Ficha técnica que faz a diferença
O que o documentário da Adidas com Rebeca Andrade revela sobre performance que nasce do cuidado

(Crédito: Shutterstock)
“Todos nós precisamos de alguém que nos faça acreditar.”
É com essa frase que termina o documentário sobre Rebeca Andrade na série da Adidas, contado pelo olhar do técnico Xico. É sobre esporte, claro. Mas, acima de tudo, é sobre bastidores: quem segura a nossa mão quando as luzes apagam.
O sucesso no esporte nunca é solitário. Para mergulhar mais, o episódio está disponível no canal da Adidas no YouTube, vale ver na íntegra.
A série parte desse princípio ao narrar trajetórias por trás das câmeras, pelo ponto de vista de quem acompanha de perto. No caso de Rebeca, o filme é um convite a ver a atleta inteira: a potência que o mundo aplaude e a pessoa que dança no treino, erra, ri, desanima, volta. A câmera do afeto muda tudo: quando quem filma ama, a lente não busca perfeição, busca verdade.
Uma imagem me atravessou: as cicatrizes. Elas contam a história das lesões, cirurgias, do recomeço. E lembram o óbvio que esquecemos no corporativo: todo mundo tem cicatriz. Dúvidas, vontades de desistir, dias ruins. Também temos disciplina, foco e, para alguns, uma rede de apoio. Rebeca fala de Xico como figura paterna. Fala da mãe, Rosa, como alicerce.
Ficha técnica importa: na cultura pop, no esporte, em qualquer entrega de excelência.
Trazendo para o trabalho, chamemos isso de bastidor saudável. Não é luxo; é condição de performance. A metáfora é simples: se o atleta não treina em um ambiente seguro, sem medo do erro, ele contrai o corpo e perde amplitude. Nas empresas, acontece igual: o medo contrai pensamento, criatividade e colaboração. A pressa transforma feedback em bronca; a cobrança esvazia propósito; a agenda infinita confunde presença com produtividade.
Líderes não são “plateia VIP”. Líder é quem monta tatame, não quem só cobra medalha. No dia a dia, isso se traduz em rituais muito concretos: acordos de descanso; feedback que cuida; metas que incluem o caminho (não só o número); espaço para dizer “não sei” e pedir ajuda. Sem isso, o discurso de alta performance vira autopunição com crachá.
Se o esporte nos ensina algo, é que ninguém chega ao pódio por acidente, nem sozinho. Há técnica, treino, estratégia e, principalmente, gente que acredita na gente. Para a nossa vida e para as organizações, a pergunta não é “como extrair o máximo das pessoas?”, mas “como devolver o máximo de condições para que elas entreguem o melhor?”.
Por fim, fica a imagem das cicatrizes e a frase do técnico: “A gente tinha tudo para desistir, mas não desistimos”. Que as lideranças, famílias e amigos que nos cercam sejam esse bastidor que sustenta e não esgota. Porque o ouro não brilha sem base; e a base, quase sempre, é feita de cuidado.