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Artista, a IA não vai te substituir

Nessa revolução toda, existe um espaço que é só seu


9 de junho de 2025 - 6h00

Na edição londrina do SXSW, assim como em praticamente todas as conferências da indústria criativa de 2025, o assunto principal é a IA. Justo, afinal, todos estamos experimentando uma diversidade de sentimentos: curiosidade, empolgação, preocupação e incerteza. Mas se tem uma coisa que nós já sabemos é que a criatividade humana é algo que ela não tem capacidade de replicar.

Isso porque, entre tantos fatores, lhe falta o entendimento de contexto, emoções e experiências pessoais. Para que ela possa gerar uma música baseada em um prompt como “gere uma faixa de jazz com vocal feminino”, ela precisa ter referências do que é jazz e o que caracteriza um vocal feminino no gênero. Certamente ela vai buscar seus parâmetros em cantoras como Nina Simone, Ella Fitzgerald, Norah Jones e tantas outras. Ou seja, seres humanos precisam criar para que a IA possa gerar.

Mas vamos dar uma pausa nesse papo de IA e nos transportar ao Shoreditch Townhall, onde Will Page (Pivotal Economics), Stuart Worden (BRIT School) e Samira Ahmed (BBC) apresentaram no painel Has Britain Still Got Talent?, uma referência sarcástica ao reality Britain’s Got Talent, de Simon Cowell, que ganhou fama mundial com suas dezenas de versões ao redor do planeta.

A premissa apresentada brilhantemente por Will é simples. O Reino Unido, berço de artistas de alcance global como Adele, Rolling Stones, Coldplay, Beatles, Amy Winhouse, Queen e Oasis, não exporta um talento para o resto do mundo desde Dua Lipa, em 2017. Fato, contra números não há argumentos.

Existem algumas explicações possíveis para isso. Uma delas é que países de língua não-inglesa mudaram seu padrão de consumo: hoje, eles preferem ouvir principalmente sua música local, cantada na sua língua nativa. Um estudo feito pelo próprio Will Page foi capaz de provar essa mudança de comportamento em 10 países da Europa. A esse efeito se deu o nome de Glocalização, fenômeno que explico em mais detalhes aqui.

Glocalização e seus efeitos à parte, voltemos ao início do assunto. Quando confrontado com os dados acima, Stuart Worden, diretor da BRIT School há mais de 30 anos, disse que ele não vê os artistas muito preocupados com números, mas que estão se divertindo imensamente escrevendo e tocando música. É importante lembrar que a BRIT School é uma referência mundial de música, totalmente gratuita, para jovens de 14 a 19 anos. De lá saíram Adele, Amy Winehouse, Jessie J, Kate Nash, Tom Holland e, mais recentemente, as novatas e já fenomenais Raye e Lola Young, dona do hit Messy.

Não parece coincidência que os incríveis alunos da BRIT School não estejam lá assim tão preocupados com números enquanto trabalham em construir e desenvolver sua identidade e catálogo musical. O ensino gratuito e a filosofia da escola permitem que seu foco esteja na arte, na criatividade e sobretudo na sua humanidade. Em sua vulnerabilidade. No que nos faz ser quem somos. E isso se reflete no seu trabalho excepcional e em como ele consegue tocar pessoas de todo o mundo.

Colocar isso para fora em forma de arte dá trabalho, não é tarefa simples. Mas só nós, seres humanos, temos a capacidade de fazê-lo.

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