Opinião

Democracia digital e IA para todos

Num país marcado pela desigualdade e pela vulnerabilidade digital, democratizar a IA é uma responsabilidade ética, social e econômica

Carmela Borst

Fundadora e CEO da SoulCode Academy 9 de outubro de 2025 - 14h15

(Crédito: Shutterstock)

(Crédito: Shutterstock)

Sou parte de uma geração de mulheres que desbravou espaços na tecnologia quando, muitas vezes, éramos minoria absoluta em reuniões, projetos e decisões estratégicas. Recentemente, fui reconhecida pelo IT Forum entre as 35 mulheres que representam a história da tecnologia no Brasil, uma honra que carrego não como conquista individual, mas como símbolo de uma trajetória coletiva de tantas que abriram caminho.

Essa experiência me dá clareza sobre um ponto essencial: não podemos repetir, no universo da inteligência artificial, as mesmas exclusões que marcaram o passado da tecnologia. Se não democratizarmos o acesso, corremos o risco de aprofundar desigualdades já existentes.

Os números confirmam a urgência. Segundo o Banco Mundial, o Brasil ocupa o último lugar da América Latina em competência digital, o que nos coloca em condição de vulnerabilidade séria. E quem mais sofre com essa exclusão? Justamente aqueles que poderiam transformar suas vidas com novas oportunidades, em especial, as mulheres.

Hoje, apenas 26% dos cargos em tecnologia no Brasil são ocupados por mulheres (Brasscom) e, globalmente, elas representam apenas 22% dos profissionais de IA (World Economic Forum).

Um movimento para mudar esse cenário

Foi com esse contexto em mente que decidi colocar minha energia e meu propósito em um novo capítulo: o Movimento Democracia Digital e IA para Todos, uma iniciativa liderada pelo Meio & Mensagem em parceria com a SoulCode, criada para transformar esse panorama.

Nos próximos três anos, dez empresas visionárias se unirão para capacitar gratuitamente 500 mil pessoas em mais de dez carreiras, utilizando a inteligência artificial como ferramenta de transformação real e competitiva.

O plano é claro: formar 50 mil profissionais já no primeiro ano, alcançar 200 mil no segundo e, até o terceiro, chegar ao marco de meio milhão de pessoas preparadas para o futuro do trabalho.

Essa iniciativa não é apenas um projeto de qualificação. É um ato de inclusão e cidadania digital, que coloca mulheres, pessoas negras, PcD, LGBTQIAPN+, profissionais 50+ e idosos no centro de uma revolução que, se não for coletiva, será injusta.

A urgência de incluir mais mulheres

Ao longo da minha trajetória, vi de perto o quanto a presença feminina na tecnologia é capaz de mudar narrativas e resultados. Porém, segundo a Unesco, apenas 35% dos estudantes nas áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) no mundo são mulheres. E se nada for feito, a revolução da IA repetirá esse padrão de exclusão.

O Movimento Democracia Digital e IA para Todos quer reescrever essa história, garantindo que mulheres empreendedoras, jovens e profissionais em transição de carreira não apenas acompanhem as transformações, mas também se tornem protagonistas delas.

Educação gratuita, diversidade e futuro

A proposta se concretiza em dois formatos complementares:

– Bootcamps online e ao vivo: práticos e intensivos, em áreas como análise de dados aplicada ao marketing e uso criativo da IA em conteúdos.

– Trilhas online: percursos de aprendizado contínuo, cobrindo desde crescimento orientado por dados até ética e compliance.

Essa combinação garante escala, diversidade e impacto real, formando uma geração de profissionais conscientes, estratégicos e competitivos.

Um chamado coletivo

O Movimento Democracia Digital e IA para Todos, liderado pelo Meio & Mensagem em parceria com a SoulCode, é mais do que um projeto: é uma convocação.

Num país marcado pela desigualdade e pela vulnerabilidade digital, democratizar a IA é uma responsabilidade ética, social e econômica. E, para mim, é também um legado: abrir caminhos para que as próximas gerações de mulheres e de talentos diversos não encontrem as mesmas barreiras que tantas de nós enfrentamos.