Opinião

Mentoria é um esporte coletivo

Ter um grupo de mulheres em quem podemos confiar é como fazer parte de um time de elite e ter a certeza de que não estamos em campo sozinhas

Andrea Siqueira

Sócia e CCO da AMPFY 10 de outubro de 2025 - 16h29

(Crédito: Shutterstock)

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Em tempos de retrocesso nas políticas de diversidade ao redor do mundo, é essencial lembrar o poder transformador da mentoria, e como o apoio de outras mulheres pode mudar o rumo da carreira de uma jovem profissional. 

Foi com esse propósito que nasceu o Latinas do Bem (em inglês: Good Latinas For Good): um grupo de líderes Latinas, sem interesse financeiro, criado para empoderar a nova geração de jovens líderes.

A ideia surgiu de três amigas visionárias — Patricia Corsi, Renata Ferraiolo e Carla Eboli — movidas por um incômodo comum: éramos brasileiras, bem-sucedidas, falávamos ao menos três idiomas e, ainda assim, em muitas salas de reunião, nossas competências eram questionadas, como se nossa nacionalidade pesasse mais do que nossos diplomas, MBAs e experiências profissionais.

Ao pesquisar mais profundamente, nos deparamos com uma dura realidade: mulheres latinas ocupavam o último lugar nos rankings de salários. Foi então que decidimos agir. Criamos um programa de mentorias gratuitas para compartilhar conhecimento, abrir portas e oferecer horizontes melhores às jovens Latinas que estão entrando no mercado de trabalho. 

Em agosto de 2023, quando começamos, eu ainda morava em Chicago. Rapidamente, o movimento cresceu: já éramos 15 cofundadoras, espalhadas pela Europa, México, Brasil e Estados Unidos.

Em apenas dois anos, realizamos quatro turmas consecutivas de mentorias. O número de inscritas cresce a cada rodada. Hoje, já impactamos quase 500 mentoradas e contamos com 149 mentoras — todas líderes em suas áreas — distribuídas por três continentes.

Não é uma tarefa simples. No dia a dia corrido, cada uma de nós precisa ser intencional com o tempo, porque sabemos que mentoria exige muito mais do que algumas horas de dedicação.  

Ao longo do caminho, aperfeiçoamos nosso método com o apoio de grandes e generosos parceiros, como a Rocket Mentoring School e a Hyper Island. Em troca, fortalecemos a rede de apoio e ampliamos as oportunidades de networking para todas.

É difícil acreditar que, depois de tantos avanços na pauta da diversidade como motor de crescimento nos negócios, ainda vemos retrocessos. Estudos comprovam: empresas com diversidade em cargos de liderança têm 27% mais performance do que aquelas que não têm. Então, por que ainda precisamos insistir no óbvio?

A tenista americana Billie Jean King já disse que 94% das mulheres em posições de alta liderança foram atletas em algum momento da vida. O esporte ensina resiliência, perseverança e trabalho em equipe, exatamente o que a mentoria também proporciona. Na grande maioria das vezes não falta talento, falta o incentivo. E sem um bom planejamento, sem auto-conhecimento, muitos talentos se perdem.

Ter um grupo de mulheres em quem podemos confiar é como fazer parte de um time de elite. É ter a certeza de que não estamos em campo sozinhas.