A humanização no SXSW 2024
Tema transversal no festival, as relações humanas estão em destaque em diversos conteúdos
Tema transversal no festival, as relações humanas estão em destaque em diversos conteúdos
11 de março de 2024 - 20h44
A palestra de abertura “Explore o espaço e a poesia com a Nasa”, comandada poeta norte-americana, Ada Limón, e Lori Glaze, diretora da Divisão de Ciência Planetária da agência, foi muito inspiradora, mostrando como a arte e a tecnologia podem conectar humanos num nível mais profundo. Ada recebeu uma encomenda muito especial da NASA: criar um poema que será enviado em uma missão para Júpiter. O projeto tem como objetivo ser uma tentativa de “contato” caso encontrem alguma forma de vida no planeta. Com este poema, a agência americana também quer impactar mais pessoas na Terra, atingindo um público além dos engenheiros da NASA. Essa parte da missão já foi cumprida!
Os robôs humanoides também estão bem presentes aqui em Austin. Os exemplos que mais me chamaram a atenção estão em uso no Japão, onde a população idosa está crescendo – assim como em vários países ao redor do mundo, enquanto os serviços de saúde especializados estão cada vez mais escassos. A robótica não só está inserida nos serviços de saúde global, como também já existem robôs com força o suficiente para levantar um idoso e ajudar com tarefas cotidianas como trocar de roupa, levantar-se da cama e se locomover. O próximo passo é utilizar a inteligência artificial para fazer com que as máquinas sejam capazes de reproduzir a empatia humana. Vimos um protótipo de robô que era capaz de abraçar e até manter uma conversa com um idoso!
Saúde mental em discussão
Outro assunto que aparece em diversas palestras é a saúde mental. Desconstruir os tabus sobre o tema e fazer com que as pessoas falem e entendam sobre os seus sentimentos é um desafio no mundo todo. Nas redes sociais, geralmente são publicados apenas os momentos positivos, passando uma imagem de vida perfeita. Isso faz com que parte da população não se sinta em segurança para ser vulnerável, reforçando questões difíceis como ansiedade e depressão. Precisamos entender que os vínculos entre saúde mental e desenvolvimento socioeconômico estão totalmente interligados.
A transformação de políticas e ações que ajudem na saúde mental da população pode trazer benefícios reais para comunidades e países. Investir para que esse cuidado seja essencial às pessoas é investir em uma vida e um futuro melhores. Muitas iniciativas do setor privado, além do apoio de celebridades, estão ajudando neste movimento, mas ainda temos um longo caminho pela frente.
Os ‘werables’, dispositivos eletrônicos que podem ser vestidos ou usados no corpo como roupas ou acessórios, também apareceram como soluções capazes de proporcionar cada vez mais inclusão e até mesmo salvar vidas, em uma população que está envelhecendo. Anéis com sensores fazem todas as funções que antes estavam ligadas a um assistente de voz. Movimentos com os braços ou um simples toque no anel, por exemplo, geram o comando para que as tarefas da casa sejam realizadas ou que uma mensagem de perigo chegue automaticamente em alguma central.
Uma outra conversa, sobre a importância de colocar pessoas no centro dos negócios, trouxe o trabalho do chef de cozinha José Andrés como um exemplo de empatia humana. Andrés é um profissional renomado, com restaurantes em vários países, e fundador da World Central Kitchen, que é ativado toda vez que um desastre natural ou uma guerra acontecem. A iniciativa tem o objetivo de identificar para onde levar comida até pessoas que precisam. Fundada em 2010, a WCK já esteve no Haiti, em cidades devastadas por furacões, atuou durante a pandemia do Covid-2019 e está presente em guerras como as da Ucrânia e na Faixa de Gaza. Andrés disse que, quando acontece uma tragédia, chefs do mundo inteiro oferecem ajuda, mobilizando equipes para cozinhar. Neste tempo todo de serviço, ele nunca recebeu um não quando pediu ajuda. É o poder da mobilização salvando vidas.
Ainda na trilha de relações humanas, Mike Bechtel, futurista de Deloitte, apresentou o conceito de que o futuro é humano. Quanto maior a empatia, maior o impacto positivo no futuro, pois a tecnologia é resultado de uma programação feita por nós.
Espero que a nossa geração – chamada por Amy Webb de “Geração de Transição, a Geração T” – passe por esse momento da história em posição de protagonismo e não paralisada diante do novo fenômeno descrito por ela como FUD (Fear, Uncertainty and Doubt – Medo, Incerteza e Dúvida). Nossa missão é continuar construindo este futuro, que precisa ser mais humanizado e faremos isso por meio da nossa criatividade, empatia e iniciativa.
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