A nova geração que transforma negócios antes dos 30

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A nova geração que transforma negócios antes dos 30

A juventude empreendedora mostra que a falta de experiência pode ser tanto uma fraqueza quanto uma fortaleza


22 de novembro de 2023 - 18h40

Engana-se quem pensa que para construir um negócio é preciso de grandes investimentos, conhecimento profundo sobre gestão e empreendedorismo ou uma carreira profissional sólida. Mulheres como Isabela Matte e Monique Evelle, por exemplo, começaram suas empresas ainda na adolescência, e hoje são referências de empreendedorismo, com múltiplas organizações em seus portfólios antes mesmo de completarem 30 anos.

Segundo pesquisa do Sebrae, jovens de até 24 anos representam 1,9 milhão dos empreendedores no Brasil. Já de acordo com o estudo o Monitor Global do Empreendedorismo, a mesma faixa etária triplicou de tamanho entre os empreendedores estabelecidos de 2021 para 2022, sendo o maior grupo entre os empreendedores iniciais, representando 21,8% do total.

Entre o público feminino, no Brasil existiam 10,3 milhões de mulheres empreendedoras no terceiro trimestre de 2022, segundo o levantamento do Sebrae. É o maior número desde 2016. Trazendo o recorte etário, de acordo com a pesquisa do Instituto Rede Mulher Empreendedora, em 2023, 19% das donas de negócios têm de 18 a 29 anos.

Cada interseccionalidade traz suas características e desafios para quem busca criar seu próprio negócio. Entre as mulheres jovens, a vontade de causar mudanças e de criar soluções de impacto positivo parece ser o grande motivador. “Para mim, empreender é uma forma de ser, uma perspectiva que se traduz em encontrar soluções para problemas em todas as áreas da vida”, afirma Isabela Matte, empresária e influenciadora digital.

Isabela Matte é empresária e influenciadora digital (Crédito: Divulgação)

Muitas delas, na verdade, começam sem ao menos saber a existência da palavra “empreendedorismo”. “Não tinha familiaridade com o termo, mas sempre soube que queria causar impacto no mundo e, ao mesmo tempo, prosperar financeiramente”, relata Monique Evelle, fundadora do laboratório de tecnologias sociais Desabafo Social e da Inventivos, plataforma de formação de empreendedores. Ela também é uma das “sharks” do programa Shark Tank Brasil.

Sua primeira empreitada no mundo dos negócios começou ainda no ensino médio, aos 16 anos, quando decidiu ampliar sua atuação para além do grêmio estudantil da escola. Assim fundou o Desabafo Social, um laboratório de tecnologias sociais aplicadas à geração de renda, comunicação e educação, em 2012, que perdurou por quase dez anos. Já em 2020, Monique decidiu que era hora de começar algo novo, e assim surgiu a Inventivos, uma plataforma de formação para novos empreendedores.

Hoje, Monique Evelle é um dos grandes nomes do empreendedorismo brasileiro. Antes dos 30 anos, ela se tornou investidora-anjo de diversas startups e a “shark” mais jovem da América Latina. Em seu mais recente projeto, Monique criou o podcast “Diário de uma investidora negra”, lançado no dia 20 de novembro deste ano, justamente para debater a complexidade e potências de ser quem ela é.

Monique Evelle é fundadora do Desabafo Social e da Inventivos, e uma das “sharks” do programa Shark Tank Brasil (Crédito: Divulgação)

Outra que começou a empreender ainda adolescente foi Isabela Matte, que criou um e-commerce de roupas aos 11 anos. Impulsionada pela falta de looks para a sua idade, ela levava suas ideias para a costureira, que confeccionava as peças sob medida. Logo, as amigas do colégio começaram a pedir roupas iguais às dela, e assim surgiu a loja que leva seu nome, existente até hoje.

“O empreendimento prosperou e atingiu a marca milionária antes mesmo de eu completar 14 anos”, conta a empresária, que hoje expandiu seus negócios para além do e-commerce. Em 2020, a jovem criou uma empresa de educação focada em empreendedorismo digital e criação de conteúdo, chamada Imatize.

O entendimento do significado de empreendedorismo para ambas veio junto com o reconhecimento externo. “Ao compartilhar minhas experiências, aceitar convites para falar em eventos de negócio e perceber a falta de representação nos espaços que frequentava, decidi me identificar como empresária e investidora”, relata Monique Evelle.

Inexperiência: dois lados da mesma moeda

Essas empreendedoras costumam trazer o frescor da juventude para o processo de criar um negócio. Elas são otimistas, sonhadoras, energéticas e até um pouco ingênuas devido à pouca experiência. “Como muitas pessoas de 20 anos, era muito otimista e achava que as coisas eram mais fáceis do que realmente eram”, afirma Nara Iachan, co-fundadora da Cuponeria, startup de cupons brasileira.

Quando Nara tinha apenas 21 anos, ela retornou da Argentina com uma ideia de negócio baseado na cultura de cupons e descontos. No início, o maior desafio foi disseminar esses hábitos no Brasil, motivo que causava muita descrença nas pessoas ao redor. Depois, a ausência de maturidade acrescentava camadas adicionais de dificuldades. “A falta de experiência trazia desafios tanto no sentido de conhecimentos quanto na dificuldade em lidar com as emoções. O otimismo foi dando lugar a uma visão mais realista da vida”, reflete Nara.

