Camila Costa: liderança feminina, diversidade e trabalho flexível

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Camila Costa: liderança feminina, diversidade e trabalho flexível

Entre os Estados Unidos e o Brasil, CEO e sócia da iD\TBWA há quase 10 anos preza por um modelo de trabalho que equilibra vida pessoal e profissional


13 de março de 2024 - 14h41

Camila Costa é CEO da iD\TBWA há quase 10 anos, quando as cadeiras da alta liderança das agências de publicidade eram menos ocupadas por mulheres do que hoje. Mesmo consciente da importância de ser uma das primeiras a ocupar (e manter) a posição, a executiva diz que tem buscado viver no presente, pois não faz ideia de como será o dia de amanhã. A única certeza dela, diz, é que a mudança é agora. Ao mesmo tempo, ela se prepara para o futuro, como líder, frente a um mercado de poucas pessoas mais maduras. 

“Essa é uma das bandeiras que precisamos levantar. Trazer pessoas com mais idade para o mercado e retê-las com suas experiências. A tecnologia acentuou esse problema, e é algo com que devemos trabalhar de maneira relevante”, defende. Em meio a inúmeras experiências imprevisíveis e, ao mesmo tempo, exatas que o mercado digital e tecnológico oferece, sua percepção realista não surpreende.  

Camila Costa é sócia e CEO da iD\TBWA (Crédito: Arthur Nobre)

Há mais de 20 anos, Camila, nascida em São Paulo, começou a carreira em Salvador, na agência offline Pejota Propaganda, o que, para ela, foi um divisor de águas para sua concepção de diversidade. “É uma cidade com muita riqueza cultural e uma dinâmica de praia e carnaval que me deu muitas referências. Tive a sorte de viver uma adolescência mais livre, ter contato com pessoas e culturas muito diferentes de onde vim”, conta a executiva, que aos 10 anos saiu da capital paulista com os pais, funcionários da Vale transferidos para a capital baiana. 

Foi depois de anos de trabalho como publicitária na Bahia que Camila se tornou uma profissional estratégica na indústria. Sobretudo após participar da ativação “Sempre ao Seu lado”, entre 2004 e 2006, uma carreta da marca Sempre Livre que levou educação de saúde feminina e bem-estar a mulheres de diferentes cidades do Nordeste. 

Frente a uma sucessão de conquistas depois do projeto, ela aceitou o desafio, com apenas 22 anos, de expandir a agência de ativação Karambola, da Morya, adquirida pelo Grupo ABC em 2011, para São Paulo, um mercado maior, mais complexo e competitivo. Ela lembra que a experiência garantiu aprendizados em liderança e negócios, e a posicionou como especialista no mercado do Nordeste na capital paulista. 

“Sou filha única, e acho que isso contribuiu para eu ter coragem de desbravar e ir atrás do novo na carreira. Como conhecia muito de Salvador e trabalhei lá, vários projetos de São Paulo que envolviam o mercado do Nordeste ficavam comigo, e acabei me tornando uma profissional com esse perfil por um tempo. Foi uma experiência que me abriu muitos caminhos profissionais.” 

Mas, como nem apenas do offline vive a publicidade, ao acompanhar o movimento da era do Orkut em 2006, Camila decidiu mergulhar de cabeça no digital, em uma oportunidade que encontrou na agência F.biz. Mesmo saindo de uma posição de gerência para a de assistente, a decisão para ela estava clara: precisava desenvolver experiências em plataformas digitais, tecnologia e mídia. 

Era o início, então, de uma jornada no mercado digital que mais tarde, há quase 10 anos, levaria Camila a assumir o posto de sócia e CEO da iD\TBWA, agência digital do grupo Omnicom, parte da rede TBWA, que já atua há 16 anos no mercado brasileiro. Hoje, a empresa tem 200 funcionários distribuídos em núcleos especializados, como a iDx, laboratório de inovação e design de experiência, e a Indie, sua produtora digital. A id atende clientes como Allianz, Audi, Claro Brasil, Embratel e Kibon. 

Propósito com as mulheres 

Eleita uma Women to Watch em 2021, Camila diz ter como objetivo desenvolver lideranças femininas e diversas. Para ela, ter a experiência dessas pessoas na mesa e tentar impulsionar carreiras a partir da sua própria experiência como mulher são elementos muito importantes. 

