Como reverter a crise da confiança?

10 de março de 2024 - 12h04

Imagino que você esteja preocupado com o risco dos deepfakes para o próximo ano eleitoral? Veja, eu também estou. Contudo escutando Rohit Bhargava, fundador da Non Obvious, e diversos outros painelistas, me vi provocado a cavar um problema maior: existe a confiança em alguma coisa hoje?

Minha segunda passagem ao SXSW me comprova que saúde mental, ética, responsabilidade da informação e fortalecimento de comunidades se apresentam como pilares-chave. Nos últimos anos, esses assuntos evoluíram de uma pré-adolescência entusiasmada e impulsiva para uma maioridade mais ancorada, desta vez menos per se, e mais como fundamentadora das abordagens, um solo para a construção dos pensamentos do futuro.

Organizo três pilares que identifico nesses primeiros dias: Confiança nos outros, confiança nas marcas e instituições, e confiança em si mesmos. Adianto: não serão resolvidos com “kick-offs de Q2” ou consultorias pontuais. Se queremos atingir os GenZ e modelar o mercado da comunicação e marketing de influência para melhores direções, precisamos recalcular nossas rotas, em especial as de escuta e observação.

Em painel liderado por Kelsey Noonan e Emily Weinstein, descobri que adolescentes norte-americanos já criaram suas próprias estratégias de moderação de uso de tela, silenciamento de notificações personalizados, períodos específicos sem utilização de redes sociais (de semanas a meses/ano), para efeitos atenuantes em seus quadros de ansiedade, o que transcende as ações top-down dos pais e educadores em limitações simples de horas de tela. Metade destes adolescentes, inclusive, não se sente acolhida nas escolas. E calma que piora um pouco mais: o que um dia foi FOMO, hoje se apresenta como KOMO. Knowledge of Missing Out é ver pelas redes o abandono explícito dos seus amigos e colegas no dia a dia – escancarado em marcações e imagens em programas onde você não foi convidado.

Deve ser difícil ser um nativo digital, crescendo no entorno de tantos estímulos ansiogênicos. Se por vezes sinto um alívio em ser um millennial, por outras vezes me recordo da grandiosidade do desafio que é estarmos na faixa etária dos que lideram o mercado, olhando para os nossos erros e assumindo a responsabilidade de construirmos um futuro melhor para os que vêm, rumo a um Deep Real que nos reganhe a esperança. Assim espero.