Opinião

Inovação, jeitinho brasileiro e sustentabilidade

Mudanças não nascem apenas em laboratórios de alta tecnologia, mas também da observação atenta, da adaptação e da engenhosidade

Helen Pedroso

Diretora de Responsabilidade Corporativa e Direitos Humanos do Grupo L’Oréal no Brasil 30 de setembro de 2025 - 10h26

(Crédito: Shutterstock)

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Acredito que algumas ideias nos marcam porque se conectam diretamente à nossa realidade. Foi exatamente o que aconteceu quando, em um curso na Universidade de Cambridge, que fiz no início do ano por meio do programa L’Oréal Sustainability Leadership Learning Expedition, tive a oportunidade de assistir a uma palestra que nunca saiu da minha memória.

O professor Jaideep Prabhu, referência mundial em inovação e negócios internacionais, falava sobre resiliência em contextos complexos. E comentou sobre a relevância do “jeitinho brasileiro” como objeto de estudo. Não no sentido pejorativo, mas como expressão de uma característica singular: a criatividade que emerge em contextos adversos, a capacidade de encontrar soluções mesmo diante de recursos escassos — aquilo que no Brasil também chamamos de “gambiarra”. 

Essa visão ressignificada do “jeitinho” toca em um ponto essencial: inovação não nasce apenas em laboratórios de alta tecnologia, mas também da observação atenta, da adaptação e da engenhosidade. Para um país diverso e desafiador como o Brasil, essa é uma competência coletiva inestimável. 

Hoje, olhando para os desafios globais da sustentabilidade, percebo o quanto essa capacidade criativa é central. Afinal, não construiremos um futuro sustentável sem inovação. A urgência climática, a escassez de recursos naturais e a necessidade de novos modelos de negócio demandam mais do que boas intenções: exigem reinvenção contínua. 

No mundo corporativo, essa transformação também se reflete no papel dos líderes de sustentabilidade. Como costumo dizer, os CSOs (chief sustainability officers) estão se tornando chief sense maker officers. Somos chamados a traduzir a complexidade externa — crises ambientais, demandas sociais, pressões regulatórias — em estratégias claras, acionáveis e de impacto real para os negócios. 

Essa evolução exige maturidade e mudança de mentalidade. Sustentabilidade não pode ser encarada como um departamento isolado. Ela precisa ser uma visão de futuro, transversal e estratégica. 

Na L’Oréal, estamos convencidos de que inovação é o motor dessa transição. É por isso que lançamos o Acelerador de Inovação Sustentável, um programa global de €100 milhões ao longo de cinco anos, em parceria com o Instituto de Liderança em Sustentabilidade de Cambridge (CISL). Nosso objetivo é identificar, testar e escalar soluções disruptivas que nos ajudem a cumprir nossas metas de sustentabilidade para 2030 e, ao mesmo tempo, gerar impacto positivo em toda a indústria da beleza. 

Buscamos startups promissoras no mundo inteiro, oferecemos aceleração personalizada, estruturamos pilotos e apoiamos a expansão de soluções comprovadas. Essa jornada conecta ciência, empreendedorismo e colaboração global. Mas, acima de tudo, conecta com aquela lição que ouvi em Cambridge: a inovação que transforma não depende apenas de recursos abundantes, mas da capacidade de enxergar caminhos onde outros só veem obstáculos. 

Nesse sentido, acredito que o Brasil tem muito a ensinar ao mundo. Nossa história de criatividade em meio às dificuldades é, na verdade, uma escola de inovação sustentável. Quando aplicamos essa energia coletiva a desafios globais, da transição energética à redução de plásticos fósseis, criamos soluções que não só funcionam aqui, mas que podem inspirar e beneficiar o mundo inteiro.