“Até o ano passado, víamos poucas lideranças femininas em agências, no marketing e nos clientes. Mas temos visto cada vez mais, o que é ótimo. Porém, o percentual ainda é muito baixo. Por isso, tenho um trabalho no dia a dia com as pessoas que lidero de me preocupar, puxar e cobrar, para que tenhamos cada vez mais mulheres líderes, e não apenas na base.” 

Além do trabalho constante na agência, a executiva também participa de programas de mentoria para mulheres na Omnicom no Brasil e em outros mercados da América Latina. Em paralelo, como investidora-anjo de startups, ela tem a preocupação de promover a liderança feminina nesses espaços.  

“Minhas escolhas passam por priorizar o investimento em startups lideradas por mulheres e mentorá-las. É um projeto meio pessoal, meio profissional, pois faço fora da agência. Mas acho que o principal é se colocar disponível para pessoas que me procuram e precisam. Tenho muita abertura, até porque, na minha jornada, não tive muitas referências, e acho importante que outras mulheres tenham.” 

Camila lembra que nunca imaginou chegar à posição de CEO, pois queria ter uma família e ser mãe, e esses desejos juntos pareciam se chocar. Para ela, que não tinha muitas referências, a dúvida persistiu por um bom tempo, até encontrar mulheres como Gal Barradas, então liderança da F.biz.  

“Tive a sorte de ter trabalhado com ela, que era mãe de gêmeos. Trocávamos sobre como seria possível viver no mercado em que vivemos, com demandas de pessoas, clientes e de casa. A Gal foi a primeira referência que tive de liderança feminina da indústria, e isso é muito importante. Não sabia se conseguiria, mas ela me mostrou que era possível. É isso que quero fazer na minha posição. Se minha história e minhas experiências puderem ajudar outras mulheres, estarei realizada. Por isso, estar disponível para elas é algo de que faço questão.” 

Maternidade, carreira e flexibilização 

Quando pensa sobre como conciliar a vida de mãe de dois filhos e de sócia e CEO, Camila é, novamente, realista. “Eu concilio porque não tenho outra opção, mas não dou conta de tudo. Nunca vamos dar. Então, acho que o importante é como encaramos esse desafio. Os filhos também aprendem nesse processo. Reservamos tempo de qualidade para eles, mas também temos outras responsabilidades. Há dias mais pesados no trabalho, e outros em que focamos na família. E, assim, vamos em frente.” 

Para a executiva, ser uma liderança que desenvolve a autonomia nas pessoas também é importante nesse sentido, tanto para elas quanto para a própria líder. “Não dá para acharmos que tudo depende da gente. Quando nos esforçamos para que as pessoas do nosso time sejam capazes de resolver problemas sozinhas, conseguimos levar nossos filhos ao médico em uma emergência sem deixar os pratos caírem. Dedicar nosso tempo às pessoas é importante para elas, mas para toda a equipe, que consegue equilibrar melhor vida pessoal e profissional.” 

Camila: “Tenho um trabalho no dia a dia com as pessoas que lidero em me preocupar, puxar e cobrar, para que tenhamos cada vez mais mulheres líderes, e não apenas na base” (Crédito: Arthur Nobre)

Outro ponto fora da curva que marca a liderança de Camila é a flexibilização do modelo de trabalho da iD\TBWA. Enquanto a maioria das agências de publicidade de grandes grupos trabalha mais presencialmente, a agência ainda é híbrida, com inclinação para o home office. São duas vezes por semana no regime presencial – uma para cada disciplina se encontrar, e outro dia dedicado a squads por cliente e os multidisciplinares. “Assim a integração entre as áreas acontece em prol de cada cliente. É uma dinâmica que tem funcionado muito bem desde 2022”, avalia.  

Mesmo com o modelo, algumas pessoas já trabalham 100% de maneira remota, e a agência tem quase 30% de funcionários que moram fora de São Paulo, onde fica o escritório da empresa.

A executiva vive a flexibilização na pele. Camila está morando nos Estados Unidos, em busca de um espaço para a iD\TBWA e para si mesma, ao lado de sua família. Por uma escolha familiar, ela passa uma semana por mês no Brasil, e três em solo norte-americano. 

Ela aproveita a mudança e a divisão do seu tempo entre os dois países para posicionar a iD\TBWA como uma agência que ajuda marcas brasileiras interessadas em estar no mercado dos EUA. Segundo ela, são muitas as companhias que desejam fazer esse movimento, o que é positivo para todos.

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