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O futuro do PR não está na ferramenta, mas na visão

A reputação deixou de ser apenas um capital simbólico e se tornou uma alavanca real de negócios

Helena Prado

Presidente executiva da Pine 7 de agosto de 2025 - 10h05

(Crédito: Shutterstock)

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Vivemos a era da abundância de conteúdo. A cada segundo, a inteligência artificial redige relatórios, produz textos, automatiza diálogos e gera uma avalanche de informações. Mas, num mundo em que todos falam ao mesmo tempo, o que realmente importa não é o quanto se fala, e sim a capacidade de sustentar o que se diz.

É nesse contexto que o PR vive uma transformação radical. Não apenas porque as ferramentas mudaram, mas porque o próprio conceito de influência foi ressignificado. Se antes o sucesso de uma estratégia dependia do quanto determinado veículo conversava com o público do cliente, hoje o desafio é construir posicionamentos consistentes em diferentes canais com poder de gerar conversas relevantes e construir reputação além da imprensa e dos holofotes mais óbvios.

O objetivo primordial do PR nunca foi apenas aparecer. Mas, por muito tempo, foi essa simplificação que guiou decisões em muitas áreas de comunicação. Em um mercado em que ganhar visibilidade se tornou mais fácil, essa lógica já não se sustenta. O que ganha espaço, com a força e a urgência que merecem, é o foco na construção de influência de longo prazo, conectada ao negócio e ancorada em narrativas originais, dados relevantes e autoridade construída com consistência.

Nesse cenário, perde espaço o profissional de PR que se limita a produzir. O desempenho não depende da quantidade de releases ou do tamanho do mailing, mas da capacidade de interpretar o mundo, compreender movimentos e propor visões próprias. A criação de textos, por si só, a IA resolve em minutos. Mas o olhar crítico, embasado em contexto e intenção, continua sendo insubstituível.

Quando tudo pode ser automatizado, o valor está justamente no que não pode. Um bom posicionamento nasce de vivência, repertório, escolhas conscientes sobre o que dizer e o que silenciar. Por isso, o papel das agências e dos profissionais de PR não é competir com a tecnologia, mas fazer o que ela não faz: criar sentido onde há apenas informação.

É nessa capacidade de gerar sentido que mora o futuro da área. Os grandes resultados virão da convergência entre conteúdo e reputação, entre dados e intuição, entre visibilidade e valor. A integração entre PR e conteúdo, que já foi vista como tendência, hoje é condição básica para marcas que querem se diferenciar num ambiente cada vez mais homogêneo.

Quando as narrativas são trabalhadas de forma coordenada, a comunicação ganha musculatura. Nesse modelo, uma pauta não morre quando é publicada — ela se desdobra em posts, artigos, newsletters, vídeos; provoca conversas, gera engajamento e fortalece o posicionamento de marca de forma viva e contínua. Um conteúdo que antes serviria apenas à geração de leads ganha nova vida: passa a ser também uma ferramenta de reputação, capaz de reforçar a autoridade da marca junto a jornalistas, formadores de opinião e stakeholders estratégicos.

Em meio a tanto barulho, o PR precisa fazer mais do que conquistar awareness: precisa gerar clareza. E, num mundo cada vez mais complexo, quem vai se destacar não é quem grita mais alto, mas quem desenvolve uma visão nítida sobre as necessidades do público e sabe comunicar isso com inteligência, constância e propósito.

A reputação deixou de ser apenas um capital simbólico. Hoje, ela é uma alavanca real de negócios. Influencia decisões de compra, atrai talentos, gera confiança no mercado financeiro e sustenta a longevidade das empresas.

Por isso, o futuro do PR não pode ser apenas acompanhar tendências. É preciso moldá-las. Profissionais e marcas que entenderem isso sairão na frente. Porque, no mar de vozes automatizadas, quem tem algo verdadeiro a dizer será, de fato, ouvido.