Diversidade e inclusão são compromissos de longo prazo
É preciso ir além das aparências e se comprometer em promover a inclusão de forma estruturada e contínua
Diversidade e inclusão são compromissos de longo prazo
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27 de novembro de 2024 - 14h49
Negros em novembro, mulheres em março, LGBTQIAPN+ em junho, saúde mental em setembro, câncer de mama em outubro… os meses que chamam atenção para determinadas minorias ou condições especiais são importantes para manter essas pautas em evidência, mas não podem se tornar uma ferramenta de propaganda para empresas que se dizem preocupadas com a diversidade, mas que não buscam realizar processos reais e profundos de inclusão.
O fato é que no mundo intensamente mediático em que vivemos, certas mensagens passam a fazer parte da comunicação das empresas porque é o que parece ser o mais politicamente correto. Afinal, o mercado tem essa expectativa de que a transformação pró-diversidade e inclusão esteja realmente acontecendo. Só que, infelizmente, nem sempre a mensagem que o departamento de marketing e comunicação veicula é o que acontece na dinâmica real das empresas.
Um exemplo claro e recente desse comportamento aconteceu no Rock in Rio, quando diversos influenciadores pretos receberam apenas convites de gramado em troca de fazer conteúdo para as marcas. Por que essas pessoas não estavam sendo contratadas com cachê?
O fato é que conforme diversidade e inclusão deixaram de ser pauta, passaram a correr o risco de virar algo de fachada. Estamos vivendo um momento em que é preciso ter cuidado para não cairmos nesse tipo de jogo de cena hipócrita e, mesmo sem querer, acabarmos compactuando com empresas que estão fazendo “washing” em diversidade e inclusão.
A atriz e apresentadora Taís Araújo é uma das vozes mais potentes do Brasil em assuntos como negritude, diversidade, inclusão, educação e cultura e, por ser consciente do seu impacto, se tornou extremamente cuidadosa quando se trata de aceitar contratos de publicidade. Recentemente ela disse em uma live para lideranças de uma grande multinacional que só aceitou falar para eles depois que soube que a política pró-diversidade era bem estruturada e que a empresa estava comprometida com a causa.
Esse tipo de cuidado de quem representa temas importantes se transformou em regra para grandes influenciadores ligados à negritude, como Maíra Azevedo (Tia Má), João Pedrosa, Camilla de Lucas, Douglas Silva (DG), Babu Santana, entre tantos outros. Eles se preocupam com a própria credibilidade e, também, esperam catalisar mudanças mais profundas tanto nas empresas alinhadas com as pautas que defendem como também nas que ainda não evoluíram em diversidade.
Por exemplo, se uma pessoa com influência e credibilidade se nega a fazer publicidade para uma marca que não leva a sério as causas que essa pessoa defende, qual será o efeito que essa negativa terá na mesa da diretoria? Será que isso vai fazer soar o alerta de que o board está perdendo o timing para fazer mudanças evolutivas? Ou vai deixar claro que diversidade “para inglês ver” não cola mais?
Além dos assuntos relacionados ao Dia da Consciência Negra, outro tema em alta em novembro é a Black Friday. Logo que o dia de descontos surgiu no Brasil, gerou muita desconfiança do consumidor e até uma certa má fama porque alguns “espertos” aumentavam preços às vésperas da Black Friday para dar descontos sem perder sua margem de lucro. Pois bem, o que vem acontecendo com a questão da inclusão é bem parecido. Há muitas empresas que vem anunciando uma diversidade racial que não existe na realidade. Algumas organizações até fazem alguns esforços pontuais de contratação, mas não seguem dando oportunidades de crescimento de carreira.
Tal como a Black Friday, a inclusão só funciona se for de verdade. Hoje os descontos são reais porque quem fez a sério mostrou para o consumidor as vantagens e isso forçou a concorrência a baixar os preços também. Acredito que em relação à contratação de pessoas pretas, um movimento semelhante vai se impor. Afinal, o que não se faz por convicção ou por conveniência, acaba sendo feito por constrangimento.
E aí é que entra a importância das lideranças femininas, especialmente as do setor de comunicação, marketing, publicidade e propaganda. Temos que ficar atentas e mostrar para as outras lideranças que a sociedade já entendeu que só falar não basta, é preciso fazer. E mais: colocar na mídia algo falso é um risco reputacional imenso.
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