ponto que não mudou é o anseio do país anfitrião de aproveitar o evento como um cartão de visita para a comunidade internacional.

A proposta de Paris, desta vez, foi entregar os jogos mais sustentáveis da história, objetivo desafiador em tempos de emergência climática. Semanas antes do início dos jogos, o relatório Rings of Fire: Riscos de Calor nas Olimpíadas de Paris 2024, da Associação Britânica de Sustentabilidade no Esporte, apontou que Paris 2024 pode superar Tóquio 2020 e se tornar os Jogos Olímpicos mais quentes da história.

A investida do comitê organizador inclui ações desde a diminuição de gases poluentes até o uso de energias renováveis. O cardápio dos atletas, por exemplo, terá 60% das refeições à base de plantas — já nos primeiros dias de jogos houve crítica de competidores diante da falta de proteína animal no refeitório. Além disso, foram plantadas árvores para mitigar o calor europeu, painéis solares foram instalados e, do ponto de vista estrutural, 95% das locações foram reutilizadas ou construídas temporariamente para o evento. Em outro ponto criticado pelos atletas, a Vila Olímpica, onde se hospedam, não tem ar-condicionado. A medida pretende baixar o consumo de energia. Resta saber se turistas e dirigentes dos comitês farão uma adesão solidária à causa e não ligarão o equipamento.

A despoluição do rio Sena — onde foi realizada, na sexta-feira, 26, pela primeira vez, a cerimônia de abertura de uma Olimpíada fora de um estádio — é o grande símbolo dessa intenção. Mas a população parece reticente. Em junho, em protesto, os franceses ameaçaram defecar em massa no rio. A motivação era o alto nível de poluição após investimento de € 1,4 bilhão no projeto de limpeza. Anne Hidalgo, prefeita da cidade, chegou a nadar no Sena, diante da imprensa, para “provar” a despoluição. O orçamento inicial para os jogos era de € 4,4 bilhões e os custos totais para sediar o evento giram em torno de € 9 bilhões.

Além da sustentabilidade, a segurança nas áreas de competição, nas zonas turísticas e nos transportes públicos tem sido um ponto de tensão para os organizadores — ainda mais no contexto de polarização do país que, inclusive, antecipou as eleições de 2027 para este ano. Antes dos jogos, Gérald Darmanin, ministro do Interior francês, listou os quatro tipos centrais de perigo: terrorismo, ameaças de oportunidade ou delinquência, os riscos cibernéticos e tecnológicos e possíveis protestos e reivindicações. Para evitá-los, foram convocadas três unidades de elite da polícia, que estão atuando em conjunto com 35 mil policiais e 18 mil militares. Mesmo assim, no dia da abertura, um ataque coordenado com roubo e incêndio de cabos de fibra óptica, que enviam informações sobre os trajetos dos trens para a segurança dos motoristas, impactou mais de 800 mil passageiros no País. Darmanin afirmou, à imprensa francesa, que o episódio não impactou a organização dos jogos.

Outra plataforma de Paris 2024 é a utilização da inteligência artificial (IA). A tecnologia deve ser aplicada para ajudar as emissoras que transmitirão os esportes a melhorarem a experiência de visualização, na análise do desempenho dos atletas e em sistemas de vigilância com câmeras alimentadas com a tecnologia para sinalizar riscos. A Intel, parceira oficial de tecnologia dos Jogos Olímpicos, anunciou desenvolvimentos em IA para melhorar a experiência dos espectadores e a participação dos atletas. A Globo, em parceria com a empresa, fará demonstrações da Olimpíada em 8K no Brasil.

Neste contexto de múltiplos desafios e de fragmentação de audiência — entre canais e as dezenas de modalidades em disputa — as marcas têm a árdua missão de se diferenciar diante das inúmeras mensagens publicitárias, promover experiências memoráveis e gerar engajamento junto a um público multiplataforma. Tarefa talvez tão difícil quanto conquistar uma medalha.

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