Nara Iachan, co-fundadora da Cuponeria, ao lado do sócio, Thiago Brandão (Crédito: Divulgação)

Do mesmo modo, Giulia Braide, co-fundadora da MESSS, agência de comunicação, publicidade e produtora, batalhou para ultrapassar a barreira da descrença e da descredibilidade que a pouca idade gerava. “Tive que me esforçar muito para conseguir furar algumas bolhas e mostrar que existia embasamento e resultado naquilo que eu estava ofertando”, relata

Apesar dos lados negativos da falta de experiência, de conhecimento técnico e maturidade, essas mesmas características também têm seus pontos positivos. “A inexperiência pode ser uma desvantagem, mas, ao mesmo tempo, essa ingenuidade pode levar a abordagens inovadoras, libertando a pessoa de seguir estritamente o que está nos livros”, pontua Isabela Matte.

A abertura ao novo e flexibilidade foram as características que fizeram o negócio de Carolina Kia prosperar durante a pandemia. Ela é co-fundadora da Weme, consultoria de design e tecnologia, e da Bud, solução de gestão ágil para empresas, da qual é CEO. Além disso, ela é MIT Innovators Under 35 de 2023.

Como muitos empreendedores que comandavam negócios presenciais, Carolina e seu sócios se viram obrigados a fazer a transição para o digital. “Quando a pandemia atingiu, tínhamos 34 projetos em andamento, e os clientes começaram a demonstrar preocupação, querendo pausar ou paralisá-los. Nossa mentalidade foi clara: não vamos parar, mas adaptar”, relata. Os líderes tiveram que redesenhar suas soluções e criar novas para o ambiente digital, o que resultou em grande sucesso e prosperidade para o negócio num momento delicado.

Carolina Kia, co-fundadora da Weme (Crédito: Divulgação)

Outro desafio comum a todos os empreendedores, e especialmente aos jovens, é a escassez de capital. “No começo, enfrentei a falta de recursos e de conhecimento sobre processos e burocracias”, destaca Giulia.

Hoje, existem diferentes modos de arrecadar fundos bem difundidos e conhecidos entre os jovens. “Além disso, com a conectividade digital, é possível começar com pouco, criando conteúdo sobre um tema de interesse e, posteriormente, transformando isso em negócio”, comenta Isabela. Essa facilidade, inclusive, pode ser uma ferramenta para expandir, testar e construir uma marca forte. É o tipo de investimento que não necessita de grandes recursos financeiros e ainda gera autoridade e credibilidade.

Giulia Braide é co-fundadora da MESSS, agência de comunicação, publicidade e produtora (Crédito: iago Zani/Divulgação)

Por fim, a ansiedade é outro obstáculo que muitos sofrem. “Tanto eu quanto muitos outros jovens empreendedores tendem a querer resultados imediatos, mesmo em projetos que ainda estão em construção”, destaca Monique Evelle. “É crucial compreender que alguns resultados demandam tempo e consistência, e a questão é se temos a paciência necessária para seguir adiante de forma contínua.”

Vivendo e aprendendo

Com a velocidade das transformações digitais e do fluxo de informações, perdemos a capacidade de desacelerar e contemplar o momento, e essa é uma reflexão importante para essas empreendedoras. “Quando estamos presentes, evitamos nos perder em pensamentos ou nas telas de dispositivos eletrônicos, permitindo uma maior consciência do que dizemos e respondemos, além de uma conexão mais profunda com as outras pessoas”, reflete Carolina Kia, que aplica as técnicas de mindfulness em sua liderança e até mesmo nos processos do design thinking.

A constante competitividade do mercado também pode dificultar donos de negócios de pedirem ajuda quando precisam. No caso de jovens empreendedores, por não terem pessoas próximas que passaram pelas mesmas dificuldades, esse passo é crucial para o desenvolvimento do negócio. Por isso, hoje, Monique e Isabela se dedicam a educar e apoiar novos empreendedores.

“Peça ajuda quando precisar. Busque orientação junto a empreendedores que enfrentaram situações semelhantes ou que estão mais avançados na jornada empresarial. A prosperidade nos negócios não acontece isoladamente, é uma conquista coletiva”, aconselha Evelle.

“O primeiro conselho que eu daria seria estudar. O estudo não precisa ser apenas formal, mas é crucial para compreender áreas como gestão e processos, que muitas vezes são negligenciadas pelo perfil empreendedor”, reforça Isabela.

As empresárias também destacam a importância dos testes. “Às vezes, queremos criar o aplicativo perfeito ou a melhor solução desde o início, mas a verdade é que precisamos testar para entender a demanda e a interação dos clientes”, afirma Monique. Nesse ponto, Kia complementa: “Quanto mais rápido erramos, mais rápido aprendemos e acertamos”, reforçando a importância de se apaixonar pelo problema, e não pela solução.

O caminho do empreendedor é repleto de percalços, ainda mais para mulheres, pessoas negras e jovens, que são constantemente criticados e desacreditados. Por isso, Nara Iachan aconselha as novas empreendedoras: “Não desanimem ao ouvir os primeiros estigmas que colocam nas mulheres líderes. É importante aprender a lidar com essa parte sem deixar de acreditar em si mesma e na própria capacidade”.

Como mulher, negra e jovem, Monique Evelle teve que aprender a não levar tudo para o lado pessoal. “Aprendi a relaxar, entendendo que as críticas, positivas ou negativas, nem sempre são sobre mim. Essa perspectiva é essencial para não paralisar diante de distrações e continuar em movimento em busca das respostas necessárias.”

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