Você tem consciência da potência e influência da sua voz?
Seja responsável pelo que comunica e pelo impacto das suas mensagens
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7 de junho de 2024 - 6h00
Já percebeu quanta energia você gasta filtrando e apurando as informações que recebe? Haja tempo para filtrar tudo o que a gente ouve e lê.
Se antes apenas as celebridades ou os canais de notícias conseguiam acessar uma massa gigantesca de público, hoje todos nós temos um megafone digital nos bolsos.
No entanto, essa capacidade de viralizar e alcançar milhares ou até milhões de pessoas não é o único jeito que podemos impactar nossos contextos sociais. Talvez estejamos nos esquecendo (ou subestimando!) o poder de uma comunicação mais discreta e direta, no “um pra um”, que não precisa de megafones (reais ou virtuais) para acontecer.
Ao dizer o que pensamos, repassar uma informação ou indicar uma solução para uma única pessoa que seja, podemos exercer uma influência social muito significativa.
Dá para sentir isso de maneira muito direta quando alguém da família nos procura para conferir algo que “viu na internet”. O que você costuma fazer nestes casos? Eu geralmente faço uma busca e retorno com uma resposta que confirma ou refuta o caso.
Situações assim refletem tanto o excesso de informação a que estamos expostos quanto a influência e relevância de quem “confere” o dado. Quanto maior o seu reconhecimento social ou mais alta a sua “posição” dentro de um ambiente social, mais cuidado você deve ter com a informação que recebe e repassa.
Afinal, cada um de nós tem o poder de encerrar um boato ou torná-lo mais forte, dependendo do que fizer. Em um mundo ideal, nossos vizinhos confirmariam notícias antes de repassar no grupo do condomínio. As pessoas leriam as matérias e relatórios com cuidado antes de fazer uma interpretação superficial e passá-la adiante.
Repassar ou interpretar uma informação envolve uma responsabilidade comunicativa sutil, mas muito relevante. O que dizemos ou os dados que encaminhamos podem influenciar escolhas políticas, decisões de negócios ou até a procura por um serviço de saúde. Acho que precisamos lembrar disso para falar e escrever com mais cuidado.
Digo isso não apenas como a Cris Camargo, CEO do IAB Brasil, que confere tudo o que comunica. Falo também como membro do grupo de moradores do meu condomínio, onde muitas mensagens espalham informações inverídicas; como mãe no grupo da escola da minha filha, onde já tomei sustos com notícias que não procediam; e como a filha e sobrinha no grupo do WhatsApp da minha família (que atire o primeiro emoji quem nunca precisou corrigir algum parente).
Por saber que eu tenho um papel de responsabilidade com o que comunico nesses espaços, me dedico a apurar, checar, conferir e garantir que os dados são verídicos antes de repassar qualquer informação. E nem tudo que chega até mim será repassado, difundido ou divulgado.
Chegar a essa conclusão não foi fácil. Até porque, no esforço de não falar de assuntos que não tinha lido, por vezes eu “li em partes”. Mesmo que confira os dados de relatórios para avaliá-los criticamente antes de compartilhar, sei que a minha interpretação parte de um ângulo pessoal, que é permeado pelos meus valores e pelo meu contexto naquele momento da minha vida.
O que eu quero dizer com isso é que a nossa influência é composta de uma série de camadas de percepções, nossas e sobre nós, que são mais complexas e relevantes do que gostaríamos de acreditar que são.
Enxergar a nós mesmos como pessoas influenciadoras das vidas de quem nos cerca nos lembra de sermos mais éticos com o que abordamos. Talvez tenhamos áreas em que somos experts e outras em que o melhor a fazer é nos abster de comentar, porque simplesmente não temos bagagem para análises.
Trocar um comentário mal embasado por “não sei muito sobre isso, quais fontes você consultou sobre o assunto?” faz uma enorme diferença. É como Bob Dylan escolhendo não cantar no refrão de “We Are The World” quando o produtor pede que participe do coro apenas quem consegue alcançar a mesma oitava de Michael Jackson, como mostra o documentário “A noite que mudou o pop”.
Nem sempre precisamos abrir a boca. Mas, quando o fizermos, que seja para usar a nossa própria voz de maneira autêntica e responsável.
Que sejamos todos um pouco mais como Bob Dylan. Ninguém vai perder a relevância ou a qualidade da própria voz se escolher não “cantar” por alguns minutos.
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