18 de março de 2024 - 16h49
Não podemos falar de SXSW – a maior conferência de inovação e entretenimento do planeta – e deixar de fora a brilhante Sandy Carter, COO da Unstoppable e fundadora da Women of AI and Blockchain. Em sua palestra “Fusão entre mente e máquina: 7 tendências em um mundo pós-IA”, ela traz trechos e estudos abordados no livro que acaba de lançar, The Tiger and the Rabbit, e mostra como líderes, empreendedores e profissionais podem se adaptar a este novo mundo.
A primeira das tendências apresentadas foi um tema recorrente da SXSW deste ano: a rapidez com que as mudanças vêm ocorrendo, num ritmo jamais visto antes. Tecnologias antes avançadas, se tornam obsoletas em apenas cinco anos. E boa parte disso é motivada por outro movimento: a convergência de tecnologias. A grande “culpada” é a inteligência artificial, que tem o poder de se combinar com diferentes tecnologias – de análise de dados, GPS, sensores e outras inovações – para gerar mais valor para mercados inteiros, inclusive catalisando novas oportunidades, que atendem mais demandas de cada vez mais consumidores.
Por essa razão, outra das tendências de Sandy nos diz que precisamos ser multimodais. Ela traz o exemplo de modelos de linguagem que, há pouco mais de um ano, tinham apenas uma maneira de funcionar, com prompts de texto. De hoje em diante, modelos e aparelhos passarão a aceitar prompts em forma de imagem, voz, dados e vídeo. Isso expandirá a quantidade de dados disponíveis e apoiará líderes e empresas a tomarem decisões mais estratégicas.
Em sua palestra, ela trouxe um ponto bem interessante: em dez anos, o volume de dados será de mais de 6660 zetabytes em todo o mundo. Para contextualizar, isso equivale à quantidade de dados contida em 660 iPhones por pessoa no planeta. O que também se reflete na tendência dos gêmeos digitais, ou seja, objetos físicos ou pessoas, que são replicados virtualmente para a realização de testes, planejamentos e tarefas triviais. Viveremos basicamente em um universo paralelo e, pensando nisso, o próximo movimento atenderá um mundo que não será apenas o pós-IA, mas também o pós-pandemia. O que isso significa? Bom, o aumento dos AI companion, ou companheiros virtuais programados para manter conversas sobre diversos temas. Segundo ela, estudos apontam que 44% das pessoas que se sentem solidárias desde a covid, o que explica o aumento de seres e ambientes digitais, onde é possível interagir com robôs, IAs generativas e outras pessoas em ambientes imersivos amigáveis para ressignificar o sentimento de se estar ou se sentir só.
Outro ponto que foi destaque é o que aprendemos com o universo do Blockchain. Sandy nos conta que a tokenização vai aumentar cada vez mais e citou como exemplo uma nova iniciativa da Nasa, que está comercializando tokens de resíduos espaciais. A ideia é que alguém se responsabilize em jogar fora todo o lixo que está em órbita na Terra, além de se tornar dona de algo valioso, que veio do espaço.
Essas tendências nos levam à mais importante: quem souber lidar com os desafios gerados pela IA – como privacidade e proteção de dados, discriminação e vieses algorítmicos e dilemas éticos, entre outros –, vai sair na frente. Para ela, a saída está em reforçar tecnologias que garantam a autenticidade dos dados, dos fatos, das imagens e dos textos. Uma das principais conclusões de sua palestra é que devemos parar de resistir à transformação – que já aconteceu! – e abraçar as mudanças sem resistência.
Tudo isso me recordou da palestra do escritor e visionário Rohit Bhargava, que tem uma das sessões concorridas do evento, cujo tema foi “Os 4 elementos do pensamento não-óbvio”. Segundo ele, a maior tendência para o futuro continua sendo a imaginação humana e, em 2024, em vez de falar sobre as tendências não óbvias que impactam o mercado, ele falou sobre como estruturar um pensamento não óbvio. O ponto principal de sua apresentação foi tratar do mindset necessário para reconhecer os padrões “fora da caixa”, trazendo processos que ele mesmo usa para alimentar a sua criatividade.
O primeiro de todos é criar espaços para pensar. Parar de preencher o dia com atividades, fazer pausas e respirar. Segundo Bhargava, fica muito difícil ter novas ideias se você mal consegue processar o mundo de informações que recebe diariamente e, ainda mais, se você não tem tempo de observar o que está acontecendo ao seu redor. A imaginação vive de momentos de contemplação, meditação, conexões com outras pessoas e até se jogar na criação de cenários futuros.
Devemos também buscar insights por meio de nossa curiosidade. É o que ele chama de observação intencional, ou seja, direcionar a nossa atenção para temas e histórias que não nos sejam familiares. Estimular o interesse pelo estranho, pelo incomum e o encanto do inesperado. Essa prática ajuda a perceber sinais que apontam para mudanças a longo prazo. Mudar o foco e a perspectiva para enxergar o quadro geral, visando resultados e consequência potenciais.
Para finalizar, Bhargava destaca a importância da curadoria. Para não nos perdermos no ruído, precisamos selecionar itens que aumentem o significado, agreguem valor, tragam uma perspectiva única ou provoquem emoções e sentimentos que nos ajudem a desenvolver novos olhares. Ele nos mostra que, em meio a um mundo tão tecnológico e acelerado, centrado em um futuro no qual a inteligência artificial será peça-chave para o desenvolvimento, a mente humana segue única e inigualável.