Patrocinador tem que vestir a camisa
Rafael Pulcinelli, gerente de marketing da Ambev e responsável pelo Movimento por um Futebol Melhor, fala sobre o papel das marcas em tempos de crise
As notícias relacionadas ao futebol não têm sido das melhores nas últimas semanas. Há poucos dias do início da Copa América, que acontece no Chile a partir do dia 11, o foco está nos escândalos de corrupção, ao invés de estar no preparo da Seleção Brasileira que, pela primeira vez depois do fatídico jogo com a Alemanha, em 2014, vai entrar nos gramados para valer.
Antes da crise da Fifa, porém, não era novidade que o futebol brasileiro já vivia problemas sérios. Clubes endividados, gestão amadora, estrutura precária e estratégias de marketing obsoletas. Neste contexto, a Ambev, que patrocina a Seleção Brasileira por meio da Brahma desde 1994, percebeu que fazia sentido não depender dos clubes e criar algo para fomentar o ambiente de negócios no futebol. Os executivos da companhia criaram, em janeiro de 2013, o Movimento por um Futebol Melhor com o objetivo de valorizar a relação com o sócio-torcedor. Atualmente, o projeto envolve 61 clubes, um milhão de sócios-torcedores, doze empresas e R$ 200 milhões de negócios gerados aos clubes.
“Em uma época em que o futebol brasileiro passa por dificuldade, é uma estratégia para ajudar os clubes a aproveitarem as oportunidades de negócios”, diz Rafael Pulcinelli, gerente de marketing da Ambev e coordenador do projeto. Apesar de não querer entrar em detalhes nos escândalos da Fifa e a reação dos patrocinadores, Pulcinelli fala sobre o papel das marcas em tempo de crise e destaca que patrocínio é muito mais do que apoio financeiro.
Meio & Mensagem – Vivemos um momento de crise no futebol mundial e nacional, expostos à escândalos de corrupção, qual o papel dos patrocinadores?
Rafael Pulcinelli – O patrocínio não pode ser apenas um apoio financeiro, ele deve ir além, tem que ser uma maneira de contribuir para o futebol em todos os aspectos. O futebol brasileiro está passando por uma mudança já há algum tempo, e é importante o marketing acompanhar essa transformação.
M&M- O Movimento surgiu com essa premissa, mudar o futebol?
Pulcinelli- Ele tem um objetivo amplo, primeiro, gerar maior receita aos clubes e ajudar no fortalecimento do futebol brasileiro. É uma forma eficiente de contribuir para o principal esporte do País. Ganham os clubes, os torcedores e as empresas que, além de se associarem ao futebol, aumentam a relação com seus sócios-torcedores.
Meio & Mensagem – Por que a Ambev lidera esse movimento em prol dos negócios envolvendo o futebol brasileiro? Qual o interesse da companhia?
Rafael Pulcinelli – A Brahma já era uma apoiadora antiga do futebol brasileiro, mas avaliou que era necessário mais do que patrocínio aos clubes. Daí surgiu a ideia de criar o Movimento e apresentá-lo a outras empresas. Muitas delas nunca tinham trabalhado com futebol e foi uma oportunidade de conseguirem um espaço no esporte.
M&M- Quais os resultados efetivos do projeto nestes dois anos?
Pulcinelli- Alguns clubes já estão avançando em ações de marketing para reforçar as finanças e o programa de sócio torcedor é um grande exemplo. Veja o caso do Cruzeiro, bicampeão brasileiro, que em 2013 e 2014 foi o clube que mais ganhou associados no país, dois títulos nacionais. Agora o Palmeiras, que já é o segundo maior do país e um dos maiores do mundo. Os clubes tiveram um incremento de receita de mais de R$ 200 milhões, apenas com a entrada de mais de 500 mil novos associados. Os clubes descobriram a importância de ter uma relação maior com o torcedor através dos programas de sócio torcedor.
M&M- Quais as principais deficiências do ambiente de negócios no esporte?
Pulcinelli- Após um longo estudo comparando a receita dos clubes brasileiros com os europeus, chegamos à conclusão de que havia espaço para trabalhar melhor com o sócio torcedor e obter um resultado importante para os clubes, associados e também para as empresas.